Crise na França?
12 de agosto de 2011Depois de Grécia, Irlanda, Portugal, e mais recentemente Itália e Espanha – agora é a vez de a economia da França preocupar as lideranças europeias. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, interrompeu suas férias esta semana para tentar apagar o incêndio iniciado com a divulgação de que a economia do país estagnou no segundo trimestre do ano.
A segunda maior economia da zona do euro registrou crescimento nulo entre abril e junho, após um índice de 0,9% nos primeiros três meses de 2011 – o maior percentual dos últimos cinco anos.
Os números publicados pelo instituto francês de estatísticas INSEE aumentaram a pressão sobre o governo francês, que agora precisa convencer o turbulento mercado financeiro de que está em condições de cobrir suas dívidas.
O objetivo é garantir a continuidade da avaliação de rating AAA. Um eventual rebaixamento da classificação francesa poderia trazer sérias consequências, uma vez que o país é o segundo maior contribuinte no fundo de resgate europeu.
Sarkozy vai implementar medidas de austeridade com relação à economia doméstica. Na próxima terça-feira (16/08) ele terá um encontro com a chanceler federal alemã, Angela Merkel. Ambos querem discutir uma proposta conjunta para a administração econômica da zona do euro.
O principal motivo da estagnação francesa seria a queda do consumo interno. Cautelosa, a população tem evitado gastar. O consumo caiu 0,7% – a maior retração em quase 15 anos. Os analistas esperavam um crescimento na economia de 0,3%.
"Os franceses jogaram a responsabilidade pela consolidação do orçamento para os bancos. Mas eles também agora também precisam se mexer", afirma o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Kramer.
Garantias francesas
O governo francês reafirma que as bases de sua economia continuam "sólidas" e que a ela continua no caminho certo para atingir a meta de 2% de crescimento este ano. Analistas, no entanto, já consideram este alvo otimista demais.
"Precisamos encontrar medidas de contenção de gastos que não atinjam nem os mais fracos, nem a economia", afirmou o ministro francês de Finanças, François Baroin.
A apenas oito meses das eleições presidenciais, Sarkozy precisará implementar medidas duras e impopulares para apertar os cintos e oferecer as garantias que o mercado exige, entre elas a remoção de benefícios fiscais para aumentar a receita, e corte de gastos públicos. O presidente precisará, no entanto, dos votos da oposição socialista para aprovar as medidas. A questão, aliás, promete ser um dos principais pontos da campanha eleitoral.
Nas últimas semanas, a França já vinha sendo foco dos mercados financeiros. Rumores de que o grande banco francês Société Générale estaria enfrentando dificuldades iniciaram uma avalanche de vendas no mercado de ações, que em uma semana foi empurrado para índices negativos.
Fim da venda "a descoberto"
Quatro países da zona do euro – França, Itália, Espanha e Bélgica – passaram a proibir a partir desta sexta-feira a venda de ações "a descoberto", para tentar conter ações especulativas nas bolsas. Com isso, os investidores ficam proibidos de vender títulos antes mesmo de tê-los comprado – prática realizada para obter lucro a partir de uma possível desvalorização do título, causados por exemplo por falsos rumores sobre ações mais frágeis. Especialistas, no entanto, questionam se a medida terá efeitos duradouros, pois especuladores poderão driblar a proibição atuando em outras bolsas.
Ao lado da Alemanha, a França vinha atuando como um dos principais motores de crescimento da zona do euro, já que Estados muito endividados como Itália, Espanha e Portugal enfrentam muitas dificuldades para sair da crise. A Grécia, também atingida pelas turbulências econômicas, ainda se encontra em recessão.
A China vem observando a movimentação na União Europeia e pede aos países do bloco que dêem passos firmes na luta contra a crise financeira. Os chineses esperam que os Estados atingidos mostrem responsabilidade e tomem as rédeas da situação, segundo declaração do ministro chinês de Comércio, Chen Deming, em uma conferência dos países asiáticos na Indonésia.
MS/rts/lusa/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer