"Estado Islâmico" intensifica ataques a cidade curda na Síria
3 de outubro de 2014
Cidade perto da fronteira com a Turquia é considerada estratégica. Governo turco afirma que fará tudo o que for necessário para impedir que Kobane caia nas mãos dos jihadistas.
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Combatentes curdos e integrantes do grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI) acirraram os combates nesta sexta-feira (03/10) nas proximidades da cidade síria de Ayn al-Arab (também conhecida como Kobane), perto da fronteira da Síria com a Turquia. Os radicais islâmicos intensificaram os ataques contra os curdos no leste, sudeste e oeste da cidade, considerada estratégica.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, pelo menos 60 morteiros lançados pelo EI atingiram áreas ocupadas pelos curdos, numa ação considerada pela organização baseada em Londres como o maior bombardeio sobre Kobane das últimas três semanas. Os curdos, por sua vez, teriam destruído dois veículos com munição e um tanque do EI. Sete jihadistas morreram, segundo a ONG.
A região também tem sido alvo de ataques aéreos da coalizão militar internacional liderada pelos Estados Unidos na tentativa de reprimir os jihadistas, que ocupam vários vilarejos nas proximidades. De acordo com o Pentágono, aviões da Arábia Saudita e dos EUA realizaram novos bombardeios contra o EI durante todo o dia. As aeronaves atingiram tanques, refinarias de petróleo e um campo de treinamento.
O principal grupo armado curdo, o YPG, conclamou integrantes da etnia em toda a região a unir forças na luta contra os extremistas islâmicos. "Vamos resistir ferozmente. Esta cidade (Kobane) será um cemitério do 'Estado Islâmico' e o começo de seu fim", afirmou o YPG em comunicado.
Já o primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, declarou que seu país fará tudo o que for necessário para impedir que Kobane caia nas mãos dos terroristas do EI.
"Agressão" à Síria
Em resposta, o governo da Síria declarou, por meio de comunicado, que qualquer intervenção militar da Turquia em seu território será considerada uma agressão.
Na quinta-feira, o Parlamento em Ancara autorizou, por ampla maioria, a intervenção militar turca contra o "Estado Islâmico" na Síria e também no Iraque, além do uso de bases turcas por tropas estrangeiras com o mesmo fim.
Segundo declaração do Ministério do Exterior da Síria, dirigida ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a decisão do governo turco representa "uma violação flagrante da Carta das Nações Unidas dos Estados e da não-ingerência nos seus assuntos internos".
"A comunidade internacional e em particular o Conselho de Segurança devem agir para colocar fim às aventuras dos dirigentes turcos, que representam uma ameaça à segurança e à paz mundial", afirmou o ministério.
A ofensiva jihadista na região de Kobane já provocou o êxodo de pelo menos 186 mil refugiados em direção à Turquia, segundo Davutoglu. Antigo aliado de Damasco, o governo turco vem apoiando a oposição contra o presidente Bashar al-Assad desde o início da guerra civil na Síria, em 2011.
Além da Turquia, a Austrália também autorizou nesta sexta-feira ataques aéreos e o destacamento de forças especiais para aconselhar e assistir as forças iraquianas na luta contra os extremistas do EI no Iraque – mas não na Síria – juntando-se, assim, à coalizão internacional.
EI derruba helicóptero
Já no Iraque, os jihadistas derrubaram um helicóptero Mi-35 das Forças Armadas iraquianas entre as cidades de Beiji e Al-Senniya, no norte do país, segundo fontes do governo em Bagdá. Piloto e co-piloto morreram. Beiji abriga a maior refinaria de petróleo do país.
Segundo testemunhas, as forças armadas iraquianas conseguiram retomar a cidade de Dhuluiya, a 70 quilômetros de Bagdá, das mãos do EI. A cidade faz parte de um cinturão ao norte da capital iraquiana onde os radicais sunitas conseguiram obter controle sobre várias localidades, contando com apoio de milícias locais que rechaçam o governo central xiita.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.