Escrever texto com ChatGPT faz mal ao cérebro, sugere estudo
20 de junho de 2025
Pesquisa americana mostra que quem usa excessivamente a inteligência artificial arrisca não saber mais reproduzir ou explicar argumentos. Para especialistas, resultados do levantamento causam preocupação.
Disseminado no Brasil, uso de inteligência artificial na rotina de estudos preocupa especialistas por possíveis danos à criatividade e ao aprendizadoFoto: Valerie Vrel/PHOTOPQR/VOIX DU NORD/MAXPPP/picture alliance
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Usar ferramentas de inteligência artificial (IA) como o ChatGPT para escrever textos pode provocar custos cognitivos nos usuários e diminuir a capacidade de aprendizado. Esta foi a revelação de um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que investigou o potencial impacto de modelos de linguagem de larga escala na educação.
Segundo os pesquisadores, os usuários destas ferramentas tendem a apresentar desempenho consistentemente inferior nos níveis neural, linguístico e comportamental.
"Esses resultados levantam preocupações sobre as implicações educacionais de longo prazo da dependência dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs, na sigla em inglês) e ressaltam a necessidade de uma investigação mais profunda sobre o papel da IA no aprendizado", afirmou o estudo publicado neste mês. Os pesquisadores argumentam que mais conhecimento sobre os seus impactos é necessário diante do avanço rápido da IA pelo mundo.
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Neurônios menos ativos
O estudo contou com 54 participantes, que foram divididos em três grupos de 18 pessoas para produzir redações: usuários do modelo GPT-4o da OpenAI, que funciona no aplicativo ChatGPT, usuários do Google como mecanismo de busca e autores recorrendo apenas ao próprio cérebro, sem auxílio de nenhuma ferramenta externa. Os recrutados incluíram estudantes, cientistas e engenheiros de cinco universidades da região de Boston.
Ao longo de quatro meses, cada participante participou de três sessões de escrita, com todos recebendo as mesmas tarefas. Para cada sessão, os participantes deveriam escolher uma dentre três opções de tema, incluindo assuntos que falam a experiências individuais ou de conhecimento geral, como felicidade, coragem, entusiasmo, arte ou filantropia.
Por meio de encefalogramas, os pesquisadores mediram o seu engajamento e carga cognitivos durante as sessões — ou seja, quanto cada um estava efetivamente envolvido com a tarefa e qual era o esforço mental para processar as informações necessárias para completá-la. No final, 18 dos participantes ainda integraram uma quarta sessão, na qual foram trocados de grupo.
Como verificar a autoria de um texto em tempos de IA
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Os exames revelaram "diferenças significativas na conectividade do cérebro", escreveram os pesquisadores, com reduções sistemáticas de acordo com a quantidade de ajuda externa utilizada pelos autores das redações.
Os participantes que não recorreram a nenhuma ferramenta externa apresentaram o funcionamento cerebral mais forte e bem distribuído. Já os usuários de mecanismos de busca tiveram engajamento moderado, e aqueles que usaram ferramentas de IA demonstraram menor conectividade, sugerindo menos esforço e engajamento.
"Questão urgente" para aprendizado
Os autores dos textos foram também entrevistados após cada sessão e tiveram suas produções avaliadas por professores e por uma ferramenta de IA criada especificamente para o estudo.
Para os participantes que escreveram com ajuda de IA, foi menor a capacidade de responder a perguntas simples sobre o próprio trabalho, mesmo poucos minutos após a sua finalização. Dentre eles, 83% não conseguiram recitar uma frase do próprio texto de cabeça, contra 11% no grupo que só usou ajuda do Google.
Além disso, nenhum dos autores que tiveram ajuda de IA soube corretamente reproduzir corretamente os pontos principais da redação. Já no grupo que usou o Google, apenas três pessoas não conseguiram. Dentre os participantes que não usaram ferramenta nenhuma, o número caiu para dois participantes.
"Embora os LLMs ofereçam conveniência imediata, nossas descobertas destacam possíveis custos cognitivos", avaliam os oito cientistas que assinam a pesquisa. "Demonstramos a questão urgente de uma provável redução nas habilidades de aprendizagem."
