"Estado Islâmico" assume controle de parte de Palmira
20 de maio de 2015
Jihadistas avançam pelo norte e já controlam parte da cidade da Síria, afirmam testemunhas. Temor é que eles cheguem ao sul, onde estão as ruínas romanas que foram declaradas patrimônio da humanidade pela Unesco.
Anúncio
O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) assumiu nesta quarta-feira (20/05) o controle sobre parte da cidade de Palmira (também chamada de Tadmor), na Síria, após dias de intensos combates contra tropas do governo.
O avanço dos jihadistas reacendeu temores de que eles destruam o sítio arqueológico da antiga cidade de Palmira, no sul da cidade moderna. As ruínas foram declaradas patrimônio da humanidade pela Unesco e são famosas por suas colunatas romanas, erguidas há cerca de 2 mil anos.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, baseado em Londres, os jihadistas entraram pelo norte, sem seus veículos, e controlam aproximadamente um terço da cidade moderna.
"As pessoas estão com muito medo do que vai acontecer porque o EI tem condições de chegar ao centro de Palmira", disse o ativista Khaled al-Homsi, que está na cidade, à agência de notícias AFP. Ele disse que os moradores estão trancados dentro de casa, aterrorizados, e que as forças do governo estão "na defensiva".
Questionado se os jihadistas seriam capazes de atingir as ruínas da cidade antiga, uma fonte militar síria disse que "tudo é possível numa guerra urbana". Ele confirmou que os jihadistas haviam se infiltrado em bairros do norte e estavam envolvidos em combates de rua com as forças do regime.
O responsável pelo patrimônio histórico da Síria, Mamoun Abdulkarim, apelou à comunidade internacional para que impeça a destruição do sítio arqueológico da antiga cidade de Palmira, fundada no século 1°. "A situação é muito ruim", afirmou.
"Se apenas cinco membros do EI alcançarem o sítio arqueológico, eles vão destruir tudo", afirmou Abdulkarim. Ele disse que centenas de estátuas e objetos do museu de Palmira puderam ser transferidos para locais seguros.
Abdulkarim lembrou, porém, que o maior problema são os objetos que não podem ser movidos, como as colunatas. "O temor agora é pelo museu e pelos grandes monumentos que não podem ser removidos. Essa é uma luta do mundo inteiro", reforçou.
Autoridades temem que, nas mãos dos terroristas, Palmira tenha o mesmo destino de outros patrimônios mundiais da humanidade, como Nimrud e Hatra, onde sítios arqueológicos de milhares de anos foram destruídos pelo jihadistas em poucas horas.
CN/rtr/afp/ap
"Estado Islâmico" tenta apagar história
Militantes do EI estão destruindo artefatos culturais de milhares de anos no Iraque. O estrago foi condenado mundo afora e fez o Iraque pedir ajuda internacional.
Foto: Mohammad Kazemian
Acabando com o patrimônio
Militantes do "Estado Islâmico" (EI) saquearam e destruíram estátuas em museus de Mossul, no norte do Iraque. Acredita-se que as relíquias pertenciam à antiga civilização mesopotâmica. Os jihadistas, que tomaram grande parte do Iraque e da Síria, afirmam que sua interpretação do islã exige que as estátuas e artefatos culturais sejam destruídos. Muitos estudiosos do islã condenam a ação do grupo.
Estas são as ruínas de Hatra, construída há 2 mil anos pelo Império Selêucida, que controlava grande parte do mundo antigo. Segundo relatos, militantes do EI trouxeram escavadeiras para destruir a cidade. "A luta deles é por identidade, querem destruir a região, principalmente o Iraque, e seus patrimônios da humanidade", disse o ministro do Turismo do Iraque, Adel Shirshab.
Os membros do grupo militante também destruíram parte de Nínive, antiga cidade no norte do Iraque, considerada o berço da civilização por muitos arqueólogos ocidentais. "Já era esperado que o EI a destruísse", disse o ministro do Turismo iraquiano aos jornalistas. A ONU classificou a destruição de "crime de guerra".
"O céu não está nas mãos dos iraquianos. Por isso, a comunidade internacional tem que tomar uma atitude", disse o ministro do Turismo do Iraque ao pedir ataques aéreos contra os extremistas do EI. Bagdá afirmou que os militantes do EI estão desafiando "a vontade do mundo e os sentimentos de humanidade".
Os militantes do EI afirmam que as esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do islã, que proíbem a adoração de estátuas. E quando os jihadistas não as estão destruindo, estão lucrando com elas. Especialistas afirmam que o grupo está faturando no mercado internacional com a venda de estátuas menores, enquanto as maiores são destruídas.
Estudiosos costumam comparar a destruição do patrimônio cultural por parte do EI à demolição dos Budas Gigantes de Bamiyan, pelos talibãs afegãos, em 2001. Hoje, há somente um espaço vazio onde as grandes estátuas ficavam. Entretanto, alguns temem que o estrago causado pelo EI às ruínas da antiga civilização mesopotâmica, pioneira da agricultura e da escrita, possa ser ainda mais devastador.