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Estudo associa uso da hidroxicloroquina a maior mortalidade

17 de abril de 2021

Publicada na "Nature", metanálise examinou 28 ensaios clínicos com mais de 10 mil pacientes. Enquanto o uso da hidroxicloroquina resultou em mortalidade maior, cloroquina não apresentou benefícios contra doença.

Tabletes de remédio
Foto: Getty Images/AFP/G. Julien

Uma metanálise assinada por quase 100 cientistas e publicada na revista Nature concluiu que a hidroxicloroquina está associada a uma maior mortalidade de pacientes com covid-19, e que a cloroquina não apresentou nenhum benefício contra a doença causada pelo coronavírus.

A pesquisa, divulgada na quinta-feira (15/04), analisou de forma colaborativa 28 estudos publicados ou não, dos quais participaram mais de 10 mil pacientes com covid-19.

Os cientistas afirmam que a metanálise visa fornecer informações úteis para uma "situação desafiadora". "Centenas de milhares de pacientes receberam hidroxicloroquina e cloroquina fora de ensaios clínicos, sem evidências de seus efeitos benéficos", diz o estudo.

"O interesse público é sem precedentes, com evidências iniciais fracas que defendem os méritos da hidroxicloroquina sendo amplamente discutidas em algumas mídias e redes sociais, apesar dos resultados desfavoráveis por um grande estudo clínico randomizado controlado."

O estudo então reitera: "Nós descobrimos que o tratamento com hidroxicloroquina é associado com um aumento da mortalidade de pacientes com covid-19, e não há benefício da cloroquina".

Segundo os pesquisadores, a maioria dos 28 ensaios clínicos analisados não incluiu idosos ou pessoas com comorbidades, que possuem maior risco de apresentar reações adversas com o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina. Os autores afirmam que a ausência de estudos envolvendo esses grupos mostra como a ciência foi relutante em expô-los ao risco.

Em relação à hidroxicloroquina, o estudo afirma que as evidências se encontram principalmente no estudo Recovery, um grande ensaio clínico da Universidade de Oxford cujo objetivo é identificar tratamentos que podem ser benéficos a pacientes internados com covid-19.

"[O Recovery] indicou nenhum benefício à mortalidade para pacientes com covid-19 tratados [com o medicamento], junto a uma hospitalização mais demorada e um maior risco de progressão para a ventilação mecânica invasiva e/ou morte", afirma o texto.

Semelhante ao Recovery, o estudo Solidarity, da Organização Mundial da Saúde (OMS), também indicou que não há benefício na mortalidade com o uso da hidroxicloroquina.

A cloroquina no Brasil

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro vem promovendo o uso da cloroquina no tratamento da covid-19, mesmo sem comprovação científica. A droga ineficaz foi por muito tempo a principal aposta do governo para lidar com a pandemia.

Em maio de 2020 o Ministério da Saúde, já comandado pelo ex-ministro Eduardo Pazuello, publicou um protocolo de expansão do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes com covid-19.

Sob Pazuello, o Brasil recebeu 3 milhões de comprimidos de cloroquina dos Estados Unidos. Recursos do SUS foram alocados para distribuir outras doses do remédio pelo país. O Exército brasileiro chegou a produzir mais de 3 milhões de comprimidos ao longo de 2020.

Em janeiro de 2021, enquanto os hospitais de Manaus enfrentavam mais um colapso, Pazuello viajou à capital do Amazonas para lançar um aplicativo que estimulava o consumo de cloroquina e de outros itens do chamado "tratamento precoce" bolsonarista.

Batizado como TrateCov, o app recomendava altas doses de cloroquina até mesmo para bebês. Diante da má repercussão, o aplicativo foi retirado do ar. Ainda assim, a fé na cloroquina persistiu. Em fevereiro, o ministério abriu um novo edital para comprar mais doses do remédio.

Naquele mesmo mês, o Supremo Tribunal Federal autorizou que a Polícia Federal levante informações sobre os gastos do governo federal com a compra e a distribuição de cloroquina para o tratamento da covid-19. A Corte também determinou que sejam identificados os responsáveis pelo aplicativo TrateCov.

ek (ots)

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