"Estado Islâmico" mata dezenas no Iraque e no Iêmen
15 de maio de 2016
Grupo extremista reivindica ataques a fábrica de gás de cozinha e a áreas comerciais de Bagdá. Pela segunda vez em quatro dias, cidade iemenita de Mukalla é alvo dos jihadistas.
Anúncio
O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) realizou atentados coordenados no Iraque neste domingo (15/05). Na investida contra uma fábrica de gás de cozinha, ao norte de Bagdá, morreram ao menos 11 pessoas, e uma série de ataques dentro e fora da capital deixou outros 15 mortos, segundo autoridades iraquianas.
Um carro-bomba explodiu na entrada da instalação, em Taji, por volta das 6h (hora local), permitindo que outro veículo que transportava ao menos seis agressores com coletes explosivos entrasse na fábrica. Houve, então, confronto com as forças de segurança, segundo fontes policiais.
Um porta-voz do Comando de Operações de Bagdá disse que três locais de armazenagem de gás foram incendiados em meio à violência, antes que as forças de segurança conseguissem dominar a situação. Uma fonte ouvida pela agência de notícias AP afirmou que 27 policiais ficaram feridos.
A agência de notícias Aamaq, ligada ao EI, atribuiu o ataque a um grupo de "soldados do Califado".
Em comunicado, autoridades iraquianas afirmaram que os bombeiros conseguiram apagar o incêndio provocado pelas explosões e estavam avaliando os danos causados à fábrica.
Os demais ataques no Iraque ocorreram em Latifiyah, ao sul de Bagdá, e, na capital, onde três atentados a bomba tiveram como alvo áreas comerciais.
Homem-bomba no Iêmen
Também neste domingo, um homem-bomba do EI matou 47 policiais num complexo policial na cidade de Mukalla, no sul do Iêmen, segundo fontes médicas citada pela agência de notícias AFP. Os novos recrutas faziam fila para se registrar quando a bomba, que feriu outros 25, disparou.
Esta foi a segunda explosão em quatro dias a atingir a cidade, centro da Al Qaeda antes de o grupo ter sido expulso no mês passado em uma ofensiva por tropas iemenitas apoiadas por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita. Por meio da agência Aamaq, o "Estado Islâmico" disse que o homem-bomba deste domingo era um "caçador de mártires" que havia detonado seu cinto explosivo.
Na última quinta-feira, 15 soldados foram mortos em ataques jihadistas nos arredores de Mukalla, reivindicados pelo EI.
LPF/rtr/ap/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.