Após intensos confrontos com jihadistas, tropas do governo da Síria evacuam população civil e deixam a cidade, de localização estratégica. Aumenta receio de que terroristas destruam ruínas de 2 mil anos da cidade antiga.
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Militantes do "Estado Islâmico" (EI) tomaram a cidade síria de Palmira nesta quarta-feira (20/05), após fracasso das forças do governo na linha de defesa. Depois de evacuarem boa parte da população civil, as tropas sírias deixaram a cidade, segundo informou o canal de televisão estatal.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos confirmou que os jihadistas assumiram o controle em Palmira. O diretor do observatório, Abdel Rahman, disse que, com a recente vitória, o EI comanda 40% do território sírio, assim como quase todos os campos de petróleo do país.
Esta é a primeira vez que o grupo terrorista toma controle de uma cidade diretamente das mãos das Forças Armadas sírias e aliados, que nas últimas semanas vêm perdendo territórios no noroeste e sul do país para outros grupos insurgentes.
Esta também marca a segunda vitória do EI em apenas uma semana. No domingo passado, os jihadistas ocuparam Ramadi, capital da província de Anbar, no Iraque.
Ameaça às ruínas de 2 mil anos
Também conhecida como Tadmor, a cidade na região central da Síria foi erguida próxima a ruínas de uma civilização que ocupou o local há mais de 2 mil anos. Na área preservada há avenidas marcadas por colunatas romanas, templos e um anfiteatro.
Ainda não se sabe o quão perto os militantes jihadistas estão da antiga Palmira. No entanto, com o avanço do grupo, aumenta o receio de que o sítio arqueológico, Patrimônio Mundial da Unesco e o mais importante complexo de monumentos da Síria, seja destruído.
O "Estado Islâmico" destruiu monumentos históricos milenares em áreas tomadas pelo grupo no Iraque, alegando ser contrário a ídolos.
Segundo o chefe da Diretoria-Geral de Antiguidades e Museus da Síria, Maamoun Abdulkarim, centenas de estátuas foram removidas a tempo para locais seguros. Na semana passada, porém, ele fez um apelo aos militares sírios, à oposição e à comunidade internacional pela preservação do sítio histórico.
"O temor agora é pelo museu e pelos grandes monumentos que não podem ser removidos. Essa é uma luta do mundo inteiro", afirmou.
Conquista estratégica
A conquista de Palmira é ainda um ganho estratégico para o "Estado Islâmico". A cidade possui instalações militares modernas, um aeroporto, e está situada próxima a rodovias que ligam à capital Damasco e a províncias da região leste, a maioria delas sob controle de insurgentes. Próximo à cidade estão ainda os campos de petróleo e gás da região central da Síria.
MSB/rtr/ap/dpa
Os tesouros arqueológicos de Palmira
Ruínas dessa antiga cidade são testemunhas de tempos de glória e uma importante herança cultural. Elas estão ameaçadas pela guerra civil na Síria e pela presença do "Estado Islâmico".
Foto: picture-alliance/dpa/Scholz
Ruínas de um passado glorioso
No meio do deserto da Síria ficam as ruínas da antiga cidade de Palmira, que em tempos passados floresceu graças ao comércio. Por centenas de anos, caravanas de comerciantes passaram pela cidade, seguindo a chamada Rota da Seda, que ia até a China. Quando os tempos áureos viraram história, as areias do deserto acabaram tomando conta a cidade.
Foto: Fotolia/bbbar
Templo de Bel
Esta construção foi erguida para um grande deus mesopotâmio. No primeiro século depois de Cristo, os habitantes de Palmira construíram um tempo em estilo romano para a divindade Bel. O custo da obra teria sido arcado pelos romanos, em agradecimento pela adesão da cidade ao Império Romano. As paredes do templo carregam marcas de balas, resultado da guerra civil na Síria.
Foto: picture-alliance/blickwinkel/F. Neukirchen
Caminho das preciosidades
Esta avenida marcada por colunas tem quase um quilômetro de extensão e foi construída no século 2. Na entrada está o Arco de Adriano, erguido em homenagem ao imperador romano. O estilo greco-romano estava na moda na época, com alguns arabescos orientais. Pela estrada eram transportados temperos, perfumes, pedras preciosas e outros tesouros.
Foto: Louai Beshara/AFP/Getty Images
Monumento em estilo romano
Este tetrápilo fica num cruzamento de ruas. São quatro nichos cobertos, cada um deles formado por quatro colunas de granito rosa, extraído das pedreiras da cidade egípcia de Assuã. Antigamente, os nichos abrigavam estátuas. Quase todas as colunas foram reconstituídas. Apenas uma é original.
Foto: Fotolia/waj
Deus do vento
O deus do vento se chamava Baal-Shamin. De fato, o templo dele foi menos deteriorado pelas tempestades de areia do que os templos fúnebres localizados no outro extremo da avenida das colunas. Acredita-se que o templo tenha sido construído pelos fenícios, que posteriormente ocuparam a região. Não se sabe ao certo, porém, quando exatamente ele foi construído.
Foto: picture-alliance/dpa/Scholz
Dramas orientais
Palmira tinha muitas características de uma cidade greco-romana: as colunas, as termas e também o anfiteatro. No palco dele, que era a fachada de um palácio, eram encenados dramas orientais. As peças, escritas em aramaico, se perderam. O teatro também era usado como palco de lutas de gladiadores e de animais.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Marczok
Fórum da classe alta
Estas colunas da ágora, o espaço público central da cidade, ostentavam 200 estátuas que homenageavam as figuras mais poderosas da elite de Palmira. Na parte sudoeste da ágora estão as ruínas de uma construção que possivelmente serviu para as reuniões do conselho da cidade. Dele faziam parte as mais influentes famílias de comerciantes, aquelas que definiam os rumos de Palmira.
Foto: picture-alliance/Robert Harding World Imagery/C. Rennie
Túmulos luxuosos
Do lado de fora da cidade há vários mausoléus. Famílias importantes construíam torres altas, com espaço para os mortos de várias gerações. As últimas moradas de alguns representantes dessas famílias são sarcófagos ricamente ornamentados. Há ainda diversos sepulcros subterrâneos, adornados com afrescos. As sepulturas são um testemunho do cotidiano e das riquezas dos tempos áureos.
Foto: Imago/A. Schmidhuber
Ameaçada pela guerra
No século 3, Palmira se tornou uma base militar. A queda da rainha Zenóbia deu origem a uma reviravolta no poder. Os tempos áureos ficaram para trás, o brilho da cidade começou a ser apagado pela areia. Desde 2001, as ruínas sofrem as consequências da guerra civil na Síria. A nova ameaça são os jihadistas do "Estado Islâmico".