Soldado é morto em troca de tiros em fronteira da Turquia com território sírio controlado por jihadistas do EI. Ancara responde com envio de caças e tanques e planeja construir muro na área fronteiriça.
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Um soldado turco foi morto e outros dois ficaram feridos depois de supostos membros do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) terem disparado contra um posto militar na fronteira entre a Turquia e a Síria, nesta quinta-feira (23/07). Em resposta aos confrontos, o Exército turco enviou caças e tanques à região.
O posto de fronteira na província turca de Kilis foi atacado a partir de uma área do território sírio controlada pelos jihadistas do EI. "Soldados turcos responderam aos tiros que vieram do lado sírio da fronteira, da região ocupada por militantes islâmicos", disse uma autoridade militar turca, afirmando que os confrontos ainda estão em andamento.
Posteriormente, relatos afirmaram que caças F-16 da Força Aérea da Turquia decolaram rumo à área fronteiriça. Tanques e veículos blindados também foram mobilizados.
A ofensiva ocorreu em meio a uma onda de violência na fronteira turco-síria, que começou nesta semana com um ataque suicida na cidade turca de Suruc, na segunda-feira. A explosão num centro cultural matou 32 pessoas e deixou mais de cem feridos.
Autoridades identificaram um turco de 20 anos, que tinha ligações com o "Estado Islâmico", como o suspeito pelo ataque suicida. Sua carteira de identidade teria sido encontrada no local.
Após o atentado em Suruc, a Turquia quer reforçar a segurança ao longo dos 900 quilômetros de fronteira com a Síria. Segundo um funcionário do governo turco, um muro será erguido ao longo de 150 quilômetros. Além disso, as forças de segurança cavarão uma trincheira de 365 quilômetros de comprimento.
Segundo militares, cerca de 90% dos aviões de reconhecimento e drones das forças de segurança turcas foram transferidos para a fronteira. Na região, já estão estacionados 20 mil soldados turcos. Parte da fronteira corre paralelamente a áreas que estão sob controle do EI.
De acordo com autoridades turcas, mais de 500 pessoas foram detidas nos últimos seis meses por suspeita de cooperação com o grupo jihadista. Além disso, 21 suspeitos de terrorismo foram presos neste mês, em resultado de uma investigação sobre redes de recrutamento na Turquia.
Enquanto as tensões aumentam no sul da Turquia, a política do governo em relação à Síria enfrenta crescentes críticas da comunidade internacional devido ao insuficiente controle das fronteiras, apontado como a fonte de muitos problemas – livre trânsito de jovens recrutados ou de terroristas, por exemplo. Especialistas turcos em terrorismo alertam para novos ataques no país.
PV/rtr/dpa/afp/ap
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.