Esposa recebe Prêmio Sakharov em nome de blogueiro saudita
16 de dezembro de 2015
Raif Badawi, homenageado com a mais alta condecoração da UE para os direitos humanos, segue preso por supostamente ter insultado o islã. Ele é primeiro cidadão do Golfo Pérsico a receber o prêmio.
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O Parlamento Europeu outorgou ao blogueiro saudita Raif Badawi, nesta quarta-feira (16/12), o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, a mais alta distinção da União Europeia (UE) pela defesa dos direitos humanos.
Segundo o site oficial do órgão legislativo europeu na internet, "o prêmio é concedido a indivíduos que fizeram uma contribuição excepcional na luta pelos direitos humanos em todo o mundo".
Badawi foi escolhido devido a sua coragem incomum na promoção da liberdade de expressão na Arábia Saudita, que pratica a variedade ultraconservadora do islã conhecida como wahhabismo.
Apesar de detido desde 2012, só no ano passado o blogueiro saudita foi condenado a dez anos de prisão, mil chicotadas e uma multa em 1 milhão de riais sauditas (aproximadamente 1,33 milhão de reais) por supostamente ter insultado o islã num fórum online que criou para sauditas liberais.
"Tudo o que ele estava fazendo era exercer seu direito à liberdade de expressão, além de promover o respeito a ela ", declarou o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz. "Raif Badawi não está sozinho nessa luta."
Espírito livre
Em janeiro, o blogueiro secular recebeu as primeiras 50 chicotadas. A sentença foi suspensa por razões médicas, porém, depois de uma campanha que denunciou a desumana punição. Desde o início de dezembro, Badawi está em greve de fome, em protesto contra as condições de sua sentença.
Sua esposa, Ensaf Haidar, foi quem recebeu a condecoração em nome dele, em Estrasburgo. "Eu teria gostado de vê-lo recebendo este prêmio, mas, infelizmente, ele não está aqui", comentou, antes de transmitir ao Parlamento um pedido de Badawi: um minuto de silêncio em memória às vítimas do 13 de Novembro em Paris.
"Raif não é um criminoso. Ele é um pensador livre, um espírito livre", enfatizou Haidar. "Meu marido simplesmente expressou suas opiniões e as colocou no papel. Ele estava pensando num mundo melhor."
Badawi é a primeiro cidadão do Golfo Pérsico a receber o Prêmio Sakharov. Criado em 1988 e dotado em 50 mil euros, ele leva o nome do físico nuclear russo e defensor dos direitos humanos Andrei Sakharov.
No início deste ano, o blogueiro já fora agraciado com o Prêmio Liberdade de Expressão da Deutsche Welle, como parte de seu projeto The BOBs, que promove o ativismo online.
PV/epd/dpa
Os principais pontos da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Proclamada em 1948, carta é válida para todos os Estados-membros das Nações Unidas. Mas ainda há um longo caminho até que o documento seja implementado para todos, em todo o mundo.
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Direitos iguais para todos (Artigo 1°)
"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos." Em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou em Paris a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O ideal é claro, mas continua muito distante de encontrar aplicação concreta.
Foto: Fotolia/deber73
Ter e viver seus direitos (Artigo 2°)
Todos os direitos e liberdades da Declaração se aplicam a todos, que podem invocá-los independente de "raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou qualquer outra condição". No nível internacional, contudo, é quase impossível reivindicar esses direitos.
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Direito à vida e à liberdade (Artigos 3°, 4°,5°)
"Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal." (3°) "Ninguém será mantido em escravidão ou servidão." (4°) "Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante" (5°).
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Igualdade perante a lei (Artigo 6° a 12)
Toda pessoa tem direito a um julgamento justo e à proteção da lei (6°, 8°, 10, 12). Todos são considerados inocentes até que a sua culpabilidade seja comprovada (11). "Todos são iguais perante a lei" (7°) e "Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado" (9°).
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Ninguém é ilegal (Artigos 13, 14, 15)
"Todo indivíduo tem o direito de livremente circular e escolher o seu domicílio dentro de um Estado". "Todos têm o direito de deixar qualquer país" (13). "Toda pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar asilo em outros países" (14). "Todo indivíduo tem o direito a ter uma nacionalidade" (15).
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Contra os casamentos forçados (Artigo 16)
Homens e mulheres têm direitos iguais antes, durante e depois do casamento. Um casamento "será válido somente com o livre e pleno consentimento dos futuros esposos". A família tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Mais de 700 milhões de mulheres em todo o mundo vivem em um casamento forçado, afirma o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
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Direito à propriedade (Artigo 17)
"Toda pessoa tem direito, individual ou coletivamente, à propriedade. Ninguém pode ser privado arbitrariamente de sua propriedade." Ainda assim, seres humanos são expulsos de suas terras em todo o mundo, por não terem documentos válidos – a fim de abrir caminho para o desenvolvimento urbano, a extração de matérias primas, a agricultura, ou para uma barragem de hidrelétrica, como no Brasil.
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Liberdade de opinião (Artigos 18, 19, 20)
"Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião" (18). "Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão" (19). "Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas" (20).
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Direito à participação (Artigos 21, 22)
"Todo indivíduo tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos" (21). Há um "direito à segurança social" e garantia de direitos econômicos, sociais e culturais, "que são indispensáveis à dignidade" (22).
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Direito ao trabalho (Artigos 23 e 24)
"Toda pessoa tem direito ao trabalho". "Toda pessoa tem direito a igual remuneração por igual trabalho". "Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória" e pode participar de um sindicato (23). "Toda pessoa tem direito ao lazer" (24).
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Uma vida digna (Artigo 25)
"Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais necessários". "A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais." No mundo inteiro, mais de 2 bilhões estão subnutridos, mais de 800 milhões passam fome.
Foto: picture-alliance/dpa
Direito à educação (Artigo 26)
"Toda pessoa tem direito à educação". O ensino fundamental deve ser obrigatório e gratuito para todos. "A educação deve ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do respeito aos direitos humanos." Na prática, 750 milhões de pessoas no mundo são analfabetas, das quais 63% são mulheres e 14% são jovens entre 15 e 24 anos, afirma o relatório sobre educação da Unesco.
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Arte e ciência (Artigo 27)
"Toda pessoa tem direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico". Todos os "autores de obras de ciência, literatura ou arte" estão protegidos legalmente. Hoje, a distribuição digital de muitas obras é algo controverso. Muitos autores veem seus direitos autorais violados pela distribuição na internet.
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Direitos indivisíveis (Artigos 28, 29, 30)
"Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades possam ser plenamente realizados" (28). "Toda pessoa tem deveres para com a comunidade" (29). Nenhum Estado, grupo ou pessoa pode limitar os direitos humanos universais (30). Todos os Estados-membros da ONU assinaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos.