Ri Sol-ju não era vista com o líder norte-coreano desde janeiro de 2020, até reaparecer em evento comemorativo da dinastia Kim. Ausência suscitou especulações sobre estado de saúde e possível gravidez.
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A esposa do líder norte-coreano, Kim Jong-un, fez a sua primeira aparição pública após mais de um ano ausente dos holofotes, conforme mostraram fotografias divulgadas pela mídia estatal da Coreia do Norte nesta quarta-feira (17/02).
Ri Sol-ju acompanhou o marido num concerto comemorativo do aniversário do falecido pai de Kim, Kim Jong-il. A data do nascimento deste é um dos feriados mais importantes do calendário norte-coreano.
O jornal estatal Rodong Sinmun publicou fotos do casal sorrindo e aplaudindo os artistas que se apresentavam no Teatro de Artes de Mansudae, em Pyongyang. Ao seu redor estavam vários membros leais do Partido dos Trabalhadores. Ninguém estava usando máscaras.
"Quando o secretário-geral [Kim Jong-un] entrou no auditório do teatro com sua esposa Ri Sol-ju, ao som de uma música de boas-vindas, todos os participantes os aplaudiram e saudaram", relatou a agência estatal de notícias KCNA.
A KCNA também voltou a se referir a Kim como "presidente" e não pelo seu título oficial de secretário-geral. O título de "presidente" foi usado pela KCNA pela primeira vez na semana passada. O título de presidente na Coreia do Norte é convencionalmente reservado ao falecido Kim Il-sung, o fundador do Estado norte-coreano e avô de Kim.
A publicação das fotos ocorreu no dia seguinte a uma reunião de parlamentares sul-coreanos com o Serviço de Inteligência Nacional (NIS) da Coreia do Sul, na qual foi relatado que a mulher do líder norte-coreano estava evitando qualquer aparição pública como precaução contra infecções por coronavírus e passava o tempo com seus filhos.
A inteligência sul-coreana acredita que Kim e Ri tenham três filhos, mas pouco se sabe publicamente sobre eles. A agência acrescentou que "nenhum sinal incomum foi detectado".
Ri não era vista em público desde janeiro de 2020, durante um evento relacionado ao feriado do Ano Novo Lunar. Sua ausência de mais de um ano suscitou muitas especulações sobre sua saúde e até sobre uma possível gravidez.
"Outra suposição é que a relação entre Ri e Kim esteja ruim e que eles não estejam passando muito tempo juntos, ou talvez Kim tenha decidido que sua esposa estava atraindo muita atenção por suas roupas e penteados", disse Toshimitsu Shigemura, professora da Universidade Waseda, em Tóquio.
"Este não é o tipo de coisa que funciona para um ditador em um país tão dominado por homens como a Coreia do Norte", acrescentou Shigemura.
Ao contrário de eventos anteriores, nem o casal nem outros dirigentes do partido foram vistos usando máscaras ou mantendo o distanciamento social nas fotos publicadas pelo Rodong Sinmun.
A Coreia do Norte fechou suas fronteiras no início do ano passado numa tentativa de se proteger da pandemia. Kim afirmou repetidamente que o seu país não registrou casos do novo coronavírus, do que muitos especialistas estrangeiros duvidam, pois o vírus já transitava na vizinha China antes do fechamento da fronteira.
pv/as (Lusa, Efe, Reuters, DW)
Coreia do Norte nas lentes de um instagrammer
Apesar do destaque no noticiário internacional, nação asiática continua sendo uma das mais isoladas do mundo. Em várias visitas ao país, o instagrammer Pierre Depont tentou capturar a vida cotidiana dos norte-coreanos.
Foto: DW/P.Depont
Traços de normalidade
Apesar da imagem de reclusa, a Coreia do Norte convida estrangeiros a descobrirem suas atrações. Mas viajar como turista não significa passear livremente pelo país, pois guias especiais devem acompanhar cada passo do visitante. As restrições não desencorajaram o instagrammer britânico Pierre Depont, que visitou o país sete vezes, capturando traços de normalidade no cotidiano dos norte-coreanos.
Foto: DW/P. Depont
Capitalismo rastejante
Depont visitou a Coreia do Norte pela primeira vez em 2013 e, desde então, ele estuda as transformações no país autoritário. Nos últimos dois ou três anos, ele observou que “em Pyongyang, tornou-se aceitável exibir a própria riqueza”. Com uma classe média cada vez maior e um boom das construções, a capital norte-coreana parece estar desafiando sanções econômicas internacionais.
Foto: Pierre Depont
Estilo em Pyongyang
Estabelecer contato com pessoas comuns não é fácil na Coreia do Norte, segundo Depont. "Tive algumas conversas aleatórias com estranhos, sempre ouvidas por um dos guias.” De acordo com as experiências do instagrammer, a maioria dos norte-coreanos não gosta de ser fotografado. “As mulheres norte-coreanas estão definitivamente ficando mais estilosas. Mas só é possível notar isso nas cidades.”
Foto: DW/P. Depont
Urbano X rural
Esta estação de metrô em Pyongyang deslumbra passageiros com o que parecem ser paredes de mármore e candelabros. Para Depont, a Coreia do Norte é um lugar ideal para a fotografia. “Você não encontra nenhuma publicidade, nenhuma distração”, diz. Mas enquanto a capital, onde vive a elite, parece estar prosperando, outras partes do país permanecem assoladas pela pobreza.
Foto: Pierre Depont
Dificuldades ocultas
A Coreia do Norte continua sendo uma sociedade altamente militarizada e predominantemente agrícola. Turistas, no entanto, não conseguem ver muito das condições de vida da população rural. “Cada pedacinho de terra é cultivado, cada metro quadrado é usado”, conta Depont.
Foto: Pierre Depont
Abundância encenada?
Turistas interessados na vida fora das cidades norte-coreanas são levados em visitas guiadas a cooperativas agrícolas. Quando Depont visitou uma fazenda do tipo, próxima a Hamhung, segunda maior cidade do país, ela exibia uma pequena venda, com uma variedade de mercadorias ordenadamente expostas. Depont disse ter tido a impressão de que se tratava de um comércio de fachada, só para ser mostrado.
Foto: DW/P.Depont
Escolas de elite
Uma parada numa escola modelo é um ponto importante de muitos tours na Coreia do Norte. A colônia de férias internacional Songdowon foi reaberta em 2014 e recebeu a visita do atual líder do país, Kim Jong-un. “Há algo de irreal no lugar”, conta Depont. “As crianças brincam na sala de jogos, usando fliperamas e cerca de 20 computadores modernos.”
Foto: DW/P.Depont
Militarismo onipresente
O setor militar é fundamental para a identidade do país e para o sustento de sua sociedade. Cerca de um quarto da população trabalha como funcionário militar. Pyongyang tem um dos maiores orçamentos militares do mundo em relação à sua economia. Desde pequenos, os norte-coreanos crescem em meio a um imaginário militar. Depont se deparou com esse tanque em miniatura num playground perto de Hamhung.
Foto: Pierre Depont
Adoração ritualizada
Além do militarismo, o alto nível de controle político e o culto à personalidade de Kim Jong-un e seus predecessores são onipresentes. A adoração cotidiana ao líder supremo impressionou Depont. “Você vê a quantidade de dinheiro e esforço dedicados a sustentar a história dos grandes líderes e suas grandes estátuas.”