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ConflitosIsrael

Escola da ONU que abriga civis é bombardeada em Gaza

4 de novembro de 2023

Prédio no norte do enclave aloja 16 mil palestinos, diz porta-voz. Estima-se que até 400 mil continuem na região, que foi isolada do sul por tanques. Israel volta a falar em evacuação e anuncia corredor para o sábado.

Uma criança cercada de adultos cobre o rosto com as mãos em Gaza
Civis palestinos têm se refugiado do conflito em hospitais e escolas, mas essas estruturas também foram alvo de bombardeiosFoto: Anas al-Shareef/REUTERS

Uma escola administrada pelas Nações Unidas (ONU) no norte da Faixa de Gaza e que servia de abrigo para civis foi bombardeada neste sábado (04/11) em um ataque atribuído por palestinos às Forças de Defesa de Israel (IDF). 

Um representante do Ministério da Saúde de Gaza, território controlado pelo grupo radical islâmico Hamas, alega que o ataque matou ao menos 15 pessoas e deixou outras dezenas de feridos – o número ainda não foi confirmado pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA). Representante do órgão, Juliette Toume disse à agência de notícias Reuters haver crianças entre as vítimas.

"Ao menos um ataque atingiu o pátio da escola onde havia tendas para famílias desabrigadas. Outro ataque atingiu uma área dentro da escola onde mulheres assavam pão", relatou Toume. Segundo ela, há 16 mil civis abrigados no edifício.

A escola Al-Fakhoura fica em Jabalia, maior assentamento de refugiados no enclave palestino e que desde a semana anterior foi atingido por diversos outros bombardeios que teriam matado, ainda segundo as autoridades em Gaza, ao menos 195 pessoas.

A URNWA afirma que mais de 50 instalações que mantém no território palestino, às quais civis tem acorrido em busca de refúgio, foram "impactadas" pelo conflito – cinco delas diretamente bombardeadas, com 38 mortos –, e que por isso não tem condições de mantê-los seguros.

É o 29º dia de conflito, deflagrado quando integrantes do Hamas invadiram Israel, massacrando cerca de 1.400 pessoas, a maioria civis, e sequestrando mais de 200. Desde então, Gaza está sob bombardeio intenso, e sua população civil sofre enquanto o Hamas – acusado de usar inocentes como escudo humano ao passo que se mantém entrincheirado debaixo de uma extensa rede de túneis – continua a lançar foguetes na direção de Israel, que enfrentou ataques vindos ainda da Síria e do Líbano.

Entidades de ajuda humanitária afirmam que a situação no enclave palestino é "catastrófica", e que a assistência a civis está muito aquém das necessidades. 

O governo israelense, por outro lado, alega que o auxílio a civis tem sido desviado para o Hamas.

Também o sul da Faixa de Gaza tem sido alvo de bombardeios, o último deles também neste sábado, em Khan Younis. 

Entre 350 mil e 400 mil civis estão no norte de Gaza, e Israel volta a falar em evacuação

A IDF apelou no passado a civis para que deixassem o norte de Gaza – que concentra a maior parte dos bombardeios e agora está cercada por tropas terrestres –, sugerindo até mesmo a evacuação de hospitais ali – medida tida como inviável por profissionais da saúde atuando na região. 

Entre 350 mil e 400 mil pessoas continuam no norte de Gaza, enquanto algo entre 800 mil e 1 milhão de pessoas teriam se deslocado para o sul, segundo o enviado especial do governo americano para assuntos humanitários no Oriente Médio, David Satterfield.

A inteligência isralense alega que o Hamas tem sabotado esforços de evacuação, enquanto alguns moradores ignoram os apelos alegando não ter nenhum lugar seguro para se abrigar.

No lado palestino, o saldo de vítimas teria ultrapassado os 9 mil, segundo autoridades em Gaza – não é possível verificar esses números.

Os militares israelenses afirmam que permitirão a saída de civis do norte em direção ao sul pela estrada principal do território palestino, a Salah al-Din, na tarde do próximo sábado, dentro de uma janela de três horas.

À Reuters, alguns moradores disseram temer a travessia.

Bombardeio atrapalha liberação de reféns, alega Catar, e Israel rebate: pausa apenas mediante soltura

O Catar, país que tem intermediado conversas entre o Hamas e o governo de Israel para a soltura de reféns, alega que os esforços estão sendo prejudicados pelo bombardeio contínuo de Gaza.

Em meio à pressão internacional pela moderação do conflito, o governo americano mantém apoio militar e político a Israel, ao mesmo tempo em que tem instado o país a evitar mortes de civis e adotar medidas para atenuar acrise humanitária no enclave palestino.

A situação no território gerido pelo Hamas há 16 anos já era precária antes da eclosão do conflito, mas piorou ainda mais: falta comida e água potável, serviços de saúde estão colapsando sob o excesso de feridos e a ausência de insumos.

Crianças caminham sobre escombros após bombardeio ao campo de refugiados em Jabalia, no norte da Faixa de GazaFoto: Bashar Thaleb/AFP

O Hamas aposta no prolongamento do conflito às custas da população civil como estratégia para forçar Israel a aceitar um cessar-fogo e libertar presos palestinos em troca dos reféns levados em 7 de outubro, segundo fontes da organização ouvidas pela Reuters.

Israel, contudo, rejeita a ideia. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reforçou essa posição na sexta-feira.

Secretário de Estado americano, Antony Blinken apoiou Netanyahu neste sábado, dizendo que um cessar-fogo serviria apenas ao Hamas, e que tanto a Casa Branca quanto países árabes concordam que Gaza não pode continuar a ser controlada pelo grupo. Na ocasião, o secretário defendeu avanços para implantar a solução de dois Estados na região.

"Um cessar-fogo apenas manteria o Hamas no poder, permitindo que se reagrupem e repitam o que fizeram em 7 de outubro", afirmou Blinken, reiterando, contudo, o apoio americano a "pausas humanitárias" que permitam um fluxo de ajuda humanitária e a retirada de civis do território. 

Também no sábado, falando a membros do partido dos Verdes, o vice-chanceler alemão Robert Habeck defendeu que o Hamas "precisa ser destruído porque [o grupo] está destruindo o processo de paz no Oriente Médio".

Na ocasião, Blinken defendeu avanços para implantar a solução de dois Estados na região e reiterou o apoio americano a que permitam um fluxo de assitência a civis. 

Os Estados Unidos, assim como países da União Europeia, classificam o Hamas como organização terrorista.

ra (Reuters, dpa, AP, ots)