"Estado Islâmico" reivindica autoria de atentado em Istambul
2 de janeiro de 2017
Mensagem divulgada em rede social afirma que atentado, que deixou 39 mortos numa casa noturna de Istambul, foi executado por um militante do grupo. Polícia continua à procura do atirador.
Anúncio
A milícia terrorista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou nesta segunda-feira (02/01) a autoria do atentado ao clube Reina, às margens do Estreito de Bósforo, em Istambul, ocorrido cerca de uma hora após a virada do ano, durante as celebrações de réveillon, e que deixou 39 mortos.
Um "soldado do califado" foi responsável pelo ato, afirmou um comunicado divulgado pela internet. Na declaração, divulgada numa rede social por supostos apoiadores do grupo, estes afirmam que o atirador respondeu ao chamado feito pelo líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, que ordenou a seus seguidores a execução de atentados em solo turco.
A autenticidade da mensagem não pôde ser comprovada, mas a declaração é semelhante a outras feitas pelo grupo através de um canal do serviço de mensagens Telegram.
Na manhã desta segunda-feira, a polícia continuava procurando o suspeito. Antes da divulgação da mensagem, o jornal Hurriyet noticiou que as autoridades do país acreditavam que o atirador teria ligações com o EI e sua origem provável seria o Quirguistão ou o Uzbequistão.
Especula-se ainda que o suspeito possa ter ligações com a célula terrorista que realizou um atentado suicida triplo e um ataque a tiros no aeroporto internacional de Istambul, em junho, que deixou 47 mortos. A ação foi também atribuída ao EI.
No dia 30 de dezembro, a Turquia havia recebido alerta de segurança dos serviços de inteligência dos Estados Unidos sobre a possibilidade de atentados em Istambul e Ancara, durante a noite de réveillon.
Detenções
Os esquadrões anti-terrorismo prenderam nesta segunda-feira oito pessoas suspeitas de conexão com o atentado, informou a agência de notícias Anadolu. Eles foram levados para interrogatório na sede da polícia de Istambul. As autoridades não divulgaram maiores detalhes sobre os suspeitos.
A Anadolu informou ainda que quase dois terços das vítimas eram estrangeiros. Citando funcionários do Ministério da Justiça, a agência informou que 38 dos 39 mortos foram identificados, dos quais 11 são turcos e um é turco-belga. Entres os estrangeiros havia três libaneses e três iraquianos. Tunísia, Índia, Marrocos e Jordânia tiveram duas vítimas cada. Os outros mortos são do Canadá, Israel, Síria e Rússia.
O Ministério do Exterior da Alemanha disse que informações iniciais indicam que duas das vítimas moravam na Alemanha e que uma delas era de nacionalidade turca e a outra, alemã.
RC/afp/dpa
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.