Especialista descarta grandes ataques do EI no Ocidente
Jan Fritsche, de Washington (md)5 de setembro de 2014
Mas atentados localizados, como o do museu judaico em Bruxelas, não são descartados. "Estado Islâmico" deve substituir Al Qaeda como grupo terrorista mais perigoso.
Anúncio
"O objetivo é claro", declarou o presidente dos EUA, Barack Obama, em sua visita à Estônia nesta quarta-feira (03/09). "Enfraquecer e destruir o Estado Islâmico, para que ele deixe de representar perigo", complementou o líder americano. O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, escolheu palavras ainda mais drásticas. Ele afirmou que os Estados Unidos perseguirão os assassinos dos dois jornalistas norte-americanos "até os portões do inferno".
Os americanos temem que os combatentes do "Estado Islâmico" (EI) originários da Europa e dos EUA possam, com seus passaportes ocidentais, retornar facilmente a seus países de origem e realizar neles ataques terroristas. "Sabemos que, nos últimos três anos, mais de 12 mil combatentes estrangeiros viajaram para a Síria", disse o especialista Matthew G. Olsen, do Centro Nacional de Contraterrorismo dos EUA. Entre eles estariam mais de cem americanos e cerca de mil europeus.
Propaganda eficaz
"Nenhum grupo dissemina sua propaganda de forma tão eficaz", ressaltou Olsen. Os islamistas alcançam muitos potenciais combatentes no Ocidente através das mídias sociais. "Eles são muito bons em atingir o público-alvo jovem", avaliou o psicólogo John Horgan, da Universidade de Massachusetts, num artigo no jornal The New York Times. Os islamistas atraem com mensagens como "seja parte de algo maior que você mesmo e faça-o agora".
Olsen avalia que o EI logo pode se tornar a organização terrorista mais perigosa do mundo. O autoproclamado "Estado Islâmico" tornaria-se, assim, uma ameaça ainda maior que a Al Qaeda, a rede terrorista responsável pelos ataques em Nova York e Washington em 11 de setembro de 2001. Financeiramente, o EI também está bem acobertado. Atualmente, o grupo arrecada mais de 1 milhão de dólares por dia, por exemplo com o resgate de reféns.
Sem evidências
No entanto, em comparação com a Al Qaeda, os combatentes do EI adotam uma tática diferente: eles preferem muitos ataques pequenos a poucos ataques grandes. Olsen cita como exemplo o atentado contra um museu judaico em Bruxelas, em maio deste ano. Os combatentes também evitam ao máximo utilizar comunicação eletrônica, o que dificulta seu controle.
Mesmo assim, Olsen não vê no momento um grande perigo para o Ocidente. "O EI não é comparável à Al Qaeda antes do 11 de Setembro", afirmou. O especialista ressaltou ainda que as agências de inteligência dos EUA também são hoje muito mais sensíveis à questão do terrorismo e trocam mais informações. Por isso, não há evidências de células terroristas nos Estados Unidos ou na Europa.
Segundo Olsen, a luta contra o EI ainda é uma tarefa de longo prazo e que deve ser combatida também politicamente. Ele afirma que seria importante, por exemplo, que, no lugar do regime de Assad, seja formado um governo de unidade nacional na Síria. Só assim, os Estados Unidos poderão enfraquecer e destruir o EI, conforme anunciado por Obama.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.