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ConflitosEstônia

Estônia simula fuga da população em caso de invasão russa

Natalia Smolentceva
14 de outubro de 2024

População acredita que a Rússia pode levar guerra na Ucrânia aos países bálticos. Liga de Defesa da Estônia tem cerca de 30 mil voluntários que organizam estratégias de proteção civil.

Voluntários durante curso de primeiros socorros, na Estônia.
Como parte do exercício, voluntários ensinam estratégias de primeiros socorros à populaçãoFoto: Natalia Smolentceva/DW

Os cidadãos da Estônia acreditam cada vez mais que seu país pode ser alvo de uma invasão militar estrangeira — e o governo já está treinando sua população para se proteger, caso uma guerra ecluda na região. Junto a outros Estados Bálticos, o país avalia que um esgotamento da guerra na Ucrânia pode levar a Rússia a avançar sobre outras nações.

Como parte do treinamento, um exercício de evacuação aconteceu no começo de outubro na pacata cidade de Abja-Paluoja, no sul da Estônia. O teste fez parte de um cenário fictício que simulou rotas de fuga da população civil em caso de invasão estrangeira.

O Conselho de Resgate da Estônia, principal agência de proteção civil do país, e a Liga de Defesa da Estônia (Kaitseliit), uma organização voluntária de defesa nacional, participaram do exercício — o maior do tipo já realizado no país. Mais de 200 dos mil habitantes do município participaram da simulação.

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03:20

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"Não é segredo onde estamos vivendo. Não estamos sozinhos na região do Báltico", comentou Raul Kütt, comandante da divisão sul da Liga de Defesa da Estônia. "O mesmo se aplica à Letônia e à Lituânia. E não sabemos qual será o desfecho do conflito na Ucrânia. Ele pode se espalhar? Para estarmos preparados para o pior cenário, ainda temos tempo para praticar esse tipo de atividade."

Uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Defesa da Estônia mostra que quase 40% da população considera provável um ataque militar em grande escala ao país – 10% a mais do que em 2023.

Liis Pariis entrou para a Liga de Defesa da Estônia depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022Foto: Natalia Smolentceva/DW

Temor de invasão russa

Contudo a mesma pesquisa sugere que 60% dos cidadãos estão dispostos a defender seu país. A Estônia possui apenas 6.500 militares na ativa, de uma população de 1,3 milhão, e, por isso, depende de reservistas e voluntários, como os que atuam na Kaitseliit. O temor é que a Rússia possa avançar sobre suas fronteiras.

A professora de jardim de infância Liis Pariis, de 43 anos, é uma das voluntárias da Liga de Defesa, Tendo se filiado à organização feminina da Liga há dois anos, ela supervisiona a recepção e acomodação de civis num centro de esportes de Abja-Paluoja.

Liis diz que ver as imagens da Ucrânia a fez se perguntar o que faria pela própria segurança se o mesmo acontecesse na Estônia. "Eu tenho uma filha de três anos em casa, e as crianças fazem você pensar nesse tipo de coisa: Como posso estar lá para elas?"

Vários homens de sua família já eram membros da Liga de Defesa quando ela decidiu se associar também. Após receber treinamento militar, médico e de segurança civil, entrou para a equipe de evacuação.

Invasão da Rússia aumentou número de voluntários

Atualmente, a Liga de Defesa da Estônia tem mais de 30 mil membros. Deste total, 5 mil se juntaram ao grupo após o início da invasão na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.

"Eu não precisei convencê-los. Só precisei encontrar um papel adequado e fornecer oportunidades suficientes de treinamento", contou o comandante da Kaitseliit, Ilmar Tamm.

Funcionários do Conselho de Resgate da Estônia explicam procedimentos de evacuação. População se prepara para pior cenário possívelFoto: Natalia Smolentceva/DW

Os voluntários são trabalhadores, professores e médicos que contribuíram com o exercício de evacuação, explica Tamm. "Enquanto a Rússia estiver ocupada na Ucrânia, ainda temos esse tempo". Para ele, "a Estônia sempre estará pronta para se defender, mas sempre há espaço para melhorias".

A Estônia gasta 3,4% de seu PIB em defesa, valor acima da meta de 2% estabelecido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Proporcionalmente, é o segundo maior orçamento militar da aliança, atrás apenas da Polônia.

Como os voluntários atuam

De volta ao centro de evacuação, Liis e seus colegas terminam de fazer o check-in e fornecer os itens necessários aos participantes. Sacos de dormir e colchões foram estendidos no salão de basquete de um centro esportivo, onde passarão a noite.

"Sabíamos que muitos viriam. Houve muita espera, e não sabíamos o que aconteceria. Mas estou feliz em dizer que, até agora, não tivemos grandes problemas, tudo correu bem", diz Liis.

Além de lidar com tarefas logísticas, os voluntários da Liga são treinados para fornecer ajuda psicológica e médica em situações como essa. Juntamente com a Cruz Vermelha da Estônia, eles organizam oficinas de primeiros socorros para os participantes do exercício.

"Por um lado, é assustador, porque poderia ser uma situação real", diz Helena, uma gerente de Tartu, no leste da Estônia. "Mas neste momento é interessante, porque estamos adquirindo muito conhecimento sobre primeiros socorros."

Países bálticos se previnem contra eventual invasão russa com instalação de estruturas de defesa nas fronteiasFoto: Juri Rescheto/DW

Aprendendo com a situação na Ucrânia

O chefe de gestão de catástrofes da Cruz Vermelhada Estônia, Kirill Badikin, enfatiza a importância dessas atividades: "Os ucranianos dizem que, se a população soubesse como usar conhecimentos de primeiros socorros, muitas vidas teriam sido salvas."

Na sala ao lado, colegas do Conselho de Resgate da Estônia oferecem outros treinamentos. Eles ensinam a acender fogo, produzir eletricidade, preparar suas mochilas com itens essenciais, e onde encontrar abrigo em caso de emergência.

Em setembro, uma delegação do Conselho de Resgate da Estônia visitou a Ucrânia. "O mais importante é que a gente saiba o que fazer", frisa Arvi Uustalu, chefe do Departamento de Prevenção do Conselho de Resgate da Estônia.

Desde que se juntou à Liga de Defesa da Estônia, Liis Pariis se sente muito mais segura, até mesmo em sua vida cotidiana. Ela espera nunca ter que organizar uma evacuação real – seja por causa de uma guerra ou de um desastre natural. Mas, se isso acontecer, ela está preparada.

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