EI executa mais de 3.500 pessoas em um ano e meio na Síria
29 de novembro de 2015
Cerca de 2 mil eram civis, entre mulheres e crianças. Vítimas foram acusadas por grupo jihadista de bruxaria, homossexualidade, infidelidade no casamento, renúncia da fé islâmica e espionagem, afirma organização.
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Desde que proclamou um califado em junho de 2014, o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) já executou mais de 3.500 pessoas na Síria, afirmou neste domingo (29/11) o Observatório Sírio para Direitos Humanos. A maioria das vítimas, cerca de 2 mil pessoas, era formada por civis.
Ao todo foram assassinadas 3.591 pessoas, entre elas 103 mulheres e 77 crianças. As vítimas foram acusadas pelos jihadistas de bruxaria, homossexualidade, infidelidade no casamento, renúncia da fé islâmica, além de espionagem para a coalizão internacional que promove ataques aéreos contra o "Estado Islâmico" desde setembro de 2014.
De acordo com a organização de direitos humanos, a metade das vítimas civis pertencia à tribo sunita Shaitat. Em 2014, o EI matou aproximadamente 930 integrantes do grupo na província de Deir ez Zor, na Síria, depois de uma rebelião promovida contra os extremistas.
Além dos civis, os extremistas executaram 975 agentes das forças de segurança, 200 combatentes de grupos rebeldes e mais 400 militantes do próprio EI que queriam desertar. Segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos, com sede em Londres, os dados foram recolhidos por uma rede de ativistas locais.
Assassinatos em massa
O califado proclamado pelo "Estado Islâmico" abrange a região que ia de Aleppo, no norte da Síria, até Diyala, no leste do Iraque. O grupo extremista também promove execuções em massa no território iraquiano.
No norte do Iraque foi encontrada neste sábado uma vala coletiva com mais de 120 pessoas que teriam sido mortas pelos jihadistas. A área fica a cerca de dez quilômetros da cidade de Sinjar, que foi libertada do poder dos terroristas em meados de novembro por combatentes peshmerga e voluntários yazidi.
Essa foi a sexta vala coletiva descoberta na região. Em uma delas foram encontrados os restos mortais de cerca de 80 mulheres que tinham entre 40 e 80 anos.
CN/dpa/afp/lusa
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.