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Mudanças climáticas

1 de fevereiro de 2010

Pesquisador Adil Najam admite que erro de previsão do IPCC compromete credibilidade do órgão, mas garante que falhas não foram intencionais.

Derretimento de geleiras do Himalaia não será tão rápido quanto anunciadoFoto: picture-alliance / dpa

“Não acredito que em qualquer outro lugar do mundo haja um processo tão sistemático, fundamental, e transparente.” A frase de Yvo de Boer, chefe do Fórum das Nações Unidas sobre Florestas (UNFF), teve repercussão na última cúpula internacional do clima, realizada em Copenhague em dezembro passado. Na ocasião, Boer tentava dispersar a desconfiança surgida após a divulgação de previsões climáticas equivocadas.

Uma delas era sobre a velocidade do derretimento das geleiras no Himalaia. Segundo o último relatório do IPCC, Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, até 2035 elas desapareceriam, comprometendo até meados do século o abastecimento de água em toda a região. O chefe do IPCC, Rajendra Pachauri, se desculpou pela falha, alertando contudo que isso não coloca em questão a ameaça trazida pelas mudanças climáticas.

Adil Najam, renomado pesquisador da Universidade de Boston, colaborou para o relatório do IPCC e ajudou Al Gore no documentário Uma Verdade Inconveniente, que rendeu a este o Nobel da Paz em 2007. O cientista nascido no Paquistão se mostrou contente com o fato de o Himalaia não estar derretendo tão rápido como previsto anteriormente e insiste que o erro do relatório não foi intencional.

Adil Najam em visita à Deutsche WeleFoto: DW

“É uma falha péssima, que não coloca em cheque apenas a mudança climática, mas também a credibilidade da ciência, o que ainda é pior. Os cientistas e o IPCC precisam ser cautelosos e evitar erros como esse, considerando que a pesquisa climática já passou a ser divulgada na primeira página dos jornais. Mas também precisamos aceitar que erros acontecem e que uma ou duas falhas não podem descreditar os dados já existentes.”

Para Adil Najam, não há dúvida de que o clima do planeta esteja mudando em decorrência das emissões de gás carbônico. E o fato de a discussão científica dominar as manchetes desvia a atenção do ponto crucial, que é a adoção de medidas políticas urgentes.

“A notícia ruim é que não conseguimos o acordo necessário sobre o nível de emissões. Não houve qualquer sinal político enérgico, nem dos países desenvolvidos nem dos em desenvolvimento”, lamentou Najam. Os próximos encontros internacionais a abordarem a questão climática estão marcados ainda para esse ano: em junho, em Bonn, na Alemanha, e em dezembro no México.

No entanto, o cientista considera perigoso questionar o papel das Nações Unidas como fórum de negociações. “Muitos perderam a confiança nos procedimentos da ONU e também na participação de todos o países em um acordo global. Acho desastroso tudo isso, algo que precisamos combater em Bonn. Trata-se de um problema global, um problema de todo o planeta; não se pode excluir ninguém. Achar que dois, três, cinco ou dez dos países mais importantes possam resolver a questão trará ainda mais problemas no futuro.”

Adil Najam ressalta o papel estratégico da ONU e aponta que, apesar do resultado decepcionante da conferência de Copenhague, houve alguns avanços. “Em Copenhague, os países reconheceram pela primeira vez que as mudanças climáticas terão consequências desastrosas e que custarão mais aos pobres, não apenas aos países mais pobres, mas às pessoas mais pobres. Isso já está acontecendo no Haiti, por exemplo.”

Nesse sentido, Najam lembrou que "um dos gestos mais contundentes em Copenhague foi o Brasil ter declarado que não queria dinheiro e sim uma política adequada".

Reduzir emissões não bastaFoto: picture-alliance/ dpa

Para o cientista paquistanês, a eterna discussão sobre nível de emissões teria que evoluir para uma política concreta de desenvolvimento sustentável com medidas de adaptação. Para tanto, seria necessária uma maior integração entre meio ambiente, clima e desenvolvimento.

"Se quisermos resolver o problema e promover um desenvolvimento sustentável, a política de ajuda ao desenvolvimento não basta. O que está em jogo é a economia como um todo. O UNDP tem que começar a pensar como uma organização para o clima, e também o Banco Mundial. Ou seja, o clima é uma coisa mais ampla, algo de que uma única organização não dá conta”, concluiu.

Autora: Andrea Lueg/Nádia Pontes

Revisão: Simone Lopes

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