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Abuso na Igreja

4 de abril de 2010

Bispos alemães se pronunciam sobre a responsabilidade da Igreja diante das denúncias de abuso sexual em instituições católicas. Vaticano defende Bento 16 contra acusações de negligência.

Bento 16 não menciona abuso contra crianças em sua mensagem de PáscoaFoto: picture alliance/dpa

Na Alemanha, bispos luteranos e católicos reiteraram durante a Páscoa o repúdio aos casos de abuso de menores praticado dentro de instituições católicas ao longo de décadas e que, recentemente, chegaram ao conhecimento público.

As mensagens de inúmeros sacerdotes durante as missas neste domingo (04/04) fizeram menções diretas ao escândalo que abala a Igreja católica na Alemanha e em outros países europeus.

Os apelos dos bispos cristãos revelam posturas diversas em relação ao papel da Igreja diante do fato que pode ameaçar sua credibilidade. Enquanto uns encaram a revelação dos crimes cometidos dentro de instituições católicas como uma chance para a Igreja repensar suas estruturas, outros tendem a destacar a culpa individual nos casos de abuso, eximindo a Igreja de uma responsabilidade coletiva.

Esperança de ressurreição da Igreja

O presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, Robert Zollitsch, considera a atual crise um recomeço. "Os crimes execráveis, as faces obscuras da Igreja e também a escuridão dentro das pessoas têm que ser observados de perto", apelou o arcebispo de Freiburg em sua mensagem de Páscoa. Zollitsch também estimulou os católicos a se engajarem em sua crença, apesar do impacto dos escândalos.

Um "crime odioso" é como o bispo católico de Rottenburg-Stuttgart, Gebhard Fürst, qualificou o abuso sexual de menores por parte de padres e membros das ordens religiosas. Para ele, a denúncia desses crimes deveria servir de impulso para todos "ressuscitarem para uma vida íntegra e para a salvação de almas feridas".

Para além da mera mensagem moral cristã, a advertência do encarregado católico para casos de abuso, Stephan Ackermann, bispo de Trier, não deixa de ter um senso pragmático. Ele fez um apelo para que a compreensão do significado da Páscoa motive as pessoas a agir. Essa ação teria como pressupostos "o respeito ao mistério da vida e à dignidade dos outros, sobretudo a dos mais fracos".

Para o arcebispo da Baviera, Johannes Friedrich, o mais chocante é o fato de que as vítimas eram crianças e de que o abuso ocorreu dentro de instituições da Igreja. "Esses atos terríveis têm um peso ainda maior por terem ocorrido dentro da Igreja. Afinal, as pessoas têm razão de esperar que a Igreja respeite as crianças como criaturas amadas por Deus e faça tudo para proteger sua vida." Friedrich assegurou que se empenhará pelo esclarecimentos das denúncias na sua arquidiocese.

Já o arcebispo de Munique, Reinhard Marx, atribui o problema à falta de responsabilidade individual, exigindo uma renovação das igrejas e da sociedade. Para ele, os recentes escândalos na economia, na sociedade e na Igreja se devem à irresponsabilidade de muitas pessoas isoladas. "Uma sociedade democrática livre só terá futuro se cada um assumir sua responsabilidade", declarou Marx.

Por um julgamento penal regular

O presidente do Conselho da Igreja Luterana na Alemanha, Nikolaus Schneider, advertiu que o interesse das vítimas deve prevalecer. Ele fez um apelo para que a Igreja não descarte as denúncias como inofensivas e ajude as vítimas. Schneider também considera importante facilitar os meios para que as pessoas que sofreram abuso sejam motivadas a contar sua experiência e aceitem ajuda terapêutica.

Quanto aos religiosos culpados por abusos, o líder luterano aconselha um processo penal regular. A Igreja não pode se dar ao luxo de assumir sozinha o esclarecimento dos casos; para tal, seria necessário um julgamento normal pela Justiça do país, com base no qual a Igreja poderia então que aplicar suas próprias medidas disciplinares. Schneider rejeita um direito penal eclesiástico paralelo à Justiça.

Em suas críticas, o religioso luterano ressaltou que não se trata de um antagonismo com os católicos. Para ele, a Igreja luterana e a católica representam uma comunidade cristã única. Afinal, o impacto do escândalo de abusos sobre a opinião pública mostra que não se costuma distinguir entre as duas grandes Igrejas cristãs alemãs, declarou ele.

Católicos irlandeses na mira dos protestantes

Ao contrário do que tende a acontecer na Alemanha no momento, escândalos semelhantes na Irlanda e no Reino Unido já chegaram a gerar contenda entre católicos e protestantes. Durante a Páscoa, o líder da Igreja anglicana britânica criticou os católicos com palavras drásticas.

Numa entrevista à emissora britânica BBC, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, declarara que a Igreja católica na Irlanda perdera "toda a credibilidade" por causa dos escândalos de abuso. Posteriormente, Williams retirou a acusação e declarou "seu profundo arrependimento pelas dificuldades que causou" devido à sua posição.

Na Irlanda, onde inúmeras denúncias de abuso sexual de menores dentro de instituições católicas vieram a público nas últimas semanas, os sacerdotes aproveitaram a Páscoa para condenar veementemente esses crimes.

Ao longo da data, o Vaticano também refutou a acusação de que o papa Bento 16 tenha protelado por anos a punição de Michael Teta, um padre pedófilo de Tucson, no estado norte-americano do Arizona.

De acordo com relatos da mídia nos Estados Unidos, quando Joseph Ratzinger era responsável pela respectiva congregação, adiou durante anos o processo em questão, apesar dos pedidos do bispo de Tucson.

Segundo o Vaticano, a demora entre a sentença de primeira instância e a condenação de Michel Teta em processo eclesiástico ocorreu porque a Igreja estava reformulando sua regulamentação jurídica naquela época.

Além disso, Ratzinger teria transferido a responsabilidade do caso para a congregação local em 2001, explicou o Vaticano, informando que, apesar de Teta ter perdido o título religioso somente em 2004, ele já havia sido suspenso de suas atividades em 1990.

Em sua mensagem de Páscoa, o papa Bento 16 conclamou os católicos a uma renovação espiritual e moral, sem ter mencionado contudo o escândalo de abusos sexuais e a violência contra menores.

O jornal do Vaticano Osservatore Romano acusou a mídia internacional de difundir uma "propaganda grosseira contra o papa e os católicos". Para arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, por exemplo, as acusações de negligência contra as autoridades eclesiásticas nos casos de abuso sexual dentro da Igreja não passam de uma "ofensiva para desestabilizar o papa".

SL/afp/dpa/epd/kna
Revisão: Nádia Pontes

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