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Estatística desmente sensação de auge do terror na Europa

Nicolas Martin (ek)30 de março de 2016

Entre os anos 1970 e 1990, grupos como RAF, ETA e Brigadas Vermelhas espalharam o terror pelo continente europeu. Terrorismo atual tem viés religioso e não se limita às fronteiras de um país.

Hanns Martin Schleyer foi sequestrado em Colônia e depois assassinado pelo grupo RAF, em 1977
Hanns Martin Schleyer foi sequestrado em Colônia e depois assassinado pelo grupo RAF, em 1977Foto: picture-alliance/dpa

Depois dos atentados em Paris e Bruxelas, o terrorismo parecem algo bem mais próximo e real para muitos europeus. Mas se trata apenas de uma sensação, já que que o auge dos atentados na Europa aconteceu anos atrás.

Somente no ano de 1979 foram executados mais de 800 ataques terroristas na Europa, afirmam pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

Entre 1970 e o fim dos anos 1990, era comum que houvesse centenas de atentados todos os anos. O número de mortes anuais também costumava ultrapassar 150.

O ano passado foi particularmente sombrio – do ponto de vista europeu –, com os ataques ao jornal satírico Charlie Hebdo e os atentados de 13 de Novembro em Paris. Ao todo, 147 pessoas morreram em atos terroristas na Europa em 2015. Mas esse alto número de vítimas é uma exceção nos últimos dez anos.

O velho e o novo terrorismo

Nos anos 1970 e 1980, grupos terroristas como o Exército Republicano Irlandês (IRA), o grupo nacionalista basco ETA, na Espanha, as Brigadas Vermelhas, na Itália, a Fração do Exército Vermelho (RAF), na Alemanha, além de outras células terroristas não europeias, desafiaram os governos da Europa.

"Quase todos os países, nesse período, tiverem seu próprio terrorismo", afirma Rolf Tophoven, diretor do Instituto de Prevenção de Crises (IFTUS, na sigla em alemão), em Essen, no oeste da Alemanha.

Há mais de 30 anos que Tophoven estuda as correntes terroristas internacionais. Segundo ele, a diferença para os dias de hoje é clara: o terrorismo dos anos 1970 e 1980 tinha motivações políticas. "As organizações terroristas estavam fixadas em certos países. Não eram fenômenos terroristas que cruzassem fronteiras", diz o especialista.

Hoje, o terrorismo praticado por organizações como o chamado "Estado Islâmico" (EI) e a Al Qaeda tem um viés religioso. "Hoje é mais comum um terrorismo motivado pela religião. Os terroristas abusam do nome do islã e apostam num grande efeito de choque após um ataque", explica Tophoven.

Novos grupos, novos objetivos

"Os terroristas querem muitos espectadores, e não muitos mortos", diz uma citação, datada de 1975, do pesquisador americano Brian Jenkins, especializado em terrorismo.

Há, porém, casos que não se encaixam nessa regra, como o ataque à estação ferroviária central de Bolonha, na Itália, que deixou 85 mortos em 1980, ou o atentado a bomba a um avião americano sobre a cidade escocesa de Lockerbie, que matou 270 mortos em 1988.

No início dos anos 1970, políticos e industriais eram os principais alvos dos terroristas – como foi o caso do empresário alemão Hanns Martin Schleyer, sequestrado e depois assassinado pelo grupo de extrema esquerda RAF.

O massacre de Bolonha, na Itália, deixou dezenas de mortos em 1980Foto: picture alliance/dpa

Isso mudou completamente. "Hoje há bombas e tiros. A filosofia do terrorismo mira a contagem de corpos. Eles querem matar e ferir o maior número possível de pessoas", diz Tophoven.

Negociações com o governo também são coisa do passado – como aconteceu com o sequestro de uma aeronave comercial da Lufthansa, em 1977.

Ataques brutais chamam mais atenção

De acordo com os dados da Universidade de Maryland, o número de ataques terroristas na Europa vem caindo desde 1979. Mas isso não significa que haja menos vítimas. Em 2004, por exemplo, 191 pessoas morreram nos atentados a trens regionais em Madri, na Espanha, de responsabilidade de terroristas islâmicos.

Um pouco mais de um ano depois, homens-bomba explodiram o metrô de Londres, na Inglaterra, deixando 56 mortos e mais de 700 pessoas feridas.

Após dez anos relativamente calmos, o terrorismo está de volta à Europa – na percepção de muitos, talvez mais forte do que nunca. "Nos anos 1970 e 1980 não havia essa liberdade digital que temos hoje", afirma Tophoven. "O terrorismo atual invade ainda mais profundamente a consciência e a mente das pessoas porque todos podem estar nas redes sociais."

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Além disso, há outro fator que amedronta a população: o terrorismo dos anos 1970 e 1980 selecionava suas vítimas. Hoje qualquer um pode ser uma vítima. "A frase que fala sobre estar na hora errada no lugar errado infelizmente voltou a fazer sentido", diz o especialista.

Mesmo que atentados tenham sido mais frequentes no passado, Tophoven diz que não há exagero em ver a atual ameaça à Europa como elevada. "Os recentes ataques fazem acreditar que a Europa está cada vez mais na mira", explica.

Ainda assim, em termos internacionais, a Europa tem sido relativamente poupada. O número de atos terroristas no mundo aumentou significativamente entre os anos 2001 e 2014 – na contramão da tendência no continente europeu. Segundo os dados de Maryland, apenas 0,3% dos ataques realizados mundo nos últimos 14 anos ocorreram na Europa.

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