Esquerda alemã busca renovação em ano eleitoral
1 de março de 2021A esquerda na Alemanha vem tendo dificuldades em se fazer ouvir em meio a pandemia, apesar de que algumas de suas ideias acabaram se tornando predominantes.
A crise gerada pelo coronavírus forçou o governo da chanceler federal, Angela Merkel, a fazer grandes intervenções, deixando de lado seu comprometimento com o equilíbrio orçamentário ao criar novas dívidas para oferecer resgates financeiros gigantescos aos setores mais atingidos pela paralisação da economia.
Ainda assim, as pesquisas de opinião colocam o partido A Esquerda na quinta posição em termos de apoio popular, com entre 7% e 8% entre os eleitores.
Uma pesquisa Deutschlandtrend divulgada recentemente colocou a legenda com apenas 6%, ou seja, flutuando precariamente acima do limite mínimo de 5% dos votos, necessário para manter sua representação no Bundestag (Parlamento alemão) nas eleições federais em setembro.
Por tudo isso, chegou a hora de uma renovação. Em uma conferência virtual, o partido escolheu duas novas líderes para substituir a dupla que controlava a legenda desde 2012, Katja Kipping e Bernd Riexinger. Neste fim de semana, Susanne Hennig-Wellsow e Janine Wissler foram as mais votadas para tomarem as rédeas do maior partido da esquerda alemã.
Futura coalizão "vermelho-vermelho-verde"?
Durante o evento, Hennig-Wellsow, de 43 anos, se posicionou a favor de uma união com a centro-esquerda em nível nacional após as eleições.
"Se o novo governo poderá ou não ser uma coalizão vermelho-vermelho-verde, isso vai depender de nós”, afirmou, mencionando as cores dos partidos que integrariam uma possível coalizão entre o A Esquerda, o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde.
Por outro lado, Wissler, de 39 anos, descreve a si mesma como uma marxista e é tida como membro da ala mais à esquerda do partido. Ela tem a ambição de introduzir temas voltados para o meio ambiente no programa do partido, mas mantém certo ceticismo quanto a uma possível coalizão com as forças de centro-esquerda. "O governo não é um fim em si mesmo”, afirmou recentemente em uma entrevista.
Prestes a deixar a liderança do Partido, Katja Kipping, atribuiu a baixa popularidade do A Esquerda à pandemia. "Os que não estão no governo estão sendo ouvidos ainda menos que o normal”, afirmou à DW.
Mas, este não parece ser um problema de todos na oposição, uma vez que a crise gerada pelo coronavírus não parece ter afetado o Partido Verde, que vive uma onda de sucesso sem precedentes e tem popularidade de 21%. Se isso se confirmar das urnas, os verdes poderão se tornar o segundo maior partido no Bundestag nas próximas eleições.
Com tudo isso, muitos eleitores esquerdistas ousam sonhar com a vitória dos "vermelhos-vermelhos-verdes”. O problema, entretanto, é que o SPD está em baixa, com cerca de 15% da preferência dos votantes. Segundo as estimativas atuais, os três partidos juntos não conseguiriam votos suficientes para formar uma maioria no Bundestag.
Raízes na antiga Alemanha Oriental
Por muito tempo, o A Esquerda era visto com desconfiança em razão de ter suas raízes na legenda que governava a antiga Alemanha Oriental, o Partido Socialista Unitário da Alemanha (SED).
Seu sucessor, o Partido do Socialismo Democrático (PDS), que incluía muitas figuras do SED, se fundiu a esquerdistas mais linha-dura da ex-Alemanha Ocidental, o que resultou na criação do A Esquerda.
Bernd Riexinger, porém, afirma que o partido não é mais visto dessa forma. Ele avalia que a legenda conseguiu deixar no passado a imagem negativa e expandiu seu programa para incluir estratégias políticas plausíveis.
Mas, algumas posições defendidas pelo partido ainda estão longe de se tornarem populares. Por exemplo, o A Esquerda rejeita categoricamente a presença das Forças Armadas do país no exterior, inclusive no Afeganistão, onde militares alemães integram uma coalizão com parceiros internacionais.
Mas, alguns no partido, incluindo a nova líder Henning-Wellsow, estão abertos à participação do país em missões de paz sob a tutela da ONU.
As novas líderes do A Esquerda refletem, a grosso modo, as diferentes tendências entre as alas do partido, mas ainda é difícil prever se conseguirão aumentar a popularidade da legenda ao ponto de conquistar uma parcela maior do eleitorado.