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520 dias de isolamento

3 de junho de 2010

Seis voluntários da Rússia, China, Itália e França ficarão isolados por 520 dias. Experiência inédita é organizada pela Agência Espacial Europeia e instituto russo.

Os seis voluntários diante do módulo em que ficarão por 520 diasFoto: AP

A Agência Espacial Europeia (ESA) iniciou – nesta quinta-feira (3/6), em Moscou – uma simulação inédita para descobrir os efeitos de uma viagem espacial sobre a psique humana.

Seis pessoas, de Rússia, China, Itália e França, ficarão isoladas em uma réplica de cápsula espacial durante 520 dias, o tempo de duração de uma viagem de ida e volta ao planeta vermelho.

No projeto denominado Mars500, a ESA e o Instituto russo de Biomedicina pretendem apurar até que ponto o trabalho e a monotonia em um compartimento minúsculo podem causar estresse, depressão ou tensões entre os tripulantes.

Nos próximos 520 dias, os seis "astronautas" poderão se locomover apenas em cinco módulos, com uma superfície total de 180 metros quadrados, instalado nas proximidades da capital russa.

Imitação de paisagem marciana

À sua volta, foi construída a réplica de um módulo de aterrissagem e uma paisagem semelhante à marciana, para experiências no exterior. Uma viagem real demoraria 250 dias, a permanência no planeta seria de um mês e para o retorno seriam gastos 240 dias.

Contêiner fica no Instituto russo de BiomedicinaFoto: picture alliance/dpa

Até sua volta, em 5 de novembro de 2011, os voluntários, que têm entre 26 e 38 anos de idade, não verão familiares, nem a luz do dia. O projeto prevê a realização de mais de 100 experiências.

Os "astronautas" viverão de maneira totalmente autárquica, quase sempre vigiados por câmeras, satélites e sensores. Apenas em casos graves está prevista a intervenção dos observadores, como, por exemplo, se um participante manifestar ideias de suicídio.

E como fica o sexo? "Será resolvido da mesma forma como nos presídios", disse o psicólogo do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), Bernd Johannes, insinuando a masturbação. No contêiner onde ficarão, há apenas uma sala de três metros quadrados onde os voluntários não estarão sob observação.

Para que a experiência se desenvolva da maneira mais realista possível, poderão passar-se até 20 minutos para que uma mensagem da tripulação chegue ao "centro de controle". Este é o tempo que demora uma mensagem enviada à velocidade da luz entre Marte e a Terra, cuja distância é 200 vezes maior do que entre nosso planeta e a Lua.

Quatro toneladas de alimentos a bordo

Regularmente, os astronautas entregarão amostras de sangue e urina. Também o esperma será analisado antes e depois do experimento.

'Astronautas' simularão passeios em solo marcianoFoto: AP

O médico alemão Jens Titze é responsável pelas quatro toneladas de alimentos no módulo experimental. Durante vários meses, ele desenvolveu com sua equipe um cardápio levando em consideração as diferentes origens dos participantes do projeto.Titze pretende descobrir o efeito do sal na pressão arterial.

A permanência no espaço implica vários riscos à saúde física e psíquica. Desde os primeiros dias sob gravidade zero, os astronautas sofrem de tonturas e desorientação. São frequentes os casos de náuseas, insônia e transpiração. Depois de duas semanas, os ossos começam a perder cálcio, principalmente nas pernas.

Além disso, depois de muito tempo no espaço, os astronautas começam a perder massa muscular. Também o pulso cardíaco diminui, o volume de sangue e a produção de glóbulos vermelhos diminuem, podendo causar anemia, e o sistema imunológico se debilita.

Consequências físicas e psíquicas

A Agência Espacial Europeia investiga também as consequências psíquicas de um isolamento prolongado. Em muitos astronautas foram observadas mudanças de personalidade e, em alguns casos, ataques nervosos e depressão.

Contêiner dispõe de quartos espartanosFoto: ESA

Na órbita terrestre, a radiação cósmica é aproximadamente cem vezes maior do que na Terra. A dose de radiação recebida por uma pessoa que fica dois dias em órbita equivale ao tempo de exposição durante um ano na Terra. Em uma viagem a Marte, e portanto fora da proteção do campo magnético da Terra, tal carga seria muito maior.

De acordo com estudos realizados pelo Centro Aeroespacial Alemão, o risco de câncer, especialmente de intestino, aumenta à medida que se amplia a estada no espaço. Além de tudo, a radiação espacial provoca o envelhecimento prematuro.

O projeto, que custa aproximadamente 10 milhões de euros, tem o apoio da DLR, que participa com 500 mil euros, e da ESA, com 1,5 milhão de euros. No ano passado, a ESA e o instituto russo já haviam realizado uma experiência de isolamento semelhante, que durou 105 dias e que teve a participação do oficial militar alemão Oliver Knickel.

RW/afp/dpa

Revisão: Simone Lopes

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