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Crise

29 de outubro de 2009

Há 80 anos, as bolsas de valores despencaram, gerando uma crise econômica mundial. Manfred Jäger explica em entrevista o que esse fato histórico tem a ver com atual crise financeira internacional.

Banco de portas cerradas: crise de 1929Foto: ullstein bild - AP

A malfadada "sexta-feira negra" do ano de 1929 foi, de fato, uma terça-feira. Naquele 29 de outubro de 1929, teve início a Grande Depressão da década de 1930, que entrou para a história como a pior crise econômica de todos os tempos.

Manfred Jäger, especialista em mercados financeiros do Instituto de Economia Alemã, sediado em Colônia, acredita que as medidas de combate à crise tomadas hoje são bem mais eficazes do que as tomadas na década de 1930. Leia a íntegra da entrevista com o especialista.

Deutsche Welle: Até que ponto a grande crise, iniciada em outubro de 1929, se assemelha à atual crise?

Manfred Jäger: Em primeiro lugar, as duas crises se assemelham por ambas serem crises mundiais. Isso as diferencia de outras crises do mercado financeiro, que foram frequentemente fenômenos locais. Desta vez trata-se de uma crise internacional, o que leva obviamente a um agravamento especial da situação.

As crises também são similares em função do alto índice de endividamento nos dois casos. Ou seja, nas duas ocasiões, investiu-se demais com recursos emprestados. Quando os investimentos não são bem sucedidos, isso acaba levando a impasses, a becos sem saída. As dívidas não podem ser quitadas, o que leva a colapsos. E então começa uma espiral descendente como essa.

Quais são as principais diferenças entre as duas situações?

Primeiramente, desta vez a política econômica reagiu de forma muito mais inteligente. Não que tenha sido uma reação inteligente, mas sim mais inteligente que na crise de 1929, quando foram tomadas medidas protecionistas sérias, o que não vimos acontecer até agora na situação atual, graças a Deus e espero que continue assim.

A espiral descendente no comércio exterior acentuou e prolongou a Grande Depressão. Hoje, ao que parece o comércio mundial está saindo do fundo do poço com maior facilidade, o que é uma vantagem essencial.

Outra diferença primordial é a reação da política monetária, que reagiu de forma bastante diferente. Antigamente, alguns países se sentiam presos ao padrão-ouro, o que levou a uma política monetária restritiva, sugando, com isso, o "sangue" da circulação do dinheiro.

Desta vez, os bancos centrais reagiram de forma muito diferente, injetando "sangue" adicional na circulação monetária, o que acabou estabilizando o sistema financeiro. As medidas político-fiscais também foram, de certa forma, "úteis" no sentido de que levaram a uma maior confiabilidade. Tudo isso não havia sido feito no passado.

O que a política pode fazer então para enfrentar ainda melhor a crise?

Manfred Jäger: 'tudo vai depender do crescimento econômico daqui para frente'Foto: IWKöln

Acima de tudo, ela deve ter em vista a carga que teremos que carregar em médio prazo. Todos os países, inclusive a Alemanha, irão sair dessa crise com um volume maior de dívidas. E só se poderá arcar com essas dívidas se houver um crescimento econômico razoável.

Isso significa que precisamos de uma política voltada para o crescimento. Caso contrário, será muito difícil quitar essas dívidas. Para isso, possivelmente será necessária também uma redução tributária cautelosa e com certeza uma reforma fiscal. Pois a tributação empresarial freia o crescimento. Se não tivéssemos esse problema, o crescimento iria aumentar e poderíamos pagar as dívidas com recursos desse fundo maior de dinheiro.

Outras medidas são melhores incentivos ao trabalho. Neste sentido, uma reforma fiscal também poderia ser útil. Isso deve naturalmente ser feito com grande exatidão, pois não podemos nos esquecer de que temos que contar com um endividamento maior.

E devemos também reorganizar o sistema financeiro. Pois se não alimentarmos de forma suficiente o sistema financeiro e principalmente se os empréstimos não fluírem para as empresas certas, ou seja, se o dinheiro flui para o lado ruim, então não teremos tampouco um crescimento econômico.

Não observamos ainda uma redução nos créditos, mas pode ser que, nos próximos anos, tenhamos um sistema financeiro que não funciona, que só distribui poucos créditos e acima de tudo aos destinatários errados.

Se isso acontecer: a partir de que cenário poderia se falar, na crise atual, de uma "depressão"?

Se mais uma vez tivermos um crescimento econômico negativo, poderíamos falar de uma depressão. No entanto, não acreditamos que este seja o cenário mais provável. Ou seja, a comparação com a Grande Depressão é plausível, pois temos agora um retorno da sexta-feira negra, que na verdade foi uma terça-feira.

Mas a comparação com o Japão deveria nos mostrar quais ameaças podem pairar sobre nós. Pois o Japão também perdeu uma década inteira, porque após uma grave falha do mercado financeiro não foram tomadas as decisões corretas em termos de política econômica.

Entrevista: Klaus Ulrich (sv)

Revisão: Roselaine Wandscheer

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