Há muito que não se via tão pouca água correr no Elba e em outros rios do país. Como resultado, há o perigo de que munição da Segunda Guerra Mundial possa explodir a qualquer momento.
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O perigo está adormecido nos leitos de rios secos e nas águas rasas: velhas granadas, minas, explosivos de todos os tipos. "Houve de fato até aqui 22 achados. Mas o material só se tornou visível nas últimas semanas", afirma Grit Merker, porta-voz do Departamento de Polícia Técnica da Saxônia-Anhalt (TPA).
E esses são apenas os números referentes ao estado da Saxônia-Anhalt, que também é cortado pelo Elba. Remanescentes, especialmente da Segunda Guerra Mundial, que se tornam agora visíveis devido à estiagem dos últimos meses, que levou a níveis extremamente baixos do rio.
No Elba, a situação é particularmente severa. Nos últimos dias, o nível da água caiu para apenas 47 centímetros. Os navios estão encalhados nas margens, na terra seca. Há muito que o transporte fluvial já não é mais possível no rio que nasce na República Tcheca e atravessa a Alemanha até o Mar do Norte. Devido aos níveis baixos recordes, avistar munição antiga está se tornando cada vez mais comum.
Na Saxônia-Anhalt, explica Merker, até mesmo uma granada de fósforo altamente perigosa foi achada. No último fim de semana, em Fischbeck, no município de Stendal, foram explodidas duas minas antitanques de forma controlada no local, já que não puderam mais ser transportadas. "Para nós, esse trabalho é normal", diz Grit Merker sobriamente.
De acordo com a porta-voz, normalmente, os achados são relatados por "cidadãos comuns que observaram algo incomum" e então, geralmente, a polícia é notificada. Os policiais vistoriam o artefato e decidem se o Serviço de Desmonte de Munições deve ser acionado ou não, afirma Grit Merker. Em seguida, decide-se a munição ainda é "transportável" ou não. Numa emergência, assim como em Fischbeck, tem que se explodir ali mesmo.
Felizmente, não houve feridos ou acidentes com munições da Segunda Guerra Mundial durante esta estiagem. Mas Wibke Sperling, do Departamento Administrativo da Polícia na Saxônia, afirma que fica de orelha em pé ao ver fotos no jornal, como em outro dia.
"Nas margens do rio, alguém pousava triunfante com um pedaço de metal na mão. Nunca se deve tocar, de forma alguma, em algum desses objetos", diz ela.
A capital da Saxônia é Dresden. A cidade foi bombardeada pelos britânicos e americanos em fevereiro de 1945. É provável que munições mais perigosas sejam encontradas no leito do rio nos próximos dias.
"Os artefatos já se encontram há mais de 70 anos embaixo d'água. E não se sabe o que veio à tona", conta Sperling.
Ou seja, o alerta não foi suspenso. De qualquer forma, o nível do Elba aumentou ligeiramente em Dresden. Do nível mínimo recorde de 46 centímetros para atuais 54 centímetros. E é possível que, em breve, munição desconhecida da Segunda Guerra Mundial volte a desaparecer sob as mesmas águas do rio que corta a capital da Saxônia – até a próxima estiagem.
Mais de 70 anos após o conflito mundial, estima-se que milhares de explosivos continuem escondidos em solo alemão. Todos os anos, peritos desarmam cerca de 5 mil bombas, além de toneladas de outras munições.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Bockwoldt
Caos no coração de Berlim
Uma bomba da Segunda Guerra Mundial provocou caos na movimentada região em torno da estação central de Berlim em 20 de abril de 2018. O artefato de 500 quilos foi encontrado por trabalhadores de uma construção na área. Cerca de dez mil pessoas tiveram que deixar suas casas. A estação ferroviária e partes do centro da cidade foram bloqueadas e evacuadas.
Foto: picture-alliance/dpa/Polizei Berlin
Megaoperação em Frankfurt
A maior operação para o desarmamento de uma bomba da Segunda Guerra Mundial na Alemanha ocorreu em Frankfurt. Mais de 60 mil pessoas – cerca de 8% da população da cidade – foram obrigadas a deixar suas casas em 3 de setembro de 2017. Muitos aproveitaram o tempo em museus ou foram ao centro de exposições da cidade, onde comida e sofás foram disponibilizados.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Arnold
Outras grandes cidades
Em maio de 2017, cerca de 50 mil pessoas tiveram que deixar suas casas em Hannover para que especialistas desativassem ao menos cinco bombas encontradas numa obra. Dois meses antes, em Düsseldorf (foto), a descoberta de um artefato de 500 quilos levou à retirada de 8 mil moradores.
Foto: picture alliance/dpa/R.Weihrauch
Uma bomba no Natal
Em 2016, especialistas em Augsburg, no sul da Alemanha, precisaram agir em pleno Natal para desarmar uma bomba de quase duas toneladas. Após 12 horas de muito trabalho, o artefato foi neutralizado, e as cerca de 54 mil pessoas retiradas de suas residências puderam retornar.
Foto: picture alliance/dpa/S. Puchner
Em último caso, explodir
Em agosto de 2012, uma bomba aérea americana da Segunda Guerra precisou ser detonada em Munique, após falharem as tentativas de desativar o artefato de 250 quilos. As ondas de choque causadas pela explosão assistida destruíram fachadas e quebraram janelas. O mesmo ocorreu em 2017 em Oranienburg, no estado de Brandemburgo, que possui a maior concentração de bombas enterradas em solo alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Trabalho arriscado
Em meados de 2010, no meio do processo de desarmar uma bomba em Göttingen, na Baixa Saxônia, o artefato acabou explodindo acidentalmente. Três especialistas morreram, e várias pessoas ficaram feridas. Anos antes, a detonação acidental de uma bomba aérea também deixou mortos na pequena cidade de Wetzlar. Apesar de raros, incidentes desse tipo já mataram 11 peritos desde 2000.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Decker
Munição no fundo do mar
Artefatos explosivos da Segunda Guerra, como bombas e granadas, estão também no Mar Báltico, no Mar do Norte e em águas continentais da Alemanha. Estima-se que 1,5 milhão de toneladas dessas munições sigam debaixo d'água. Muitas foram despejadas pelos próprios alemães durante a guerra para que não caíssem nas mãos dos Aliados; outras foram jogadas no mar a mando das forças vitoriosas.
Alvo de muitos ataques aéreos durante a Segunda Guerra Mundial, Koblenz viu várias bombas serem desarmadas ao longo dos últimos anos. Os residentes da cidade precisaram deixar suas casas em 1999, 2011 e 2015 para que peritos pudessem fazer seu trabalho. Em dezembro de 2011, a desativação e detonação de uma série de artefatos no rio Reno levou à retirada de 45 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa/F. von Erichsen
Grande evacuação em Ludwigshafen
Em 1997, uma mina aérea britânica de quatro toneladas foi encontrada na cidade de Ludwigshafen, ao sul de Frankfurt. A desativação do explosivo levou à maior evacuação da história pós-guerra até aquela época: 26 mil pessoas tiveram que deixar suas casas.