Com a conquista de Palmira, os jihadistas assumem o controle de mais da metade do território sírio. Principais campos de petróleo do país também estão nas mãos dos extremistas.
Anúncio
Após a tomada de Palmira, milicianos do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) passaram a controlar mais da metade do território da Síria, informou nesta quinta-feira (21/05) o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
De acordo com a organização baseada em Londres, aproximadamente 95 mil quilômetros quadrados do território sírio, ou seja, mais da metade da área do total do país, estão nas mãos dos jihadistas. O grupo está presente em nove das 14 províncias, principalmente, nas regiões leste e norte.
Os extremistas também controlam os principais campos de petróleo e gás da Síria, com exceção dos campos de al-Shaar, localizado na região do deserto de Palmira, que ainda está sob controle do governo, e o de Ramilan, próximo à fronteira com o Iraque, comandado pelo rebeldes curdos.
A última grande conquista dos terroristas foi a cidade de Palmira (também chamada de Tadmor). Após dias de confrontos, as milícias do EI expulsaram as forças de segurança e assumiram o controle da cidade histórica na quarta-feira.
Ativistas afirmaram que a situação em Palmira é extremamente precária. "A cidade está sem eletricidade há quatro dias. Faltam medicamentos básicos na maioria dos hospitais", disse Rami Abdel-Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
Primeira cidade densamente povoada
Segundo testemunhas, os jihadistas impuseram um toque de recolher na cidade e aproveitaram a ocasião para caçar tropas do governo. Os soldados do EI anunciaram a tomada de Palmira pelo Twitter, afirmando que assumiram o controle, inclusive de instalações militares.
Os jihadistas fizeram questão de lembrar que essa foi a primeira cidade síria tomada diretamente das mãos da Forças Armadas sírias e seus aliados.
É também a primeira vez que os extremistas assumem o controle de um município densamente povoado na Síria. Segundo Rahman, mais de 100 mil pessoas, a maioria refugiados de outras regiões, vivem em Palmira.
A cidade histórica é estratégica devido às suas instalações militares e localização, no cruzamento de rodovias que ligam Homs, na região central do país, à capital Damasco, no oeste, e a Deir al Zour, no leste.
"Perda para a humanidade"
Organizações internacionais temem que o sítio arqueológico da antiga cidade de Palmira, famosa por suas colunas romanas erguidas há 2 mil anos tenha o mesmo destino de outras cidades históricas que foram destruídas pelos terroristas no Iraque.
As ruínas foram declaradas Patrimônio da Humanidade pela Unesco. "Qualquer destruição em Palmira seria não apenas um crime de guerra, mas uma enorme perda para a humanidade", afirmou a diretora-geral da agência da ONU, Irina Bokova.
O responsável pelo patrimônio histórico da Síria, Mamoun Abdulkarim, disse ter perdido as esperanças, após a conquista dos terroristas. "Essa é a queda da civilização. O humano, a sociedade civilizada perdeu a batalha contra a barbárie", declarou.
CN/dpa/rtr/afp
Os tesouros arqueológicos de Palmira
Ruínas dessa antiga cidade são testemunhas de tempos de glória e uma importante herança cultural. Elas estão ameaçadas pela guerra civil na Síria e pela presença do "Estado Islâmico".
Foto: picture-alliance/dpa/Scholz
Ruínas de um passado glorioso
No meio do deserto da Síria ficam as ruínas da antiga cidade de Palmira, que em tempos passados floresceu graças ao comércio. Por centenas de anos, caravanas de comerciantes passaram pela cidade, seguindo a chamada Rota da Seda, que ia até a China. Quando os tempos áureos viraram história, as areias do deserto acabaram tomando conta a cidade.
Foto: Fotolia/bbbar
Templo de Bel
Esta construção foi erguida para um grande deus mesopotâmio. No primeiro século depois de Cristo, os habitantes de Palmira construíram um tempo em estilo romano para a divindade Bel. O custo da obra teria sido arcado pelos romanos, em agradecimento pela adesão da cidade ao Império Romano. As paredes do templo carregam marcas de balas, resultado da guerra civil na Síria.
Foto: picture-alliance/blickwinkel/F. Neukirchen
Caminho das preciosidades
Esta avenida marcada por colunas tem quase um quilômetro de extensão e foi construída no século 2. Na entrada está o Arco de Adriano, erguido em homenagem ao imperador romano. O estilo greco-romano estava na moda na época, com alguns arabescos orientais. Pela estrada eram transportados temperos, perfumes, pedras preciosas e outros tesouros.
Foto: Louai Beshara/AFP/Getty Images
Monumento em estilo romano
Este tetrápilo fica num cruzamento de ruas. São quatro nichos cobertos, cada um deles formado por quatro colunas de granito rosa, extraído das pedreiras da cidade egípcia de Assuã. Antigamente, os nichos abrigavam estátuas. Quase todas as colunas foram reconstituídas. Apenas uma é original.
Foto: Fotolia/waj
Deus do vento
O deus do vento se chamava Baal-Shamin. De fato, o templo dele foi menos deteriorado pelas tempestades de areia do que os templos fúnebres localizados no outro extremo da avenida das colunas. Acredita-se que o templo tenha sido construído pelos fenícios, que posteriormente ocuparam a região. Não se sabe ao certo, porém, quando exatamente ele foi construído.
Foto: picture-alliance/dpa/Scholz
Dramas orientais
Palmira tinha muitas características de uma cidade greco-romana: as colunas, as termas e também o anfiteatro. No palco dele, que era a fachada de um palácio, eram encenados dramas orientais. As peças, escritas em aramaico, se perderam. O teatro também era usado como palco de lutas de gladiadores e de animais.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Marczok
Fórum da classe alta
Estas colunas da ágora, o espaço público central da cidade, ostentavam 200 estátuas que homenageavam as figuras mais poderosas da elite de Palmira. Na parte sudoeste da ágora estão as ruínas de uma construção que possivelmente serviu para as reuniões do conselho da cidade. Dele faziam parte as mais influentes famílias de comerciantes, aquelas que definiam os rumos de Palmira.
Foto: picture-alliance/Robert Harding World Imagery/C. Rennie
Túmulos luxuosos
Do lado de fora da cidade há vários mausoléus. Famílias importantes construíam torres altas, com espaço para os mortos de várias gerações. As últimas moradas de alguns representantes dessas famílias são sarcófagos ricamente ornamentados. Há ainda diversos sepulcros subterrâneos, adornados com afrescos. As sepulturas são um testemunho do cotidiano e das riquezas dos tempos áureos.
Foto: Imago/A. Schmidhuber
Ameaçada pela guerra
No século 3, Palmira se tornou uma base militar. A queda da rainha Zenóbia deu origem a uma reviravolta no poder. Os tempos áureos ficaram para trás, o brilho da cidade começou a ser apagado pela areia. Desde 2001, as ruínas sofrem as consequências da guerra civil na Síria. A nova ameaça são os jihadistas do "Estado Islâmico".