Outros estudos já indicaram que ferramentas como o ChatGPT reduzem o esforço cognitivo imediato para os usuários, mas podem também diminuir a capacidade de pensamento crítico e a criatividade. Para os pesquisadores do MIT, o fenômeno levanta preocupações para contextos educacionais, onde é fundamental desenvolver capacidades cognitivas robustas.
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Uso exacerbado no Brasil
Já uma pesquisa do ano passado realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), em parceria com a Educa Insights, revelou que sete a cada dez estudantes universitários ou que consideram entrar para a graduação usam a IA para estudar.
De 300 entrevistados ouvidos entre 2023 e 2024 ao redor do Brasil, 42% disse usar ferramentas de IA semanalmente e 29%, diariamente.
Deepfake: usando a IA para descobrir a verdade
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O que torna a nova tecnologia atraente para os estudantes é, sobretudo, a possibilidade de aprender a qualquer momento e em qualquer lugar, o acesso a conteúdo atualizado e diverso e a capacidade de resolver problemas ou dúvidas de maneira mais rápida e eficiente, de acordo com o estudo.
Mais de 40% dos participantes também reconhecem, entretanto, o risco de dependência excessiva de tecnologias que podem ficar obsoletas rapidamente e de que a IA produza erros.
Orientações para sala de aula
Diante do desafio, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) publicou no ano passado um guia para uso de IA generativa no ensino e pesquisa, a fim de que o seu uso seja "orientado a proteger a agência humana e a beneficiar genuinamente os estudantes, os aprendizes e os pesquisadores".
Na prática, as recomendações incluem adotar medidas que possam manter a motivação dos alunos para crescer e aprender. Por exemplo, evitar o uso de IA em detrimento da observação do mundo real, discussões em grupos, a realização de experimentos ou exercícios de raciocínio lógico.
Além disso, os especialistas afirmam que é importante garantir interação social e exposição à criatividade humana, para evitar que os estudantes se tornem viciados ou dependentes da IA.
"A IA não deve usurpar a inteligência humana. Pelo contrário, ela nos convida a reconsiderar as nossas compreensões estabelecidas sobre o conhecimento e a aprendizagem humana," disse Stefania Giannini, Diretora-Geral Adjunta de Educação da Unesco.
O documento enfatizou, ainda, a necessidade de instituições educacionais validarem, inclusive recorrendo a especialistas, os sistemas usados em sala de aula quanto à sua educação ética e pedagógica. Aos governos ao redor do mundo, por sua vez, cabe criar regulações, segundo a agência da ONU.
Esses vídeos são reais ou gerados por IA?
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ht (Agência Brasil, ots)
O mês de junho em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Em ação sem maiores danos, Irã responde a EUA com mísseis no Catar
Em resposta ao bombardeio dos EUA a instalações nucleares, o Irã disparou mísseis contra uma base militar americana no Catar. A ação – "fraca", nas palavras de Donald Trump, que teria sido avisado com antecedência – não deixou feridos. Segundo o Catar, os mísseis foram interceptados. (23/06)
Foto: Stringer/Anadolu/picture alliance
EUA entram na guerra no Irã e atacam instalações nucleares
Nove dias após início da campanha militar israelense, o presidente Donald Trump anuncia que aviões dos EUA "obliteraram" três instalações nucleares iranianas e ameaça Teerã com mais ataques se regime não aceitar imposição de um acordo. Um dos alvos foi o complexo subterrâneo de Fordo (foto). Ataques foram confirmados pelo Irã, mas a extensão dos danos ainda é desconhecida. (22/06)
EUA enviam bombardeiros, e tensão no Oriente Médio escala
Apontados como os únicos capazes de bombardear alvos subterrâneos de difícil acesso no Irã, aviões americanos B-2 foram enviados a Guam, uma ilha no Pacífico. Embora motivo do deslocamento não estivesse claro, ele ocorreu num momento em que o presidente americano Donald Trump avaliava a possibilidade de interferir diretamente na guerra entre Israel e Irã. (21/06)
Foto: Matrixpictures/picture alliance
Parlamento britânico aprova legalização do suicídio assistido
A câmara baixa do Parlamento do Reino Unido aprovou um projeto de lei que permite a adultos com doenças terminais encerrarem voluntariamente suas vidas. A votação representa um passo rumo à legalização do suicídio assistido, sendo considerada uma das mudanças mais significativas na política social britânica em décadas. O procedimento já é legal em países como Espanha e Áustria. (20/06)
A escalada militar entre Israel e Irã se agravou no sétimo dia do conflito, quando um míssel iraniano provocou danos ao principal hospital do sul de Israel e ataques aéreos israelenses atingiram uma importante instalação nuclear iraniana. O centro médico Soroka, na cidade de Bersebá, foi atingido por um míssil balístico, deixando vários feridos. (19/06)
Foto: Tsafrir Abayov/Anadolu /picture alliance
Milhares protestam na Argentina contra prisão de Cristina Kirchner
Apoiadores da ex-presidente da Argentina saíram às ruas em defesa da líder peronista, que começou a cumprir seis anos de prisão domiciliar por corrupção. Os manifestantes se concentraram em frente à casa do governo argentino e se espalharam pelas ruas vizinhas. Em discurso, Kirchner prometeu "voltar com sabedoria", apesar de não poder mais se candidatar a cargos públicos. (18/06).
