1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Erdogan se irrita com caricatura sua no "Charlie Hebdo"

28 de outubro de 2020

Jornal satírico francês publica charge satirizando presidente turco, em meio a tensões entre França e países muçulmanos. Erdogan fala em "ataque abominável", e governo turco anuncia medidas judiciais e diplomáticas.

Recep Tayyip Erdogan discursa em Ancara
"A hostilidade ao islã e aos muçulmanos e o desrespeito ao profeta se espalham como câncer", declarou ErdoganFoto: AP Photo/picture-alliance

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, criticou nesta quarta-feira (28/10) uma caricatura dele publicada pelo jornal satírico francês Charlie Hebdo, qualificando-a de "ataque abominável" cometido por "pessoas desonradas".

O Charlie Hebdo divulgou na terça-feira à noite nas redes sociais a primeira página do seu número mais recente, que traz uma charge do presidente turco.

A imagem suscitou a ira do governo turco, que anunciou que responderá com medidas judiciais e diplomáticas. A procuradoria de Ancara anunciou pouco depois a abertura de um inquérito por "insulto ao chefe de Estado".

Sob o título "Erdogan - Em privado ele é muito divertido", vê-se o presidente turco sentado num sofá, apenas de camiseta e cueca e com uma lata de bebida na mão, enquanto levanta a saia de uma mulher com véu, que não usa roupa de baixo, e exclama: "Ah! O profeta!"

"Infelizmente, estamos passando por um período em que a hostilidade ao islã e aos muçulmanos e o desrespeito ao profeta, especialmente entre os governantes da Europa, se espalham como câncer", declarou Erdogan durante uma reunião do seu partido em Ancara.

O contexto é de tensão entre a Turquia e a França, dois países-membros da Otan. Na segunda-feira, Erdogan apelou aos seus cidadãos para boicotarem os produtos franceses, dias depois de a França ter convocado seu embaixador em Ancara após o presidente turco ter questionado a "saúde mental" do presidente Emmanuel Macron.

Reações no mundo islâmico

As reações no mundo islâmico contra a França e o seu presidente, que incluem manifestações de protesto e apelos ao boicote de produtos franceses, surgiram depois de Macron ter declarado apoio à liberdade de caricaturar o profeta Maomé, durante uma homenagem ao professor francês decapitado por um extremista islâmico por ter mostrado em sala de aula caricaturas do Charlie Hebdo que retratam o profeta.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, afirmou que insultar Maomé é imoral e encoraja a violência. "O Ocidente deveria entender que insultar o profeta equivale a insultar todos os muçulmanos, todos os profetas, todos os valores humanos e atropelar a ética", observou.

No Egito, o presidente Abdel Fattah al-Sissi afirmou que a liberdade de expressão acaba no momento em que se insulta 1,5 bilhão de pessoas. "Insultar os profetas é subestimar os valores religiosos em que muitos acreditam. E os que não acreditam é problema deles", disse.

No Paquistão, o primeiro-ministro Imran Khan acusou a Europa de atacar e ridicularizar o islã, numa carta dirigida a outros mandatários muçulmanos.

"Enfrentamos uma crescente preocupação na nossa comunidade muçulmana global perante o aumento da onda de islamofobia e os ataques através da ridicularização do nosso amado profeta no mundo ocidental, especialmente na Europa", afirmou.

Em Bangladesh, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra Macron.

A publicação de caricaturas do profeta Maomé esteve na origem do atentado ao Charlie Hebdo em 2015, que causou 12 mortos.

AS/lusa/afp/ots

Pular a seção Mais sobre este assunto