"Estado Islâmico" ameaça matar dois reféns japoneses
20 de janeiro de 2015
Organização terrorista exige pagamento de 200 milhões de dólares de resgate. Valor é o mesmo prometido pelo premiê Shinzo Abe em ajuda não militar para o Oriente Médio. Autencidade do vídeo ainda não foi confirmada.
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A organização terrorista do "Estado Islâmico" (EI) publicou um vídeo na internet, nesta terça-feira (20/01), afirmando mostrar dois prisioneiros japoneses e ameaçando matá-los a menos que o valor de resgate de 200 milhões de dólares seja pago.
Um homem vestido de preto e com uma faca na mão aparece junto de dois outros, ajoelhados e vestindo roupas laranjas. O terrorista pede que a opinião pública japonesa pressione o governo local a parar com o apoio "tolo" à coalizão internacional, que trava uma campanha militar contra o "Estado Islâmico".
No vídeo, os dois homens são chamados de como Haruna Yukawa e Kenji Goto. Em Tóquio, o Ministério das Relações Exteriores anunciou que estava verificando a veracidade do material. Goto é um jornalista freelancer e escreveu livros sobre aids e crianças em zonas de guerra do Afeganistão à África.
Goto ajudou Yukawa a viajar para o Iraque no ano passado. Yukawa, de 43 anos, viajou ao Oriente Médio depois de dizer a amigos e familiares que esta seria a última chance de mudar de vida. Ao longo da década anterior, ele perdeu um negócio por falência, viu sua esposa morrer de câncer e se tornou um sem-teto, segundo contou seu pai em relato à imprensa janponesa.
O vídeo não foi datado, porém, em uma visita ao Cairo, em 17 de janeiro, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, prometeu 200 milhões de dólares em assistência não militar para países que lutam contra o EI.
Abe, que nesta terça-feira esteve em Jerusalém, última etapa de uma turnê de seis dias no Oriente Médio, afirmou que a ameaça do "Estado Islâmico" em matar os dois supostos presos japoneses é "inaceitável".
"Estou extremamente indignado com tal ato. Exigimos fortemente a liberação dos cidadãos japoneses ilesos", disse Abe. "A comunidade internacional precisa responder com firmeza e coopera sem sucumbir ao terrorismo."
O premiê japonês, no entanto, garantiu que, apesar da ameaça do EI, a ajuda será paga conforme prometido. "Esta postura [vídeo do EI] não vai mudar nada", disse ele, ressaltando que o dinheiro era para ajudar deslocados e desabrigados devido aos conflitos no Iraque e na Síria.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.