"Estado Islâmico" alega morte de americana em ataque aéreo
6 de fevereiro de 2015
Organização terrorista afirma que refém morreu soterrada após bombardeio da coalizão internacional. EUA dizem não ter provas que confirmem as informações do EI.
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A organização extremista "Estado Islâmico" (EI) afirmou nesta sexta-feira (06/02) que uma refém americana foi morta na Síria, num ataque aéreo realizado pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
Em comunicado publicado em sites jihadistas, o EI afirmou que a mulher foi soterrada por escombros depois de um bombardeio efetuado pela Força Aérea jordaniana, em Raqqa, a autoproclamada capital do grupo terrorista.
"O avião da coalizão bombardeou uma posição fora da cidade de Raqqa, após as Orações de Sexta-feira", diz o comunicado. "Nenhum combatente foi ferido, mas podemos confirmar que um refém americano foi morto nos ataques."
O comunicado do EI não mostrou imagens de um corpo, apenas fotografias de um edifício de três andares severamente danificado. Os extremistas afirmaram ainda que o nome da vítima seria Kayla Jean Mueller, natural do estado do Arizona. Porém, até então, não houve confirmação de fontes independentes.
De acordo com um artigo de 2013 no jornal The Daily Courier, do Arizona, Mueller trabalhava na Turquia assistindo refugiados sírios. A jovem de 26 anos disse ao jornal que pretendia ajudar o povo sírio. "Enquanto estiver viva, não vou deixar este sofrimento ser normal."
De acordo com o jornal local, Mueller vinha trabalhando junto a agência de ajuda humanitária Support to Life e com uma ONG local que ajuda refugiadas sírias.
Os Estados Unidos disseram que ainda não têm provas sobre a alegação dos jihadistas. "É claro que estamos profundamente preocupados com esse relato. Até o momento, não vimos nenhuma evidência que corrobora a afirmação do EI", disse a porta-voz do Conselho de Segurança nacional, Bernadette Meehan.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, baseado no Reino Unido, afirmou que mais de 30 jihadistas foram mortos pelos ataques aéreos realizados nesta sexta-feira na área da cidade de Raqqa. Em comunicado, a organização disse que os militantes foram mortos em "posições e depósitos abrigando veículos militares e tanques, ao leste e oeste da cidade de Raqqa".
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.