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Novo ensino superior

Manoella Barbosa4 de setembro de 2008

O coordenador do Processo de Bolonha na HRK alemã, Peter Zervakis, detalha o atual quadro da implementação do programa de reestruturação do ensino superior no país e aponta alguns de seus maiores empecilhos.

Cenário alemão de ensino superior será outro até 2010Foto: Peter Zervakis

O cientista político alemão Peter Zervakis é coordenador do Centro de Competência Bolonha, departamento criado pela Conferência dos Reitores e Presidentes das Instituições de Ensino Superior da Alemanha (HRK) em 2007, com o intuito de prestar assessoria às instituições alemãs de ensino superior durante a implementação do Processo de Bolonha.

A DW-WORLD.DE conversou com Zervakis em seu escritório em Bonn a respeito das críticas ao processo, das vantagens para o estudante estrangeiro e também sobre o atual andamento da reforma no país.

DW-WORLD.DE: Senhor Zervakis, qual é o papel do Centro de Competência Bolonha?

Cenário alemão de ensino superior será outro até 2010Foto: dpa

Peter Zervakis: Oferecemos ajuda na implementação dos títulos de Bachelor e Master nas instituições alemãs de ensino superior. Tiramos dúvidas, tentamos oferecer soluções a problemas e levamos a discussão sobre o Processo de Bolonha para os debates públicos.

Por que o sistema alemão de ensino superior precisa do Processo de Bolonha?

Bolonha é o catalisador de um longamente aguardado processo de modernização e de reestruturação do ensino superior alemão. Desde a abertura das escolas superiores nos anos 70, não tínhamos vivenciado uma reforma tão abrangente no estudo e no ensino como esta.

De onde veio a necessidade do sistema alemão de o ensino superior reformar suas estruturas de ensino?

No antigo sistema tínhamos tempos de estudo extremamente longos. Quando estudei, o normal era cursar cerca de dez anos. O sistema antigo oferecia muita liberdade, algo incompatível tanto com as exigências do mercado de trabalho quanto com os interesses dos próprios estudantes. Assim como salas muito cheias, falta de orientação ou grandes perdas de tempo ao longo do estudo…

O antigo sistema abria espaço para muita ineficiência. Além do que, nele priorizávamos a profissão do pesquisador, do cientista. Hoje sabemos que somente uma pequena parcela dos estudantes se interessa em seguir esse caminho.

Os críticos do Processo de Bolonha afirmam que ele contribui para uma economização da educação. Qual é a sua opinião a respeito?

Este é um argumento fatal, que nós sempre ouvimos. Se economização significar ter uma idéia exata do que se quer estudar, de quais são os planos que se quer seguir e das metas que se pretende atingir, isso tudo já antes do começo dos estudos, ou seja, se economização do estudo significa pensar em qualificação para o mercado de trabalho, então eu só posso estar de acordo! Isso tem a ver com tornar o estudo mais compatível com a profissão.

Quais são os benefícios oferecidos pelo Processo de Bolonha para o estudante não-europeu, como o brasileiro?

São muitos. Os cursos de Master oferecidos na Alemanha já vêm despertando um grande interesse pelo mundo afora. Há dez anos o estudo na Alemanha oferecia uma grade curricular básica que durava entre cinco e seis anos, não sendo nada atraente para estudantes estrangeiros que queriam se especializar no país.

Modernização do ensino superior já era aguardadaFoto: picture-alliance/dpa

Através do atual sistema ficou muito mais fácil adaptar o que se estudou na terra natal com a fase de estudo na Alemanha. Outro grande problema é que mais da metade dos estudantes estrangeiros que vêm para a Alemanha acabam abandonando o curso antes de concluí-lo.

Com ajuda do novo sistema pretendemos oferecer aos estudantes estrangeiros maior atratividade, de forma que a estada na Alemanha traga maiores ganhos na aplicação dos conhecimentos adquiridos durante o estudo na hora do retorno ao país de origem. Ou seja, uma transferência de conhecimento que acontece sem a necessidade de uma longa migração ou de dificuldades de adaptação, como era muitas vezes o caso no antigo sistema.

Os novos títulos Bachelor e Master correspondem atualmente a cerca de 67% de toda a oferta de cursos de formação superior oferecidos na Alemanha. O objetivo das instituições alemãs de ensino superior de oferecer até 2010 somente esses novos títulos é realista?

Já tivemos um grande avanço. As Escolas Superiores de Ciências Aplicadas já se adaptaram em 90% ao novo sistema. Os 10% restantes serão atingidos sem maiores problemas até 2010. As universidades, porém, oferecem ainda os exames sob supervisão do Estado, por exemplo, em Medicina, Direito.

Estes cursos se mostram ainda muito resistentes à mudança para o novo sistema. Porém, se levarmos em consideração que os cursos nos quais os exames sob supervisão do Estado são obrigatórios correspondem a cerca de um terço de todos os cursos oferecidos na Alemanha, então acredito que tenhamos boas chances de atingir a cota de 70%, 80% da oferta das universidades com o novo sistema.

Quais são, até agora, as maiores dificuldades na implementação do Processo de Bolonha na Alemanha?

Primeiramente uma característica do sistema alemão de ensino superior: os exames sob supervisão do Estado. Como já dito, os cursos nos quais estes exames de conclusão são obrigatórios têm se mostrado muito mais resistentes à reforma do que havíamos pensado. Nestes cursos, a passagem para as estruturas de Bachelor e Master tem sido problemática, não somente em termos de aceitação, mas também com relação à grade curricular.

Reforma beneficia estrangeiros

Um segundo problema é que atualmente nos encontramos na segunda fase da reforma. É importante pensarmos que, se quisermos reformar os títulos de conclusão, temos que reformar também o conteúdo dos cursos. E, infelizmente, certos conceitos como "orientação para competência" e "foco no estudante" ainda não chegaram ao corpo docente. Por esta razão, estamos no início de uma reforma didática.

O estudo deve oferecer mais do que a simples transmissão de fatos. Muito mais do que isso, devemos ensinar métodos, ou seja, como o estudante pode aplicar na prática o conhecimento que adquiriu. Este ainda é um ponto de carência, no qual temos trabalhado com afinco, de forma a adaptar as grades curriculares ao mercado de trabalho.

Qual é o balanço que o senhor faz da atual situação do Processo de Bolonha na Alemanha?

Primeiramente é importante frisar que, quando o acordo para o Processo de Bolonha foi assinado em 1999, ninguém teria acreditado que nós conseguiríamos alcançar em 2010 uma estrutura de estudo compatível. Certamente há no momento uma postura crítica da opinião pública, talvez tenhamos nos focalizado demais nos atuais problemas referentes à aplicação e adaptação do Processo e de certa forma dado exagerada importância a eles.

Ainda estamos na primeira geração de estudantes vivenciando o Processo de Bolonha. Estes estudantes estão passando na prática pelos problemas derivados dessa implementação nas universidades alemãs. Esses problemas não deveriam ter ocorrido, mas ocorreram, em parte devido à falta de verbas em muitos locais, o que acabou acentuando problemas que já existiam no antigo sistema. E aí o Processo de Bolonha é responsabilizado por tudo o que acontece de errado. Temos que viver com isso.