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Espetáculo com textos de Brecht estreia em Brasília

Marco Sanchez13 de novembro de 2013

Com visual forte e suspense marcante, o diretor Pedro Granato apresenta a peça "Quanto custa?", que une dois textos do dramaturgo alemão inéditos no Brasil.

Foto: Ding Musa

Depois de uma bem-sucedida temporada em São Paulo, a montagem de Quanto custa? – uma junção de Dansen e Quanto custa o seu ferro?, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, escritas em 1939 e nunca montadas no Brasil – chega aos palcos de Brasília nesta quinta-feira (14/11).

O diretor Pedro Granato conta que, neste espetáculo, queria manter a emoção aliada à reflexão, típica do trabalho de Brecht, fugindo do que ele chama de "esfriamento" produzido pelas leituras contemporâneas das obras do alemão.

"Ele não é apenas cerebral, mas também muito passional. As pessoas confundem distanciamento com frieza", diz o diretor, que incluiu referências cinematográficas, musicais e das artes plásticas para "tirar a repetição" que diz sentir em montagens de Brecht.

Para Granato, há uma tendência, se não em todo o Brasil ao menos na cena de teatro paulistana, de montar textos de Brecht de maneira já formatada. "Queria fugir do clichê do sobretudo, cachimbo e cubo preto. Queria sair desse imaginário normalmente associado", disse à DW Brasil.

O que mais o interessou foi o suspense que permeia o texto, aliado à vontade de fazer uma peça mais tensa. "Os textos apresentam uma violência muito atual", diz, lembrando que eles são da fase didática do dramaturgo. "Queria tirá-los do contexto da guerra e, através do suspense, criar uma leitura mais contemporânea."

Ele diz ter encontrado pontos em comum entre os textos de Brecht e filmes de fantasia e sobre serial killers, que complementam o conceito capitalista de apropriação e acumulação, explícito no comportamento social dos personagens.

Suspense foi maneira encontrada pelo diretor Pedro Granato para atualizar BrechtFoto: Ding Musa

Duas peças em uma

Para contar a história de três vizinhos – o açougueiro Dansen, o ferreiro Svenson e a jornaleira sra. Norsen – que vivem em harmonia até o dia em que recebem a notícia de um cruel assassinato, o diretor cruzou os dois textos de maneira cronológica e tentando ser fiel ao original.

"A grande diferença é que a peça sugere uma comédia muito mais escrachada, já que o peso da situação estava no contexto e a peça dialogava com a realidade da época. Para falar hoje sobre até que limites uma pessoa vai quando se vende ou da relação entre grandes empresas e pequenos comerciantes, achei importante transferir o peso para a própria montagem", diz.

Granato comenta que, assim, encontrou uma maneira de se manter fiel ao texto e, de certa maneira, atualizar alguns conceitos do dramaturgo alemão.

A quebra da narrativa, uma das características de Brecht, se dá por meio da trilha sonora, composta por Rafael Castro. Outros elementos da obra do dramaturgo, como eliminar a "quarta parede" entre o palco e a plateia e utilizar gestos reveladores de como os personagens de fato pensam, também estão no espetáculo.

Mas a montagem não abandonou totalmente o humor do texto original. "Minha estratégia foi primeiro capturar as pessoas com o suspense para essa atmosfera pesada. O humor negro vai crescendo no decorrer da trama, à medida em que eu potencializo alguns absurdos que revelam a verdadeira faceta dos personagens", conta Granato.

Inspirado por filmes fantásticos e sobre assassinos em série, o espetáculo tem visual marcanteFoto: Ding Musa

Visual forte

As referências e a atualização dos conceitos de Brecht na montagem estão diretamente ligadas ao visual do espetáculo, que "é quase um elemento central", diz o diretor.

O cenário de Marinês Mencio fragmenta as lojas dos personagens, mas deixa claro o que cada uma representa: um açougue, uma ferraria e uma banca de jornais. "Alimento, armas e ideias. Queria reforçar esses símbolos de como a sociedade se estrutura. Ela ataca os alimentos, depois as ideias e, no fim, a violência domina tudo", explica o diretor.

O fantástico também está refletido nos figurinos, que associam, na escolha de materiais e nas cores, o universo das lojas a cada um dos personagens. "Essas pessoas estão fundidas aos seus trabalhos. O comerciante está ali para vender, sua percepção não é ética ou política. Trouxemos isso muito forte para o lado visual."

"Quanto custa?" está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília até 1º de dezembro.

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