Jihadistas recuam de áreas da cidade na fronteira com a Turquia, e curdos recapturaram estrada. EUA dizem que ataques aéreos destruíram posições de combate, mas que grupo extremista ainda pode tomar a localidade.
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Apoiados pelos ataques aéreos da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, os curdos mostravam resistência contra os jihadistas em Kobane nesta quinta-feira (16/10), no momento em que a ofensiva do "Estado Islâmico" (EI) na localidade síria entra no segundo mês. Militantes do grupo extremista recuaram de áreas da cidade na fronteira com a Turquia.
"Os combatentes curdos recapturaram do 'Estado Islâmico' uma estrada na parte ocidental de Kobane", disse Rami Abdel-Rahman, chefe do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, à agência de notícias DPA.
O observatório baseado na Grã-Bretanha afirma que 662 pessoas foram mortas, entre elas 374 combatentes do EI, desde 16 de setembro, quando o grupo dissidente da al-Qaeda começou uma ofensiva para tomar Kobane.
“Embora a situação da segurança continue tensa, os avanços [do Estado Islâmico] parecem ter diminuído. E sabemos que já infligimos danos a eles”, salientou o porta-voz do Pentágono, John Kirby. Autoridades americanas alertaram, entretanto, que a cidade na fronteira com a Turquia ainda pode ser tomada pelos jihadistas.
Os Estados Unidos haviam afirmado nesta semana que as forças aéreas mataram neste mês “várias centenas” de militantes. Quatorze ataques aéreos dos EUA realizados na quarta e na quinta-feira na região de Kobane atingiram 19 edifícios tomados pelo EI, além de dois postos de comando, três posições de combate, três posições para disparos, um local de armazenamento temporário e uma posição com armamento pesado.
Curdos pedem apoio
OS EUA revelaram que mantiveram conversações diretas no último fim de semana, em Paris, com o principal grupo curdo sírio, cujas forças têm lutado contra o EI, nas quais teria sido discutida a questão de armar os combatentes.
Apesar de ataques intensos sobre Kobane realizados esta semana pelos EUA e seus aliados árabes, os curdos pedem mais apoio na batalha contra o EI em defesa da cidade estratégica. "Precisamos de mais ataques aéreos, bem como armas e munições para combatê-los em solo", pediu Idris Nassen, oficial em Kobane.
As forças curdas dizem que estão ficando sem munição, armas, alimentos e suprimentos médicos. A única rota de abastecimento para Kobane, vinda da Turquia, permanece em grande parte fechada, já que o governo turco hesita sobre seu papel na coalizão liderada pelos EUA contra o EI.
Enquanto isso, os Estados Unidos dizem que Bagdá não está sob ameaça iminente de ser tomada pelo EI, mesmo com os avanços dos jihadistas no oeste do Iraque. Kirby afirmou que as forças de defesa da capital iraquiana são sólidas.
Nesta quinta-feira, atentados com carros-bomba em e ao redor de Bagdá deixaram ao menos 26 mortos e dezenas de feridos, segundo a polícia iraquiana e fontes médicas. Um deles, no bairro de Dolai, foi reivindicado pelo EI.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.