Madri exige explicações após comentários de Maduro sobre a Catalunha. Presidente venezuelano afirmou que governo espanhol tem presos políticos, persegue o povo catalão e "não tem moral" para falar do país sul-americano.
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O Ministério do Exterior espanhol convocou nesta quarta-feira (18/10) o embaixador da Venezuela na Espanha para exigir explicações e transmitir "rechaço absoluto" em relação a declarações do presidente Nicolás Maduro sobre a situação na Catalunha.
O ministério disse em comunicado ter convocado o embaixador, Mario Isea, para falar a respeito das "inaceitáveis declarações de ontem [terça-feira] do presidente da República Bolivariana da Venezuela sobre a Catalunha".
Maduro declarou nesta terça-feira que a Espanha "não tem moral" para se referir à Venezuela depois de ter "presos políticos", em referência à prisão de dois líderes separatistas catalães nesta semana.
A prisão dos líderes Jordi Cuixart, da Òmnium Cultural, e Jordi Sànchez, presidente da Assembleia Nacional da Catalunha (ANC), se deu em meio à crise vivida na Catalunha após a realização de um referendo sobre a independência da região no último dia 1º de outubro, considerado ilegal pela Justiça espanhola. Os dois líderes são acusados de orquestrar manifestações maciças em setembro em Barcelona, que prejudicaram uma operação policial contra as preparações para o pleito.
Em suas declarações à imprensa, Maduro afirmou que a Espanha não pode falar da Venezuela – mergulhada numa crise política e econômica – pois o governo espanhol "prende o presidente da Assembleia Nacional da Catalunha" e "persegue o povo da Catalunha".
"Então, quando vão perguntar algo sobre a América Latina, perguntam a Rajoy. O que Rajoy pode saber sobre em que pé está a Venezuela se não sabe em que pé está a Catalunha?", disse ao se referir ao presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy.
Esta é a oitava vez desde dezembro de 2014 que o Ministério do Exterior espanhol convoca o embaixador venezuelano no país. A última vez havia sido em 26 de julho, para exigir que o governo de Maduro pusesse fim à violência em seu país e promovesse um grande acordo com a oposição.
Espanha e Venezuela têm um histórico de desavenças diplomáticas. Na 7ª Conferência Ibero-Americana, em 2007, o então rei da Espanha, Juan Carlos, gritou a famosa frase "Por que você não te cala" para o então presidente venezuelano, Hugo Chávez. A reação explosiva se deu depois que Chávez chamou o primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar de fascista.
LPF/efe/rtr
A crise na Venezuela pelo olhar de um fotógrafo
Imagens capturadas por fotojornalista venezuelano Iván Reyes documentam protestos contra o governo de Nicolás Maduro: da reação da polícia à coragem de jovens e mulheres.
Foto: Ivan Reyes
Jornalismo nascido da necessidade
"Eu já trabalhava há um ano como jornalista quando os protestos começaram em 2014. Muitos meios de comunicação independentes surgiram nos últimos dois anos devido à censura do governo, e é assim que eu me tornei repórter", diz Iván Reyes à DW. Ele começou a fotografar a nova onda de protestos no final de março.
Foto: Ivan Reyes
Idade da Pedra
A decisão do Supremo Tribunal de Justiça de tirar a imunidade dos parlamentares da oposição (logo revogada) desencadeou uma onda de manifestações que paralisou o país. Embora os protestos inicialmente tenham sido pacíficos, as forças governamentais começaram a atirar pedras contra os manifestantes. "Sério, deram pedras aos policiais! Este homem foi atingido por uma em 4 de abril ", afirma Reyes.
Foto: Ivan Reyes
Guerra contra os manifestantes
Os protestos ocorrem todos os dias em várias partes de Caracas, mas geralmente acabam nas grandes vias da cidade. A foto mostra os membros da Guarda Nacional disparando gás lacrimogêneo contra os manifestantes. "Segundo a legislação internacional, os projéteis devem voar por cima das cabeças das pessoas", diz Reyes. Mas, segundo ele, a determinação não é obedecida.
Foto: Ivan Reyes
"Todos somos Juan!"
Juan Pablo Pernalete, de 20 anos, morreu depois de ser atingido por um projétil em 26 de abril. A morte do estudante da Universidade Metropolitana desencadeou protestos indignados. "As pessoas gritavam: Somos todos Juan!'", conta Reyes. No enterro, a família entregou ao líder oposicionista venezuelano Henrique Capriles uma medalha que Juan Pablo ganhou nos Jogos da Juventude.
Foto: Ivan Reyes
Armas caseiras
Embora as lideranças dos protestos tenham apelado para que os manifestantes não recorram à violência, vários grupos começaram a usar armas de fabricação caseira contra as forças do governo, como estilingues e coquetéis molotov. "Esta é uma batalha que não podem vencer", afirma Reyes.
Foto: Ivan Reyes
Os heróis
"Jesus foi um dos feridos na manifestação de 4 de maio. Ele foi atingido na cabeça. As pessoas que estavam no local o carregaram até os paramédicos. Eles e os médicos da equipe de primeiros socorros UCV são os verdadeiros heróis", diz Reyes, referindo-se a médicos e estudantes de medicina que acompanham os protestos para ajudar os feridos.
Foto: Ivan Reyes
A fúria das mulheres
A marcha das mulheres organizada pelo partido oposicionista MUD em 6 de maio tinha como meta o Palácio da Justiça em Caracas. Mas elas foram barradas por uma unidade feminina das forças de segurança. As manifestantes usaram camisetas brancas, tal como as "Damas de Branco", de Cuba, que desde 2003 fazem manifestações todos os domingos pela libertação dos maridos e de outros políticos presos.
Foto: Ivan Reyes
Ode à Venezuela
Esta foto feita por Reyes viralizou nas redes sociais em 8 de maio. Ela mostra um jovem que toca o hino nacional venezuelano enquanto caminha pela rua. "Não acredito que os protestos vão terminar logo", assinala Reyes. "Vamos ver quem cansa primeiro!"