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Escândalo põe ministra em atrito com Exército alemão

4 de maio de 2017

À frente do Ministério da Defesa, Ursula von der Leyen enfrenta enxurrada de críticas após caso de tenente preso sob suspeita de planejar ataque terrorista de extrema direita.

Ursula von der Leyen visita quartel de brigada franco-alemã que Franco A. integrava até ser preso
Ursula von der Leyen visita quartel de brigada franco-alemã que Franco A. integrava até ser presoFoto: Getty Images/AFP/F. Florin

A prisão de um militar da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha) suspeito de planejar um ataque terrorista de extrema direita, na semana passada, elevou a pressão sobre a ministra alemã da Defesa, Ursula von der Leyen, que já era alvo de críticas após denúncias de uma série de abusos sexuais cometidos dentro da instituição.

Von der Leyen reagiu ao escândalo tecendo duras críticas à corporação. Em entrevista à emissora ZDF no domingo passado (30/04), ela afirmou que a Bundeswehr "tem um problema de postura. E tem claramente falhas de liderança em diversos níveis." Além disso, há uma "falsa compreensão de espírito de corpo", o que resulta na tentativa de encobrir casos e de fechar os olhos para problemas.

As declarações foram mal recebidas pelos militares. "Ninguém entende por que, depois de três anos e meio no cargo, a ministra faz uma condenação generalizada da tropa", afirmou o chefe da associação de militares, André Wüstner, ao site Tagesschau.de. Ele cobrou transparência da ministra e disse que ela deveria esclarecer suas declarações.

Von der Leyen reagiu às críticas. Nesta quarta-feira, ela cancelou uma viagem aos Estados Unidos e se deslocou até a cidade francesa de Illkirch, perto da fronteira com a Alemanha, para visitar o quartel onde o tenente de 28 anos, identificado como Franco A., estava até ser preso, uma brigada franco-alemã.

"Devemos evitar generalizações", afirmou a ministra perante militares, num claro sinal de que estava tentando aparar arestas. "A grande maioria dos soldados merece apoio e respeito", acrescentou. Segundo ela, uma pequena minoria "prejudica a boa imagem das Forças Armadas".

Caso foi negligenciado

Ao mesmo tempo, ela afirmou que o caso de Franco A. deve ser esclarecido. "Precisamos de uma investigação franca e aberta, também em relação a outros incidentes nas últimas semanas nos quais pessoas foram alvos de intimidações ou difamações, o quenão vamos tolerar sob quaisquer circunstâncias", afirmou Von der Leyen. A ministra disse que não descarta exonerações.

"Onde podem ter acontecido casos que deveriam ter sido denunciados, mas não foram porque o sistema em si não funciona?", questionou a ministra. O tenente já havia chamado a atenção de seus superiores por expressar opiniões de extrema direita numa dissertação acadêmica de 2014, escrita durante o processo de sua formação como oficial, pelo que recebeu apenas uma advertência.

Von der Leyen disse que os superiores de Franco A. erraram ao minimizar as preocupações iniciais com a conduta do tenente, uma vez que a tese escrita por ele continha observações de natureza "claramente racista e de extrema direita". Ela deverá se reunir nesta quinta-feira com o alto comando da Bundeswehr para discutir o caso de Franco A., além das investigações sobre denúncias de supostos abusos sexuais cometidos durante anos dentro das Forças Armadas alemãs.

No quartel, Von der Leyen também conheceu um espaço de recreação informalmente conhecido como bunker entre os soldados. No local há desenhos na parede que fazem referência à Wehrmacht, as Forças Armadas dos nazistas. "A Bundeswehr não tem nada que ver com a Wehrmacht e não pertence à tradição dela", afirmou a ministra.

Em meio às críticas, o porta-voz da chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse que Von der Leyen possui total apoio da chefe de governo. Já o principal concorrente de Merkel nas próximas eleições legislativas, o social-democrata Martin Schulz, disse que ministra deve assumir a responsabilidade sobre o caso. "Acho que em situações como essa a responsabilidade política não deve ser despejada sobre os militares", afirmou.

Possível rede terrorista

O caso de Franco A. é apenas um entre 280 suspeitas de envolvimento de militares com o extremismo de direita sob investigação por parte da inteligência da Bundeswehr. Dezoito militares já foram expulsos das Forças Armadas. "Mesmo que fosse só um caso, já seria demais", afirmou um porta-voz.

O tenente já havia chamado a atenção das autoridades em fevereiro, ao ser preso após esconder uma pistola no banheiro do aeroporto de Viena, na Áustria. As autoridades austríacas alertaram as alemãs, e as impressões digitais do suspeito revelaram que ele se registrou e viveu vários meses como refugiado sírio. Investigadores trabalham com a hipótese de que ele teria planejado um ataque terrorista para, possivelmente, colocar a culpa em refugiados. Uma lista de alvos já teria sido localizada.

O chefe do Estado-Maior da Bundeswehr, general Volker Wieker, afirmou em entrevista à emissora pública ARD que não se sabe ainda se Franco A. seria integrante de uma rede terrorista. Relatos na imprensa alemã informam que as autoridades investigam um grupo de cinco pessoas, supostamente associadas ao tenente. Wieker explicou que a investigação sobre o caso é liderada pelas autoridades e promotores públicos federais, com a colaboração dos militares. Ele participará da reunião desta quinta-feira com Von der Leyen, que contará com a presença de mais de cem generais e almirantes.

O general iniciou este ano uma série de reformas estruturais na Bundeswehr após o escândalo dos abusos sexuais envolvendo um centro de treinamento das forças de operações especiais alemãs no sul do país. Von der Leyen exonerou no mês passado um general encarregado das investigações por não conseguir avançar no caso.

RC/AS/ap/rtr/lusa/dpa/afp

 

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