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CatástrofeTurquia

Estruturas fracas e tremor raso causaram mortes em terremoto

Clare Roth
9 de fevereiro de 2023

Instabilidade de edifícios antigos foi responsável por grande parte dos destroços no terremoto que atingiu Turquia e Síria. Porém o abalo sísmico foi excepcionalmente forte para sua magnitude.

Uma imagem aérea mostra membros de equipes de resgate em meio a escombros por toda a parte.
Residentes do lugarejo de Besnia, perto de Harim, na Síria, buscam por sobreviventesFoto: OMAR HAJ KADOUR/AFP

O terremoto de magnitude 7,8 e as réplicas que atingiram a região próxima da fronteira entre Turquia e Síria na segunda-feira (06/02) causaram imensos danos em toda a área, destruindo edifícios de vários andares e deixando, até o momento, mais de 20 mil mortos.

Terremotos de magnitudes semelhantes tiveram um número muito menor de vítimas. Por exemplo, os ocorridos no Chile em 2014 e 2015, com magnitudes de 8,2 e 8,3, respectivamente, que não excederam as 15 mortes. Então quais seriam as razões para a destruição em massa, no caso atual?

Prédios antigos não projetados para terremotos

Vídeos registrados em cidades próximas ao epicentro do terremoto capturaram uma forma de colapso devastador denominada "efeito panqueca", ou seja, quando um edifício inteiro desmorona com os andares desabando uns sobre os outros em sequência, achatando toda a estrutura. Nesses casos, as chances de sobrevivência são pequenas.

Os edifícios que sofreram esse tipo de destruição são provavelmente antigos, de projetos do tipo "soft story" (andares fracos), explica Mehdi Kashani, professor adjunto de engenharia estrutural e de terremotos da Universidade de Southampton, no Reino Unido.

Um prédio com design "soft story" tem pisos com janelas, portas largas e outras aberturas, em locais onde uma parede sólida seria melhor para resistir a um terremoto. Quando um desses andares está localizado na parte inferior, toda a estrutura pode desabar com dele.

Embora alguns edifícios em áreas propensas a terremotos ao longo da fronteira entre Turquia e Síria sejam atualmente construídos para resistir a tremores, vários outros foram construídos antes da adoção da construção antissísmica.

"Os princípios básicos começaram a ser desenvolvidos nos anos 1960 e 70, portanto, não são tão antigos assim. O terremoto de Kobe [no Japão], em 1995, foi um enorme ponto de mudança para muitas coisas que deram errado na ocasião, e resultou em mais pesquisas. Assim, basicamente, o final dos anos 90, início de 2000, foi quando muitos desses códigos [sísmicos] começaram a mudar."

Códigos sísmicos são regulamentos que orientam como construir em áreas próximas a falhas sísmicas. Os edifícios não construídos conforme o projeto sísmico estavam muito vulneráveis no terremoto de segunda-feira.

Por outro lado, Kashani lembra que edifícios mais antigos podem ser adaptados para resistir melhor a terremotos – o que aconteceu no Japão e no Chile, por exemplo, onde onde tremores são frequentes. Entretanto isso requer dinheiro e vontade política, e, portanto, não ocorre em todos os lugares onde deveria, ressalva.

População se protege do frio e descansa perto de escombros, em meio aos trabalhos de resgate na TurquiaFoto: Bulent Kilic/AFP

Tremor foi pouco profundo

Os danos, porém, não se devem apenas à forma de construção dos edifícios. A força do terremoto foi impiedosa. Segundo Kashani, o tremor foi pouco profundo, portanto o choque causado pela colisão da placa tectônica ocorreu perto da superfície, tornando o impacto no solo muito mais forte do que se o choque tivesse ocorrido mais fundo e, assim, demorado mais tempo para chegar à superfície.

O professor compara o efeito ao de uma onda no oceano: ondas especialmente grandes derrubarão de imediato um surfista da prancha. Uma vez que tenham avançado pelo mar, porém, elas terão pouco impacto até mesmo sobre os surfistas mais novatos.

A profundidade dos terremotos também ajuda a explicar por que alguns terremotos de magnitude relativamente baixa causam mais destruição do que outros. Kashani menciona o de Bam, no Irã, em 2003: apesar da magnitude 6,3 – a qual, em outras circunstâncias, resultaria em poucas ou nenhuma morte –, esse tremor pouco profundo fez mais de 25 mil vítimas.

Estrutura é mais importante do que materiais

Os materiais não são o elemento mais importante para a capacidade de um edifício de resistir a um terremoto, segundo Kashani, mas sim sua estrutura. Com o projeto correto, o concreto pode fornecer uma ótima fundação antissísmica. Entretanto, se mal estruturado, um edifício de concreto pode desmoronar, como muitos captados em vídeo na Turquia e na Síria.

Atualmente, projetos antissísmicos permitem que edifícios resistam a tremores muito fortes sem desmoronar ou desabar, o que protege quem esteja próximo. Ainda assim, os prédios podem sofrer alguns danos.

Segundo Kashani, isso provavelmente melhorará nos próximos anos. Nos meses seguintes pesquisadores viajarão para a área do terremoto na Turquia e na Síria para estudar os edifícios, buscando entender quais características permitiram a alguns prédios permanecerm de pé.

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