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Espionagem

Sabine Kinkartz (sv)6 de novembro de 2007

Vários empresários de médio porte na Alemanha não têm consciência do risco que correm: espionar o know-how tecnológico alheio para produzir no próprio país vem sendo prática cada vez mais comum.

Tecnologia facilita espionagem nas empresasFoto: picture-alliance/ ZB

A Guerra Fria já é história, mas os famosos espiões continuam sendo figura fácil na Alemanha. Hoje, no entanto, eles circulam muito menos nos bastidores políticos que no interior das empresas do país. Não importa se resultados de pesquisas, estratégias de desenvolvimento, informações sobre produtos, dados de clientes ou planos orçamentários: tudo isso e muito mais pode interessar aos espiões que se embrenham por uma empresa.

Russos e chineses

McLaren Mercedes: vítima recente de espionagemFoto: picture-alliance/ dpa

Na Alemanha, a maioria deles é oriunda da ex-União Soviética e da China. "A República Popular da China coleciona informações políticas, militares, estratégicas e científicas de todo o mundo e de forma intensa, a fim de suprir as lacunas tecnológicas do país o mais rápido possível. Para isso, o país criou uma série de programas de pesquisa e desenvolvimento. Um deles, por exemplo, dá apoio a especialistas que tenham estudado fora do país e queiram regressar. O que poderia ser, à primeira vista, inofensivo, se torna suspeito, quando se observa como o serviço secreto chinês está envolvido em tais programas", observa Elmar Remberg, vice-presidente do Departamento Alemão de Proteção à Constituição.

Emigração e espionagem

Como se não bastasse a emigração de mão-de-obra qualificada do país (brain drain), a espionagem industrial clássica também vem aumentando na Alemanha. Segundo uma pesquisa recente, aproximadamente 40% das empresas alemãs são vítimas de espionagem, o que coloca em risco um know-how de até 50 bilhões de euros.

Os preferidos dos espiões são áreas promissoras como a nanotecnologia e os setores de armamentos, transportes, meio ambiente, energia, engenharia mecânica e outros. Os mais afetados pela espionagem são pequenas e médias empresas, líderes tecnológicas em seus respectivos nichos, explica Andreas Blume, responsável pela proteção de know-how na Evonik-Degussa, uma das grandes da indústria química.

De olho em ofertas muito generosas

Funcionários: freqüentemente envolvidosFoto: AP

"Nas tentativas de contato em congressos ou workshops, deve-se ficar de olho. Principalmente quando alguém oferece muitos presentes – como vôo, hospedagem ou lazer noturno – é preciso ficar com as orelhas em pé e pensar: estão querendo alguma coisa de mim. O problema é que muitos empresários de médio porte acham ótimo serem cortejados de manhã à noite. Mas quando as informações vazam, aí já se foi", comenta Blume.

O especialista credita várias transferências involuntárias de informação à ingenuidade dos empresários frente aos truques sofisticados dos serviços secretos. Fóruns de especialistas relatam estratégias como a instalação secreta de escâneres em fragmentadoras de papel ou de dispositivos USB carregados de troianos.

"Jornalistas e diplomatas"

Segundo o Departamento de Proteção da Constituição, é comum encontrar oficiais chineses do alto escalão trabalhando na Alemanha, disfarçados de jornalistas e diplomatas ou visitando feiras e empresas junto a delegações de empresários. O empresariado precisa ficar muito mais atento, diz Augusto Hanning, vice-ministro do Interior.

"Na formação de estagiários de outros países – não quero ficar citando demais a China – é preciso saber que isso pode fazer parte de uma estratégia de adquirir know-how na empresa alemã. É preciso analisar cada caso na prática. Não quero desencorajar o empresariado, acho muito importante formar profissionais jovens, mas não se deve esquecer que aqui também flui informação acerca de um conhecimento muito sensível", lembra Hanning.

Participação de funcionários

Vigilância para transferência ilícita de dados: perigo subestimado por pequenas empresasFoto: dpa zb

Segundo Hansjörg Fromm, diretor do Centro Europeu de Otimização de Negócios da IBM na Alemanha, há estudos apontando que mais de um terço da transferência ilegal de know-how das empresas alemãs se deu com a participação de funcionários e 28% de ex-funcionários ou seus parceiros.

"Quanto mais seguros são os nossos firewalls, quanto mais controlamos os acessos a nossos sistemas com proteção de vírus, senhas e dados biométricos, mais as pessoas pensam como burlar esses obstáculos. Como introduzir clandestinamente um colega na empresa para conseguir os dados", descreve Fromm.

Decodificar senhas costuma ser fácil e são poucas as empresas que utilizam programas em suas redes internas, capazes de verificar quais dados são acionados por quais funcionários. Uma análise dos chamados "acessos singulares" pode despertar a atenção para a espionagem industrial.

Perigo externo

E mesmo os acessos de externos aos dados de uma empresa disponíveis na internet podem incorrer em risco. Há pouco tempo, noticiou-se um ataque chinês aos computadores do governo alemão. "Desde 2005, verificamos ataques eletrônicos a departamentos públicos e empresas alemãs, executados com uma intensidade assustadora. Hoje, são detectados novos ataques a cada um ou dois dias", conta Remberg.

Atachados a e-mails, há não raramente vírus que se instalam automaticamente, sem que o usuário perceba. Toda a informação contida no computador é então enviada pela internet. Às vezes esses programas são tão mirabolantes, que nem mesmo os especialistas conseguem decifrá-los. E ainda há outros pontos fracos, como ´diz Michael Hange, vice-presidente do Departamento Federal de Segurança nas Técnicas de Informação.

Grampeando celulares

Grampear o celular alheio: ofertas no mercadoFoto: AP

"O Wlan é um alvo preferido, principalmente quando não está protegido o suficiente. Uma empresa da Tailândia, por exemplo, oferece também um serviço de vigilância de celulares alheios. Para isso, basta pegar o celular a ser vigiado, digitar algumas teclas e o serviço está instalado e a pessoa pode ouvir tudo o que o outro diz ao telefone. Com isso, é possível também ouvir tudo o que se passa numa determinada sala", explica Hange.

Uma proteção cem por cento da espionagem industrial e empresarial é algo impossível, apontam os especialistas. Para minimizar o problema, recomenda-se um bom planejamento de segurança, uma maior conscientização dos executivos e um treinamento intenso dos funcionários, a fim de aumentar a atenção para a questão. A máxima de alguns especialistas, neste contexto, é a seguinte: confiança é bom, controle melhor ainda.

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