1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
HistóriaAlemanha

Estrangeiros para compensar falta de mão de obra na RDA

Publicado 9 de novembro de 2009Última atualização 9 de novembro de 2009

No final de 1960, milhares de estrangeiros migraram para a então Alemanha Oriental com empregos garantidos. Mais tarde, com a queda do Muro e o fim da RDA, eles perderam seus empregos, suas casas e a segurança.

Polnischer Bauarbeiter in Leipzig
Foto: picture alliance/ZB

Devido à necessidade de mão de obra, a República Democrática Alemã (RDA), o então Estado alemão sob regime comunista, contratou no final dos anos 1960 trabalhadores no exterior. Inicialmente, eles vieram dos "países irmãos socialistas", como a Polônia e a Hungria e, a partir de 1974, a mão de obra passou vir também do Vietnã, Moçambique, Angola e Cuba.

Tamara Hentschel, moradora do bairro Marzahn, localizado no leste de Berlim, trabalhou em um lar que abrigava estes imigrantes, também conhecidos como "trabalhadores contratuais" (Vertragsarbeiter). Segundo ela, quase 100 mil trabalhadores contratados viviam da RDA, sendo que 60 mil provinham do Vietnã.

Pouca gente, muito trabalho

As estatísticas de 1989 da RDA em relação aos imigrantes que trabalhavam no país eram diligentes. Ao todo, desde sua chegada nos anos 1970, eles produziram 30 mil automóveis, 60 mil máquinas de lavar e 5 milhões de sapatos. Além da indústria, eles trabalhavam em matadouros, oficinas químicas, na construção civil – serviços para os quais faltava mão de obra na antiga Alemanha Oriental.

Depois da Segunda Guerra Mundial, milhares de trabalhadores haviam partido para o oeste da Alemanha, de regime democrático, por razões políticas e econômicas. Além disso, os métodos de produção da RDA ainda contavam com máquinas antiquadas, que exigiam vários operários para o seu manuseio.

Porém, a antiga Alemanha Oriental não queria admitir a falta de pessoas aptas para trabalhar e, portanto, raramente reconhecia publicamente o fato. Nem mesmo os cidadãos alemães-orientais eram informados sobre a chegada dos imigrantes a seus bairros ou localidades.

Hentschel conta que ninguém sabia exatamente de onde aqueles imigrantes vinham e tampouco por que estavam ali. "Eu mesma fiquei totalmente surpresa. Cheguei a uma loja e todas as pessoas ali eram negras. […] Logo pensei: 'ah não, isso deve ser uma delegação'", lembra.

Péssimas condições

Uma exposição realizada em Berlim permitiu uma visão sobre como eles viviam. Rapidamente percebe-se que a qualidade de vida desses trabalhadores contratados era péssima comparada à dos alemães, pois eles ganhavam menos do que os seus colegas alemães. A maioria dos imigrantes vivia "com nove pessoas em um apartamento, em um quarto com três pessoas, com uma cozinha na passagem entre os quartos, três bocas de fogão, que estavam constantemente quebradas, e uma banheira", relata Hentschel.

Além das péssimas condições de moradia, os trabalhadores contratuais eram vigiados pelas autoridades alemãs-orientais. No papel de assistente no lar para imigrantes, a própria Hentschel tinha de controlar os estrangeiros, tarefa a qual ela considerava "uma tutela inacreditável" e uma experiência "muito negativa".

A assistente tinha de observar se eles estavam doentes, se as mulheres estavam grávidas, se recebiam visitas e se as escondiam no apartamento e controlar a correspondência, anotando os remetentes e destinatários de cartas que provinham de países capitalistas.

O valor do dinheiro na RDA

Para os trabalhadores contratuais, o trabalho na RDA era vantajoso, apesar da baixa qualidade de vida. Mesmo quando tinham de mandar parte do seu salário para o governo de seu país de origem, eles conseguiam sustentar as famílias com o que sobrava. A maior dificuldade era, na verdade, juntar dinheiro com a moeda da antiga Alemanha Oriental, pois, comparado com a de outros países, seu valor era muito baixo.

Trabalhador em siderúrgica de Brandemburgo veio de CubaFoto: picture-alliance/ ZB

Por isso, os estrangeiros deviam investir o dinheiro ganho na RDA em mercadorias. Ging Wuu Son, vietnamita que em 1987 migrou para Berlim, lembra que, como a oferta de produtos era pequena, eles compravam bicicletas ou açúcar e mandavam para o Vietnã, onde seus pais vendiam os produtos e viviam do dinheiro. "Naquela época, não havia nada no Vietnã. Em 1976, podia-se trocar uma bicicleta por um terreno em Hanói", conta.

A Queda do Muro

A queda do Muro, em 1989, marcou o início a uma época de incertezas para os trabalhadores estrangeiros, pois o país com o qual eles haviam assinado contrato estava em decadência. Os imigrantes, que vieram com expectativas de uma vida melhor, perderam seus empregos, suas casas e sua segurança.

Este foi um dos motivos pelo qual Hentschel e outros defensores dos direitos civis começaram a lutar pelos direitos dos trabalhadores contratuais. Hentschel e sua equipe viajavam por cidades da antiga Alemanha Oriental, como Rostock e Suhl, para informar e aconselhar as pessoas. Segundo Hentschel, inicialmente as dúvidas mais frequentes eram relacionadas à conversão de moeda. Depois, passaram a se concentrar em questões de visto e de permanência na Alemanha.

A maioria dos vietnamitas que imigrou para a Alemanha voltou para o seu país no ano seguinte da queda do Muro, com uma indenização do governo alemão, porém cerca de 15 mil vietnamitas permaneceram na Alemanha e, em 1997, adquiriram visto permanente para viver no país.