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Espera, insegurança e decepção

Maissun Melhem (sv)2 de setembro de 2016

A jovem Sally Abazid pertencia à classe média de Damasco, capital. Há dez meses na Alemanha, ela ainda não consegue, em meio a tantos problemas, se sentir em casa.

Sally Abazin
Foto: DW/M. Melhem

Em Berlim, na estação de trem Westend, Sally Abazid está sentada com dois amigos na calçada. Em função de seu fenótipo de pele clara e dos cabelos curtos com corte moderno, ela praticamente não se distingue dos alemães que por ali circulam. Abazid, no entanto, não se sente acolhida em Berlim: dez meses após chegar à cidade, a síria de 20 anos, natural de Damasco, pensa em voltar para seu país. Ou pelo menos deixar a Alemanha.

"Não é possível que, dez meses depois de ter chegado a este país, eu não tenha ainda uma permissão de permanência", diz a jovem em tom de amargura. Em consequência dessa situação de insegurança, Sally Abazid tampouco encontra uma moradia fixa, para, a partir dali, começar uma vida nova.

À espera da permissão de permanência

Sally Abazin: à espera de documentos e trabalhoFoto: DW/M. Melhem

Sally passou as primeiras semanas na Alemanha em um ginásio poliesportivo, transformado provisoriamente em alojamento para refugiados. Por ser bissexual, ela foi depois acolhida em um alojamento para refugiados LGBT, coordenado pelo Centro de Aconselhamento Gay de Berlim. "Lá tive que dividir o quarto com três outros garotos. Aí foi demais para mim", relata a jovem. Diante disso, Sally preferiu ir morar com amigos que lhe oferecem um quarto. Mas com isso precisa se mudar várias vezes na cidade.

Segundo o Departamento Federal de Migração e Refugiados (Bamf), um total de 30.555 pessoas deixaram a Alemanha no primeiro semestre de 2016 através do Programa de Incentivo à Migração Voluntária. A maioria delas vinha dos países dos Bálcãs e não tinha permissão de permanência na Alemanha. Algumas, embora tivessem a condição de requerentes de asilo reconhecida, resolveram retornar a seus países de origem ou optaram pela mudança para um terceiro país.

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A história de Sally é diferente. Ela não sente saudades de casa, nem tem filhos ou parceiro(a) que estivessem esperando durante meses, às vezes anos, para migrar posteriormente para a Alemanha. Seus parentes na Síria não estão sob risco de serem atacados por bombas ou gases venenosos, nem estão sujeitos a maiores repressões políticas ou religiosas. Natural de Damasco, Sally vem de uma família de classe média. Seus pais são médicos, e ela estudou Informática na universidade. No entanto, ela reconheceu cedo a falta de perspectivas de sua vida em um país devastado pela guerra civil. "Quando a guerra começou, eu ainda estava na escola. E cogitava, já naquela época, fugir do país." Mas naquele momento Sally era ainda muito jovem e precisava continuar frequentando a escola, para concluir o ensino médio e iniciar uma graduação. Na universidade, ela não se sentiu mais segura. Sua faculdade, localizada em Jaramana, nas cercanias de Damasco, sofria regularmente com os combates entre as tropas do governo sírio e os rebeldes.

Além disso, Sally começou a se sentir cada vez mais distante da própria sociedade síria. "Tinha dificuldades com a minha família conservadora e extremamente religiosa", conta a jovem. Na condição de mulher, ela muitas vezes foi coibida de determinar livremente o curso de sua própria vida. Como bissexual, ela jamais teria sido aceita, restando, portanto, apenas o sonho de recomeçar a vida em outro país.

Escola durante a guerra: crianças sírias em DamascoFoto: picture-alliance/AP Photo

"Não entendo como perco tempo todos os dias"

Há dez meses, Sally Abazid chegou a Munique. "Eu queria ir para a Europa, onde existe mais liberdade e igualdade de direitos", diz a jovem. Uma vez na Alemanha, ela foi enviada pelas autoridades para Leipzig, de onde se mudou por conta própria para Berlim. Segundo ela, a capital alemã é uma cidade legal, onde todos são tratados da mesma maneira. Na Europa, a jovem síria diz ter vivenciado de fato uma igualdade de direitos maior, entretando apenas no contato com seus conterrâneos ou outros refugiados. "Se eu vivesse aqui 30 anos, tivesse um dia um diploma universitário e até um passaporte alemão, mesmo assim eu continuaria sendo vista e tratada como uma refugiada", conclui.

A jovem síria sofre ainda com a burocracia alemã. "Não entendo como perco tempo todos os dias", reclama Sally a respeito dos procedimentos burocráticos. Avançar em meio à avalanche de papéis é muito moroso, diz ela. "Toda vez é preciso preencher um monte de formulários. Aí dizem que você preencheu alguma coisa errada. Você marca um novo horário e precisa começar tudo de novo. Isso suga a minha energia e me impede de ir em frente", completa.

Apesar de tudo, Sally quer continuar lutando e pretende fazer uma formação como enfermeira. Seu sonho é ajudar quem precisa em regiões de crise. "E se eu algum dia aceitar a ideia de que a Alemanha é a minha nova casa, vou voltar sempre para Berlim." Para trabalhar, no entanto, Sally preferiria algum outro país.

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