Influente revista alemã diz que denunciará criminalmente ex-funcionário. Além de falsificar dezenas de reportagens, jornalista teria embolsado doações em dinheiro destinadas a crianças de rua na Turquia.
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A influente revista alemã Der Spiegel afirmou neste domingo (23/12) que vai denunciar na polícia seu ex-repórter Claas Relotius, após a revelação de que o jornalista, de 33 anos, não só falsificou dezenas de reportagens, mas também embolsou doações em dinheiro destinadas a crianças orfãs.
Um dos repórteres mais premiados da publicação, Claas pediu demissão do veículo após admitir ter ao longo de vários anos falsificado reportagens e inventado personagens em textos que produziu. Ele ganhou vários prêmios e era reconhecido por suas reportagens investigativas.
A Spiegel disse ter recebido informações de leitores de que Relotius teria iniciado uma campanha, divulgando, através de seu e-mail pessoal, sua conta bancária pessoal e pedindo doações para ajudar crianças órfãs na Turquia.
O escândalo das reportagens falsificadas foi revelado pela própria Spiegel na quarta-feira, após uma investigação interna.
Relotius falsificou histórias e inventou protagonistas em ao menos 14 de quase 60 reportagens publicadas na revista ou no site Spiegel Online. "Esta é talvez a pior crise editorial na Spiegel", afirmou o novo editor-chefe, Steffen Klusmann.
A publicação alertou ainda que outros veículos podem ter sido afetados pelas fraudes. Relotius escreveu para alguns dos maiores jornais do país, como Die Welt, Frankfurter Allgemeine Zeitung e Tageszeitung, ao longo de 11 anos de carreira.
Relotius escrevia para a Spiegel há sete anos, inicialmente como autônomo, tendo sido contratado há um ano e meio, tornando-se, assim, funcionário da publicação.
As falsificações de Relotius começaram a vir à tona após o jornalista Juan Moreno, colega dele na Spiegel, desconfiar da veracidade de detalhes de uma apuração, ao escreverem um artigo a quatro mãos. Moreno rastreou supostas fontes citadas por Relotius na reportagem e descobriu que diversas informações haviam sido inventadas.
A revista acompanha a República Federal da Alemanha desde a criação do país. Seu jornalismo investigativo, apontando para escândalos e maracutaias na política e na sociedade, conquistou respeito também fora da Alemanha.
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A primeira edição
Ao ser lançada, em 4 de janeiro de 1947, a revista "Der Spiegel" custava 1 Reichsmark. Na capa, o austríaco Friedrich Kleinwächter, que negociava em Washington a soberania política e econômica da Áustria no pós-Guerra.
Foto: Der Spiegel
O editor
O fundador e editor da revista "Der Spiegel", Rudolf Augstein, foi o jornalista mais influente da Alemanha: derrubou políticos e impulsionou a liberdade da imprensa como ninguém. Aos 23 anos, fundou o semanário "Der Spiegel", do qual foi redator-chefe durante décadas e editor até a morte. Impôs à publicação desde o início um rumo definido ("somos um órgão liberal de esquerda").
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Lema: Não se intimidar
Em 1962, Augstein e sua publicação foram pivôs de uma grande crise na então ainda jovem República Federal da Alemanha. Depois de publicar um artigo crítico sobre a política de defesa do país e a Otan, ele sofreu pressão do então ministro alemão da Defesa, Franz-Josef Strauss. Mas a revista resistiu, e o ministro acabou caindo.
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Sob pressão
O escândalo durou semanas. Vários jornalistas, inclusive Augstein, foram presos sob a acusação de traição à pátria. A Promotoria Pública ocupou as redações por várias semanas. Augstein ficaria na prisão por mais de cem dias. Ao fim, a democracia saiu fortalecida no Estado que se constituíra 13 anos antes. E a Alemanha ganhou um novo conceito de liberdade de imprensa.
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Nos tempos da RAF
Em 1977, a Alemanha enfrentou uma de suas piores crises. Membros da organização terrorista Fração do Exército Vermelho (RAF, da sigla em alemão) sequestraram o então presidente da Confederação das Associações de Empregadores da Alemanha, Hans-Martin Schleyer, que é morto após algumas semanas. A revista mancheteia: "Guerra de assassinos contra o Estado".
Foto: Der Spiegel
A aura do poder
Do ponto de vista político, Augstein tinha uma orientação social-democrata. Ele manteve uma estreita relação com o futuro chanceler federal Willy Brandt (à direita), que conhecera em 1948. Em trocas regulares de correspondência, eles manifestavam seus pontos de vista. Na foto, um encontro em 1972.
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Modernidade em laranja
Não só de redações vive uma revista. Legendária é a cantina, concebida pelo arquiteto dinamarquês Verner Panton em 1969. Sob o ponto de vista estético, ela foi algo revolucionário, pois representou a chegada da modernidade. Hoje, 80 metros quadrados da cantina decorada com elementos em cor laranja fazem parte de um museu em Hamburgo.
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Crescimento
Com o passar do tempo, a "Der Spiegel" se tornou a principal e mais vendida revista na Alemanha. O êxito se reflete na nova sede da revista, que após 40 anos se mudou para um prédio novo (centro) no bairro HafenCity de Hamburgo. Hoje em dia, assim como outros veículos de comunicação impressos, a "Der Spiegel" luta contra a perda de leitores para a internet.
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Manchetes e ilustrações da capa
As fotos de capa e reportagens de capa do semanário costumam se destacar por beleza, ousadia ou provocação. Como nesta capa, durante a guerra em Kosovo: "Guerra contra os assassinatos".
Foto: Der Spiegel
A raiva dos outros
Os repórteres investigativos da revista estão entre os melhores. O legado de Augstein, editor até morrer, em 2002, é o jornalismo mordaz. Isso se reflete também nos xingamentos e críticas à revista, como espelha a capa da edição de aniversário, com frases dos últimos cinco chefes de governo alemães. Em destaque, "Dieses Scheissblatt" (Este jornal de merda), de Willy Brandt.