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Escultura nazista em estádio da Copa provoca polêmica

Deanne Corbett (av)2 de junho de 2006

O Estádio Olímpico de Berlim hospedará seis partidas do mundial de futebol. Manifestação visível da origem nazista do prédio, há anos as estátuas em seu redor são controvertidas. Opositores exigem que sejam derrubadas.

Os atletas de Karl Albiker estão entre as obras polêmicasFoto: picture-alliance/dpa

Há anos, os musculosos super-homens em bronze e pedra, dentro e em torno do Estádio Olímpico de Berlim, despertam controvérsia. Encomendadas pela ditadura nacional-socialista, que construiu o estádio para as Olimpíadas de 1936, hoje em dia as esculturas são um lembrete visual da ideologia racista ariana, propagada durante o Terceiro Reich.

No início da década de 90, quando Berlim se candidatou, sem sucesso, para hospedar os Jogos Olímpicos, as estátuas foram descritas como "a ilusão do racismo gravada em pedra". Embora se haja exigido sua remoção, elas permaneceram como um testemunho – ainda que problemático – do passado.

Estádio Olímpico de BerlimFoto: picture-alliance/ ZB

Em 2004, por ocasião da restauração e modernização do Estádio Olímpico, a opção foi manter palpável a história daquele sítio. "Sempre que o adentrar, você saberá que ele foi o local dos Jogos de 1936, você vai passar por todas as velhas esculturas nazistas", comentou na época o supervisor técnico da restauração, Peter Steinhorst.

Esconder...

Agora, a perspectiva de milhares de visitantes internacionais atravessando a entrada da construção nazista, nas seis partidas da Copa do Mundo programadas para Berlim, parece ser demasiada para alguns críticos mais rigorosos.

'Prometeu', de Arno Breker, datada de 1937Foto: picture-alliance/dpa

Um destes é Lea Rosh, jornalista e iniciadora do Memorial do Holocausto em Berlim. Ela se opõe em especial às estátuas de Arno Breker, o mais conhecido escultor da era nazista.

Entre 1933 e 1942, ele aceitou encomendas do regime e mantinha amizade pessoal tanto com Adolf Hitler quanto com seu arquiteto-mor, Albert Speer. Breker criou para o estádio a Vitoriosa e o Decatleta.

"No mínimo, as estátuas de Arno Breker deveriam ficar cobertas, mas com uma explicação por quê. Ele foi uma das figuras de porte do nazismo, já é ruim o suficiente essas estátuas serem sequer exibidas em local público", comentou Rosh ao tablóide berlinense B.Z..

... ou derrubar?

Escritor e jornalista Ralph GiordanoFoto: AP

Outro opositor veemente é Ralph Giordano, importante escritor alemão de origem judaica. "As figuras são feias e enganosas", declarou em entrevista. "Exijo que sejam derrubadas e transformadas em entulho".

E acrescentou: "Elas já deviam ter ido há muito tempo. Simplesmente cobri-las seria um tanto simbólico demais – simbólico de como a Alemanha lida com seu passado nazista, quer dizer, sem a conseqüência necessária."

Os responsáveis das secretarias municipais de Cultura da capital rejeitaram os apelos para retirar as esculturas, argumentando que tal ato, em si, seria negar o passado.

As ditaduras e o corpo

Esta é a opinião defendida por Ursel Berger, curadora da exposição sobre as esculturas da área olímpica, recentemente inaugurada no Museu Georg Kolbe. Ela acrescenta que em 1936 as pessoas não viam as obras em nenhum contexto racista, mas sim como elementos decorativos, na época freqüentemente presentes nas construções do gênero.

"Ninguém ficou chocado em 1936", afirmou Berger ao B.Z., "e o atual público da Copa do Mundo não ficará tampouco, pois tais esculturas adornam outros estádios europeus."

Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 1936Foto: AP

Christoph Stölzl, historiador e vice-presidente do conselho municipal da capital alemã, recomendou que as estátuas sejam acompanhadas de placas explicativas. "A conexão entre a idealização do corpo e o racismo é muito complexa, pois há tanto variações da direita quanto da esquerda do culto ao corpo. A arte do século 20 esteve com freqüência envolvida em ditaduras."

Stölzl declarou ao jornal B.Z. que as histórias individuais dos artistas foram decisivas para julgar o grau de propriedade das esculturas. "O estilo estava em compasso com o zeitgeist. As esculturas dos Estados Unidos da época do New Deal são parecidíssimas com as produzidas na Alemanha da década de 30, na União Soviética, ou no Palais Chaillot de Paris.

Com a palavra, o Conselho dos Judeus

Rosh e Giordano talvez sejam forçados a reverem suas exigências, após a declaração do Conselho Central dos Judeus da Alemanha, divulgada nesta quarta-feira (31/05). Seu secretário geral, Stephan Kramer, disse que os apelos para que se derrube ou cubra as estátuas são "completamente fora de propósito".

É "totalmente errado" apagar esses rastros históricos, afirmou, acrescentando que uma tal iniciativa apenas reforçaria aqueles que preferem esquecer o passado e varrer tudo para debaixo do tapete.

Uma abordagem mais sensata seria reconhecer quão problemático é todo o complexo arquitetônico, incluindo as esculturas, e mostrar "como os nazistas tentaram abusar das imagens do corpo humano para seus propósitos propagandísticos", aconselhou Kramer.

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