Foto: Gustavo Garello/AP Photo/picture alliance
PF indicia Carlos Bolsonaro e Ramagem por "Abin paralela"
A PF concluiu a investigação sobre esquema de espionagem ilegal de celulares na Abin e indiciou mais de 30 pessoas, incluindo o ex-diretor da agência Alexandre Ramagem e o vereador Carlos Bolsonaro. A investigação mira servidores e políticos que teriam monitorado telefones e computadores de desafetos de Jair Bolsonaro durante seu governo. Ele é acusado de se beneficiar do esquema (17/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Agência para refugiados da ONU demitirá 3,5 mil funcionários
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) anunciou que cortará 3,5 mil empregos – quase um terço de seus custos com a força de trabalho – devido à escassez de recursos, e reduzirá a escala de sua ajuda em todo o mundo após uma queda no financiamento à ajuda humanitária, principalmente dos recursos vindos dos EUA sob Donald Trump. (16/06)
Foto: Florian Gaertner/IMAGO
Milhares protestam nos EUA contra Trump
Uma multidão tomou as ruas de 2 mil cidades americanas em oposição à gestão de Donald Trump, acusado de autoritário pelos manifestantes. O envio de forças federais para reprimir protestos em Los Angeles na última semana e a convocação de um desfile militar que acontece neste sábado em Washington também pautaram as críticas nos atos apelidados de "No Kings" (Sem Reis). (14/04)
Foto: Yuki Iwamura/AP/dpa/picture alliance
Israel e Irã trocam agressões em escalada militar
Israel lançou um ataque contra instalações nucleares do Irã, matando 78 pessoas, incluindo três dos chefes militares do país e dezenas de civis. A ofensiva desencadeou uma troca de agressões sem precendentes entre os países. Em retaliação, a República Islâmica disparou dezenas de mísseis contra Tel Aviv e Jerusalém, furando o Domo de Ferro israelense e ferindo 34 pessoas. (13/06)
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Queda de avião na Índia deixa mais de 200 mortos
Um avião da Air India com 242 pessoas a bordo caiu em uma área residencial logo após decolar perto do aeroporto de Ahmedabad, no oeste da Índia. Apenas um dos passageiros a bordo sobreviveu. A polícia indiana contabiliza ainda outras 24 vítimas que estavam no solo e morreram no momento do acidente. A causa do acidente está sendo investigada (12/06)
Foto: Ajit Solanki/AP Photo/picture alliance
Ajuda humanitária em Gaza na mira de militares israelenses
Pelo menos 21 palestinos morreram enquanto se dirigiam a locais de distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Entidades denunciam, além da violência, quantidade insuficiente de alimentos, após meses de bloqueio à entrada de itens básicos por Israel. O exército israelense alegou que disparou "tiros de advertência". O número de palestinos mortos em 20 meses de guerra já supera 55 mil. (11/06)
Foto: Saeed Jaras/Middle East Images/AFP/Getty Images
Réu no STF, Bolsonaro é interrogado em processo da trama golpista
Ao longo de dois dias, ex-presidente e outros sete ex-auxiliares acusados de integrar "núcleo crucial" da trama golpista depuseram na Primeira Turma. Político negou ter discutido planos de golpe após perder a eleição e disse que só debateu medidas constitucionais com militares, mas que não editou "minuta do golpe". (10/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Israel detém barco que levava Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila
A Marinha de Israel interceptou um barco que tentava levar ajuda humanitária a Gaza. O veleiro Madleen, da iniciativa internacional Flotilha da Liberdade, levava 12 ativistas a bordo. Eles foram escoltados até um porto e, segundo o governo israelense, serão deportados. (09/06)
