Erdogan promete abrir embaixada turca em Jerusalém Oriental
17 de dezembro de 2017
Depois de obter apoio de países islâmicos para palestinos, presidente turco desafia frontalmente intenções diplomáticas de Trump. Conselho de Segurança da ONU poderá barrar mudanças unilaterais no status de Jerusalém.
Anúncio
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, declarou neste domingo (17/12) que seu país planeja abrir uma embaixada em Jerusalém Oriental, como capital de um futuro Estado palestino, depois de os Estados Unidos terem reconhecido a cidade como capital do Estado de Israel.
"Já declaramos Jerusalém Oriental capital do Estado palestino, mas não conseguimos abrir a nossa embaixada, porque Jerusalém está atualmente ocupada. Mas, se Deus quiser, vamos abrir nossa embaixada lá", assegurou Erdogan, num evento de seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).
Na última quarta-feira, numa cúpula em Istambul, os 57 países da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) acordaram em reconhecer Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestino, convidando o resto do mundo a fazer o mesmo.
Egito apela na ONU contra decisão de Trump
O governo turco conservador islâmico está entre as vozes mais críticas ante o anúncio, feito em 6 de dezembro pelo presidente norte-americano, Donald Trump, de que reconheceria Jerusalém como capital de Israel e transferiria para lá a embaixada dos EUA no país, atualmente situada em Telavive. Erdogan acusa Washington de violar acordos internacionais e de incendiar todo o Oriente Médio com a decisão.
No entanto, segundo notícia divulgada neste sábado, o Conselho de Segurança das Nações Unidas estaria considerando votar um esboço de resolução, apresentado há alguns dias, declarando ilegais e anulando quaisquer mudanças unilaterais no status de Jerusalém.
Sem citar especificamente os EUA, o texto proposto pelo Egito representa um significativo rechaço, pela comunidade internacional, da decisão de Trump de transferir a embaixada americana para a Cidade Santa. A resolução poderá ser votada já nesta segunda-feira.
Israel ocupa Jerusalém Oriental desde 1967, e em 1980 anexou essa zona e proclamou a cidade sua capital indivisa. A comunidade internacional nunca reconheceu Jerusalém como capital israelense, nem a anexação de sua parte oriental.
Os países com representação diplomática em Israel mantêm as embaixadas em Telavive, em conformidade com as resoluções das Nações Unidas de que o status de Jerusalém terá de ser definido no âmbito de negociações israelo-palestinas. Os palestinos aspiram fazer de Jerusalém Oriental a capital de seu futuro Estado.
AV/lusa,afp,rtr
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Jerusalém, a história de um pomo da discórdia
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.