"Estado Islâmico" perdeu 14% de seu território em 2015
Chase Winters (rc)22 de dezembro de 2015
Apesar de conquistas importantes, como Palmira e Ramadi, avanço das forças curdas sírias e ataques aéreos da coalizão internacional diminuem área controlada pelos jihadistas na Síria e no Iraque.
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Em um ano, a organização extremista "Estado Islâmico" (EI) perdeu 14% do território que controlava, afirma relatório divulgado nesta segunda-feira (21/12) pelo centro de estudos militares e de defesa IHS Janes. O IHS calcula que a área controlada pelo EI foi reduzida em 12,8 mil quilômetros quadrados entre 1º de janeiro e 14 de dezembro de 2015. Segundo o estudo, o grupo controla hoje 78 mil quilômetros quadrados.
Apesar de ter conquistado a cidade histórica de Palmira e a capital da província de Anbar, Ramadi, ambas na Síria, o autoproclamado "califado" sofreu uma série de derrotas nos campos de batalha, perdendo territórios amplos no norte do país para os curdos sírios, apoiados pelos Estados Unidos, e para as forças árabes conhecidas como Forças Democráticas Sírias.
Para conquistar e manter Palmira e Ramadi, o EI foi forçado a realocar milícias que lutavam na frente curda, diz o IHS. "Isso indica que o EI estava sobrecarregado, que manter o domínio sobre o território curdo é menos importante do que expulsar os governos sírio e iraquiano do território tradicionalmente sunita", disse Columb Strack, analista do IHS para o Oriente Médio. "Os curdos aparentam ser mais uma obstrução ao EI do que, propriamente, um objetivo."
As perdas no norte, ao longo da fronteira com a Turquia, incluem a cidade estratégica de Tal Abyad, depois de os curdos sírios partirem para a ofensiva, com apoio aéreo americano, na sequência da reconquista de Kobane.
As vitórias dos curdos sírios tiraram o "Estado Islâmico" de amplas áreas perto da fronteira turca que os jihadistas já controlavam. "Notamos um impacto financeiro negativo para o 'Estado Islâmico' após a perda de controle de fronteira em Tal Abyad, e isso já antes da intensificação dos ataques aéreos contra a capacidade de produção petrolífera do grupo", disse Strack.
No Iraque, o "Estado Islâmico" perdeu Tikrit, a refinaria de Baji e a principal estrada entre Raqqa, a "capital" do EI na Síria, e Mossul, durante uma ofensiva curda para retomar Sinjar. Territórios próximos a Ramadi, onde ocorre uma ofensiva do exército iraquiano e de milícias xiitas, também foram retomados.
Os ataques aéreos da coalizão internacional liderada pelos EUA também contribuíram para o recuo do EI.
Desde o início da intervenção russa na Síria, em setembro, forças do regime do presidente Bashar al-Assad conseguiram retomar algumas regiões, entretanto, o governo perdeu 16% do território que controlava no início do ano.
Já os curdos sírios quase triplicaram a sua região controlada, que em meados de dezembro se estendia por 15,8 mil quilômetros quadrados, um aumento de 186%.
Por sua vez, o governo do Iraque aumentou seu território em 6%, enquanto os curdos iraquianos registraram ganhos de 2%. Rebeldes sírios sunitas, espremidos entre o regime de Assad e os avanços do EI em regiões do centro e do oeste da Síria, tiveram ganhos territoriais de 1% neste ano.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
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Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.