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Estrelas da literatura mundial se unem contra vigilância digital

Döing Laura (ca)12 de dezembro de 2013

Mais de 500 escritores, como Günter Grass, Umberto Eco e João Ubaldo, fazem abaixo-assinado exigindo que cidadãos possam decidir se querem ter dados armazenados. Iniciativa, porém, ainda não teve grande repercussão.

Foto: picture-alliance/dpa

Eles exigem que todos os cidadãos tenham o direito de decidir em que dimensão seus dados pessoais podem ser coletados, armazenados e processados. O grupo internacional de autores Writers Against Mass Surveillance (Escritores contra a vigilância em massa) vê a "inviolabilidade do indivíduo" e, dessa forma, a democracia, ameaçada pelo monitoramento por parte de "Estados e empresas".

Mais de 500 escritores de várias partes do mundo estão entre os signatários da petição. Na lista estão ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura – como Günter Grass, Orhan Pamuk, Elfriede Jelinek, Tomas Tranströmer e J.M. Coetzee – e outros autores igualmente renomados – como Umberto Eco, T.C. Boyle, Javier Marias, Henning Mankell e Liao Yiwu.

Entre os escritores brasileiros signatários, estão João Paulo Cuenca, João Ubaldo Ribeiro, Luiz Ruffato, Marcelo Backes, Marçal Aquino, Bernardo Carvalho, Paulo Scott e Rafael Cardoso. Preparado em sigilo, o apelo se dirige tanto às Nações Unidas quanto aos governos.

A iniciativa teve repercussões diferentes em cada país. No Brasil, foi noticiada, porém sem grande debate. O escritor búlgaro Georgi Gospodinov, por exemplo, disse estar decepcionado com as poucas reações geradas pelo documento em seu país. Ali nenhum meio de comunicação impresso chegou a mencionar o apelo.

Governo alemão silencia

O governo alemão não quis emitir opinião sobre as exigências dos autores. A assessoria de imprensa do governo em Berlim justificou que não se reage a apelos públicos e que a prática é normal – não importa o tema. Apesar disso, a escritora alemã Juli Zeh, uma das iniciadoras da ação, cobra respostas. Já em setembro, ele entregou à chanceler federal alemã, Angela Merkel, por volta de 67 mil assinaturas de cidadãos, que pediam em petição um esclarecimento razoável do caso NSA. Ela ainda não obteve resposta.

As respostas dadas ao apelo global, como a do presidente do Partido Social-Democrata (SPD) alemão, Sigmar Gabriel, não foram bem recebidas pela opinião pública. Em sua página no Facebook, ele elogiou a "maravilhosa e surpreendente" iniciativa, mas ignorou, no entanto, o fato de que, numa possível grande coalizão de governo junto à União Democrata Cristã (CDU), seu partido anunciou querer armazenar dados de internet e telefone de todos os cidadãos.

O Nobel de Literatura Günter Grass, um dos signatários da iniciativaFoto: picture-alliance/dpa

O apelo mundial é único: nunca tantos autores estiveram em consenso. Apesar da falta de resposta por parte do governo alemão, Josef Haslinger, um dos iniciadores da ação e presidente do PEN Clube da Alemanha, se disse satisfeito com a iniciativa.

Para Haslinger, os autores se engajaram por algo que há muito deveria ter sido feito. O apelo foi propositalmente mantido em aberto, ou seja, não se dirigiu a um determinado governo. Dessa forma, a petição pôde ser assinada pelo maior número possível de autores, provenientes de diferentes países.

Até agora, cerca de 89 mil pessoas assinaram a petição online. E era justamente isso que o grupo queria alcançar: sensibilizar a opinião pública. O PEN Internacional também pretende levar a iniciativa às Nações Unidas. Ainda não se sabe como e quando. Para Juli Zeh, a divulgação do apelo foi só uma primeira etapa: "Os próximos passos deverão ser dados pelos próprios cidadãos."

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