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Estrangeiros cobrem falta de clérigos alemães

ss / gh2 de janeiro de 2005

Alemanha está passando de fornecedora de missionários para terra de missão. Igrejas buscam padres e pastores no exterior para prestar serviços religiosos no país.

Em muitas paróquias, a bênção é dada por estrangeirosFoto: dpa

O sermão e a bênção nas missas e cultos, não só nas Festas do fim de ano, têm sotaque polonês, africano ou indiano em muitas cidades alemãs. Tanto a Igreja Católica quanto a Luterana da Alemanha contam com a ajuda de um grande número de padres e pastores, principalmente, do Leste Europeu, da Índia e África para prestar regularmente seus serviços religiosos.

A Igreja Católica, às voltas com a falta de padres e seminaristas e o aumento do número de clérigos aposentados, usa com maior freqüência esse recurso. Dados divulgados em 2001 pela revista Der Spiegel já indicavam que dos 12.751 padres ativos na Alemanha, cerca de 1400 vinham do exterior.

Na época, o presidente da Conferência dos Bispos Alemães (CBA), cardeal Karl Lehmann, alertou o papa de que, em quantidade, o clero alemão chegara ao fundo do poço. O problema persiste, como demonstram alguns números esparsos, pesquisados nas páginas de internet dos bispados:

  • Na Renânia do Norte atuam padres estrangeiros nos bispados de Essen (15), Münster (46), Aachen (20), Paderdorn (34) e no arcebispado de Colônia (41). Inlcuindo outras atividades de atendimento espiritual, Colônia conta com quase 100 religiosos de 16 nações.
  • Na diocese de Rottemburg-Stuttgart, 160 dos 812 padres são estrangeiros.
  • Cerca de 200 estrangeiros ofereceram seus serviços ao arcebispado de Freiburg, que só abriu 18 vagas nas férias deste ano. Outras 150 vagas são ocupadas há anos por padres de vindos de outros países.
  • O bispado de Eichstätt, na Baviera, um dos menores da Alemanha, conta com 15 padres da Polônia, além de religiosos de Roma, da Índia, Bélgica, República Tcheca, Croácia e Senegal. Alguns deles substituem seus colegas alemães apenas nas férias. Ao mesmo tempo, Eichstätt orgulha-se de ter cerca de 100 missionários espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil.
Foto: AP

Segundo Reinhard Kürzinger, vigário da catedral de Eichstätt, isso não é uma contradição, porque os missionários ajudam a recrutar clérigos para a Alemanha. "Há muitas paróquias, principalmente em áreas rurais, que não teriam missa dominical sem os padres estrangeiros", diz. Desde 1997, a diocese de Eichstätt tem um programa de treinamento para os padres que vêm do exterior, "muitos deles de países em que a Alemanha realiza trabalhos missionários".

Há indícios de que a Alemanha também precisa de missões. A Igreja Católica, com 26 milhões de fiéis, ordenou 130 padres em 2003, um a menos que no ano anterior. O número dos que vestem a batina no país caiu 20% desde 1990.

Entre os 26 milhões de evangélicos luteranos, também há os que são assitisdos por pastores estrangeiros, mas não há estatísticas atuais nem um programa para estimular sua vinda ao país, diz Christof Vetter, porta-voz da Igreja Luterana Alemã. Nos últimos 20 anos, o número de teólogos evangélicos candidatos a pastor ou pastora diminuiu de 12 mil para 2,7 mil.

Reconhecendo a crescente necessidade de mão-de-obra estrangeira, Kürzinger elaborou um manual para ajudar as dioceses católicas a encontrar padres no exterior. Na maioria dos casos, os estrangeiros não atuam sozinhos e, sim, numa equipe pastoral, permacendo na Alemanha por um período de cinco a sete anos.

Não basta falar alemão

Um dos principais problemas é o idioma. Não basta falar o alemão para entender e ser entendido pelos paroquianos. Os dialetos locais e regionais podem ser indecifráveis, mesmo quando se domina o alemão ensinado na escola.

"Meu alemão é bom. Falo sem tropeçar nas palavras, mas preciso melhorar minha gramática", diz o padre Thomas George Pattarumadathil, da Índia, que recebeu cursos de língua da diocese de Eichstätt para os três anos de trabalho em Spalt, perto de Nurembergue. "O pessoal aqui é paciente e realmente me deixa à vontade", diz.

"Os padres estrangeiros são bem-vindos para ajudar no trabalho pastoral. Mas não é fácil para eles, principalmente quando a igreja e a estrutura comunitária diferem muito da experiência que tiverem em seus países de origem", diz Stefanie Uphues, porta-voz da CBA. "Na essência, a liturgia é a mesma, mas a cultura e as tradições são bem diferentes da Índia", afirma Pattarumadathil.

Comunidades de imigrantes

Ao centro,cardeal Lehmann, presidente da Conferência dos Bispos AlemãesFoto: AP

Cerca de 540 padres vindos de outros continentes podem rezar missas em suas línguas maternas. Eles atendem 1,8 milhão de estrangeiros católicos que vivem e pagam impostos na Alemanha.

Aproximadamente 250 mil estrangeiros são filiados à Igreja Luterana alemã. Eles podem optar entre pertencer à comunidade alemã em que residem ou a uma paróquia cujo pastor vem, por exemplo, da Coréia, Holanda, Finlândia, China ou Grécia. As paróquias de língua estrangeira se autofinanciam como associações. Já os 230 mil gregos ortodoxos na Alemanha são atendidos diretamente por religiosos cujo superior reside em Atenas.

O cardeal Lehmann, porém, não acredita que um "green card religioso" resolva o problema da carência de padres na Alemanha. Em carta dirigida ao papa João Paulo II, ele reconhece que a Igreja universal pode ajudar a resolver o problema, mas ressalta: "Estamos convictos de que a ajuda dos clérigos estrangeiros que, apesar da boa vontade e da unidade da Igreja, têm dificuldades de entender nossa situação concreta, não é uma solução duradoura".

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