Estátua em homenagem a Marielle Franco é inaugurada no Rio
27 de julho de 2022
De bronze e em tamanho real, obra é uma iniciativa do Instituto Marielle Franco, que busca manter viva a memória da vereadora, assassinada em 2018 e que completaria 43 anos nesta quarta. Crime ainda não foi esclarecido.
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Uma estátua em bronze e em tamanho real, de 1,75 metro de altura, foi inaugurada nesta quarta-feira (27/07) no centro do Rio de Janeiro em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018. A solenidade ocorre no mesmo dia em que Marielle completaria 43 anos.
O local escolhido para instalar a obra, de autoria do artista plástico Edgard Duvivier, é o Buraco do Lume, na praça Mário Lago. Era nesse lugar que Marielle costumava prestar contas como vereadora a seus eleitores, proferindo discursos sempre às sextas-feiras.
A estátua exibe Marielle com o braço esquerdo erguido e o punho cerrado, um gesto de luta característico da vereadora, além de ser uma alusão ao movimento negro.
A iniciativa partiu do Instituto Marielle Franco, que no ano passado promoveu uma vaquinha virtual para erguer a estátua e conseguiu levantar em torno de R$ 40 mil, por meio de mais de 600 doações. Além de Duvivier, a concepção da estátua foi pensada por familiares da vereadora e também através de uma consulta pública nas redes sociais do instituto.
Em seu site, a instituição diz que "defender a memória de Marielle e de mulheres negras é gerar referências para as novas gerações e lutar por justiça e reparação".
A programação da inauguração da estátua começou pela manhã, com uma missa em homenagem à vereadora na Igreja Nossa Senhora do Parto, também no centro do Rio de Janeiro.
A partir das 17h, no Buraco do Lume, foi agendada uma aula pública intitulada "A memória é a semente para novos futuros: legado, justiça e reparação", ministrada pela diretora do instituto e irmã de Marielle Franco, Anielle Franco, a escritora Eliana Alves Cruz, e a professora Thula Pires. Para as 19h, foi marcada uma "batalha de poesias" (slam) em homenagem à vereadora.
A estátua que homenageia Marielle terá um forte aparato de segurança contra possíveis atos de vandalismo. Conforme o Instituto Marielle Franco, a prefeitura do Rio destacou guardas municipais e câmeras de segurança para vigiar a obra.
Crime sem solução
Na noite de 14 de março de 2018, Marielle Franco havia concluído um debate na Casa das Pretas, no centro do Rio, e deixou o local de carro, sentada no banco traseiro, com o motorista Anderson Gomes e a assessora parlamentar Fernanda Gonçalves.
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Minutos depois, o veículo foi emboscado no bairro do Estácio, também na região central do Rio, quando seguia para a casa da vereadora.
O Ministério Público do Rio de Janeiro apontou que 13 disparos foram efetuados a partir do veículo que realizou a emboscada. Conforme as investigações, o carro era dirigido pelo ex-policial militar Élcio de Queiroz, e os tiros teriam sido disparados pelo sargento reformado da Polícia Militar, Ronnie Lessa.
Marielle foi atingida quatro vezes na cabeça, e o motorista Anderson Gomes levou três tiros nas costas. Atingida por estilhaços, Fernanda foi a única sobrevivente.
Até hoje, porém, o crime não foi esclarecido, portanto ainda não se sabe quem mandou matar e por que Marielle foi assassinada. Presos preventivamente, Queiroz e Lessa seguem detidos em um presídio federal no Mato Grosso do Sul. Não há data prevista para o julgamento.
gb/lf (ots)
Mulheres e a luta para manter Marielle presente
Em ato na Avenida Paulista, mulheres de todas as idades lembram coragem da vereadora assassinada e protestam por causas que ela defendia, dos direitos das mulheres à inclusão social.
Foto: DW/N. Pontes
Priscila, 36
"Marielle virou símbolo para todas nós", diz Priscila, que participou de ato na Avenida Paulista para marcar um ano do assassinato da vereadora. Formada em Serviço Social, Priscila descobriu que poderia ir além do ensino médio ao frequentar um cursinho popular para estudantes negros. "Como Marielle, eu também saí da periferia e consegui estudar. Ela mostrou que todas nós poderíamos ir mais longe."
Foto: DW/N. Pontes
Herta, 77, Malu, 74
Amigas há pouco tempo, Herta (esq.) e Malu têm um passado comum: ambas foram perseguidas durante a Ditadura Militar. Membro do movimento estudantil, Herta foi presa em 1968, e estava grávida à época. Malu buscou refúgio na França e no Chile, entre outros países. "Marielle teve coragem para denunciar, mesmo sabendo do risco que estava correndo", aponta Malu a semelhança com a própria experiência.
Foto: DW/N. Pontes
Maria Isabele, 18
"A gente também batalha para levar oportunidade para quem não tem. Era o que a Marielle fazia", diz Maria Isabele, 18 anos, sobre o motivo que a levou ao protesto na Avenida Paulista. Na periferia da Zona Leste, a família de Maria Isabel oferece aulas de dança e grafismo para crianças e jovens carentes. Maria dá aulas de hip hop.
Foto: DW/N. Pontes
Sheila, 40
"Eu vim pedir justiça, que nunca chega para nós. A morte da Marielle é como a morte de muitas de nós, mulheres negras, pobres e da periferia", diz Sheila. Faz mais de dez anos que a família espera por respostas depois da morte de um primo dela, atingido por uma bala perdida em São Miguel Paulista. O garoto tinha 9 anos. "O caso nunca foi desvendado", contou.
Foto: DW/N. Pontes
Alice, 66
Na companhia dos netos, Alice protestou contra todos os crimes bárbaros que matam mulheres no país. "Nunca estive sozinha nessa luta", diz ela, que já acompanhou diversas mulheres da vizinhança onde mora para prestar queixa na delegacia depois de sofrerem violência doméstica. Ela também já precisou de apoio. "Se eu não tivesse lutado, nem viva estaria hoje", resumiu.
Foto: DW/N. Pontes
Luciana, 44
Com o filho de dois anos no colo, Luciana saiu de Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, para participar do protesto. "Sou mãe e pai dos meus filhos. Como Marielle defendia, eu também quero que eles vivam num país sem discriminação, que tenham moradia digna, educação e transporte público de qualidade, atendimento de saúde. Quero que eles vivam num Brasil socialmente justo", afirmou.
Foto: DW/N. Pontes
Carina, 20, Júlia, 17
"Eu estou aqui movida pela indignação", afirma Carina (à direita, com cartaz). "Não adiantou matar Marielle. Nós agora estamos juntas e somos uma voz que não se cala." Júlia diz não querer mais ficar em casa chorando as mortes que vê na televisão: "Marielle, Mariana, Brumadinho, Suzano. Não quero mais velar corpos. Quero uma cultura de paz. Precisamos nos unir."
Foto: DW/N. Pontes
Ruth, 22
Estudante de sociologia, Ruth encontrou na pesquisa acadêmica de Marielle uma voz parecida com a de sua mãe adotiva. "Minha mãe sempre falou sobre as dificuldades das mulheres negras e pobres", resumiu. Ao ser adotada, aos quatro anos, Ruth diz ter saído da pobreza para a classe média. A mãe biológica, dependente química e moradora de rua, morreu vítima do tráfico de drogas.