Em meio a paralisação que já dura uma semana e provocou onda de violência, PMs são acusados de crime de revolta e podem ser condenados a até 20 anos de prisão. Esposas dos militares também podem enfrentar processo civil.
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Após sete dias de paralisação da Polícia Militar (PM) no Espírito Santo, 703 policiais foram indiciados pelo crime de revolta nesta sexta-feira (10/02). Se condenados, os PMs podem receber pena de 8 a 20 anos de detenção em presídio militar e serem expulsos da corporação. Os 703 PMs não vão receber salário até que voltem a trabalhar. O secretário de Segurança Pública, André Garcia, disse que eles foram indiciados pelo crime militar de revolta por estarem armados e aquartelados nos batalhões.
Segundo o coronel Nylton Rodrigues, comandante-geral da PM, o número de indiciamentos "com certeza" vai aumentar. Segundo ele, os homens que estão participando do movimento grevista são os que têm menos tempo de serviço na corporação. "Esse movimento é realizado pelos praças [soldado, cabo, sargento e subtenente]. Não é um movimento dos oficiais", afirmou. "Nossa tropa escolheu a forma errada [de negociação]. Não se negocia com a arma na cabeça."
A paralisação dos PMs provocou uma onda de violência no estado, com alta incidência de saques e homicídios. O movimento teve início na sexta-feira passada, com familiares dos policiais, em especial mulheres, ocupando o portão de saída de uma companhia militar e impedindo a saída de viaturas.
Identificação de parentes
Segundo Garcia, o governo está identificando, por meio de imagens, os parentes dos policiais que estão participando das manifestações e que bloqueiam a entrada dos quartéis para evitar a saída das viaturas. O objetivo é responsabilizar os familiares, que podem enfrentar um processo civil, afirmou o secretário. A relação dos familiares que estão à frente do movimento será encaminhada ao Ministério Público Federal.
"Essas pessoas vão pagar os custos da mobilização das tropas federais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O recado está dado para os familiares. Não sairão isentos desse processo", disse Garcia. Ele não descartou a possibilidade de que as Forças Armadas e a Força Nacional sejam mobilizadas para remover as mulheres que bloqueiam os batalhões.
Após dez horas de negociações, um encontro entre os secretários do governo do Espírito Santo e representantes das mulheres e das associações de classe dos policiais militares terminou sem acordo no início da madrugada desta quarta-feira. Os policiais, proibidos por lei de fazer greve, reivindicam melhores salários e condições de trabalho.
Desde segunda-feira, as Forças Armadas e a Força Nacional estão encarregadas do patrulhamento no estado. A força-tarefa conta com 1.783 homens e deve receber reforço, chegando a 3 mil homens no fim de semana. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, as ruas da região metropolitana de Vitória permaneciam vazias na manhã desta sexta-feira. O transporte coletivo ainda não foi retomado, e, aos poucos, o comércio volta a abrir as portas.
LPF/abr/ots
Greve da PM gera caos no Espírito Santo
A paralisação dos policiais militares no estado provoca onda de violência, saques e depredação. Mais de cem pessoas morrem de forma violenta na primeira semana do protesto. População vive clima de insegurança nas ruas.
Foto: picture-alliance/Photoshot
Medo de sair às ruas
A paralisação dos policiais militares no Espírito Santo provocou uma onda de violência, saques e depredação. Mesmo patrulhamento ostensivo das Forças Armadas não conseguiu devolver a tranquilidade à população. Mais de cem pessoas foram mortas de forma violenta no estado na primeira semana do protesto, e a população evita sair de casa.
Foto: picture-alliance/Estadao Conteudo/W. Junior
Bloqueio de batalhões
A greve dos PMs começou de forma inusitada, quando familiares dos policiais, em especial mulheres, ocuparam o acesso de uma companhia militar, impedindo a saída de viaturas. A partir de então, o movimento se espalhou rapidamente, com a criação de grupos de WhatsApp. As portas de praticamente todos os 14 batalhões militares e oito companhias foram ocupadas por famílias de soldados.
Foto: Reuters/P. Whitaker
Ajuda do Exército e da Força Nacional
Para ajudar a conter a onda de violência, o governo federal liberou as Forças Armadas para atuar no patrulhamento no estado e enviou 200 militares da Força Nacional para a região. Mas a situação continua caótica. Aulas em escolas e atendimentos em postos de saúde continuam suspensos.
Foto: picture-alliance/Estadao Conteudo/W. Junior
Dificuldade para comprar alimentos
O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, André Garcia, afirmou, após a chegada das Forças Armadas, que as ocorrências diminuíram, mas números oficiais não foram divulgados. A população enfrenta dificuldades até mesmo para comprar alimentos. Os poucos supermercados abertos lotam, com consumidores disputando mercadorias para estocá-las.
Foto: picture-alliance/Estadao Conteudo/W. Junior
Paralisação de policiais civis
Em meio ao caos na segurança pública, policiais civis do Espírito Santo fizeram uma paralisação de doze horas nesta quarta-feira (08/02), em protesto pela morte de um investigador na cidade de Colatina. Organizações da classe não descartaram também entrar em greve por reajuste salarial e melhores condições de trabalho.
Roubos, assaltos, saques e atos de vandalismo são registrados em várias regiões do estado. Ônibus da região metropolitana de Vitória chegam a voltar à circulação, mas motoristas interrompem o trabalho horas depois, devido à insegurança, ameaças e após a morte do presidente dos sindicatos dos Rodoviários de Guarapari, Wallace Barão. Ele é achado morto a tiros dentro de um carro em Vila Velha.
Secretários do governo capixaba e representantes das associações de classe de policiais militares iniciaram negociações para acabar com a crise. Segundo o secretário de Direitos Humanos, Julio Pompeu, as lideranças do movimento exigem anistia geral para todos os policiais, que são proibidos de fazer greve, e 100% de aumento para toda a categoria.
Foto: Getty Images/AFP/V. Moraes
Acordo sem efeito
O acordo entre associações de policiais militares e o governo estadual não foi suficiente para pôr fim à paralisação. As mulheres dos policiais não participaram da negociação com o governo. No acordo firmado, o governo não concedeu aumento salarial. Na proposta apresentada pelas mulheres, elas pediam 20% de reajuste imediato e 23% de reajuste escalonado. A segurança continua nas mãos do Exército.