Trump chama militares para reprimir protestos na Califórnia contra prisão de imigrantes
O presidente americano Donald Trump enviou militares da Guarda Nacional a Los Angeles para conter protestos que eclodiram na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares. A medida não tem apoio do governo do estado da Califórnia, que acusou Trump de tentar provocar uma crise. (08/06)
Foto: Frederic J. Brown/AFP
Rússia amplia ataques contra 2ª maior cidade da Ucrânia
A Rússia executou diversos ataques no centro de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, deixando cinco civis mortos e mais de 61 feridos, incluindo um bebê e uma adolescente de 14 anos. Bombas planadoras, um míssil e 53 drones atingiram prédios residenciais. O prefeito do município classificou a ação como o ataque mais severo desde o início da guerra. (07/06)
Foto: Sofiia Gatilova/REUTERS
Marcelo livre
Um juiz americano determinou a libertação do estudante brasileiro Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, que chegou aos Estados Unidos com cinco anos de idade e foi detido pelo Serviço de Imigração (ICE) a caminho de um treino de vôlei. Ele ficou preso por cinco dias, durante os quais dormiu em chão de concreto, sem acesso a chuveiro, acompanhado de homens com o dobro da sua idade. (06/06)
Foto: Rodrique Ngowi/AP
Musk e Trump trocam insultos e rompem relações
Bilionário que atuou como conselheiro da Casa Branca criticou projeto de lei de Orçamento de Trump que prevê cortes de impostos e aumento de gastos batizado pelo presidente como "Big Beautiful Bill". Musk chegou a endossar impeachment de Trump e associou presidente ao pedófilo Jeffrey Epstein. Trump reagiu dizendo que Musk "enlouqueceu" e ameaçou cortar contratos da SpaceX com governo. (05/06)
Foto: Nathan Howard/REUTERS
Moraes ordena prisão de Carla Zambelli após deputada deixar o país
O ministro do STF acatou pedido da PGR de prisão preventiva contra a deputada federal e determinou a inclusão dela na lista de procurados da Interpol. Moraes determinou bloqueio de salários, bens, contas bancárias e perfis em redes sociais. Parlamentar deixou o país após ser condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por envolvimento na invasão do CNJ. (04/06)
Foto: Adriano Machado/REUTERS
Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista
Alegando insatisfação com a política migratória, Gert Wilders – também conhecido como "Trump holandês" – e seu partido deixaram coalizão de governo, levando primeiro-ministro Dick Schoof (foto) à renúncia após menos de um ano de mandato. Sem maioria no parlamento, Schoof permanecerá interinamente no cargo até a realização de novas eleições e formação de um novo gabinete. (03/06)
Foto: Peter Dejong/AP/picture alliance
Conservador Karol Nawrocki vence eleição presidencial na Polônia
Resultado é derrota para o governo do primeiro-ministro Donald Tusk e deve dificultar andamento de políticas pró-União Europeia. Apoiado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), Nawrocki poderá vetar leis e desgastar o governo com bloqueios no Parlamento. Aliança frágil de Tusk pode não resistir até 2027. (02/06)
Foto: Czarek Sokolowski/AP/dpa/picture alliance
Ucrânia destrói aviões de guerra da Rússia em ataque massivo de drones
Na véspera de uma nova rodada de negociações de paz, Ucrânia e Rússia intensificaram sua ofensiva militar e protagonizaram ataques sem precedentes. Enquanto, Kiev destruiu 41 aviões militares na Sibéria, ofensiva de maior alcance no território russo em três anos de guerra, Moscou lançou número recorde de drones contra território ucraniano. (1º/06)