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De barriga cheia

29 de junho de 2011

Ötzi, um exemplar humano que viveu há 5 mil anos nos Alpes tiroleses, continua fornecendo informações sobre como era a vida no Neolítico. Cientistas descobriram detalhes sobre a sua última refeição e saúde bucal.

Corpo de Ötzi foi encontrado congelado nos Alpes tiroleses em 1991
Corpo de Ötzi foi encontrado congelado nos Alpes em 1991Foto: picture alliance / dpa

A teoria mais popular sobre a causa da morte de Ötzi, o popular "homem do gelo", uma múmia encontrada congelada nos Alpes em 1991, diz que ele foi morto. Agora, cientistas afirmam que, embora ele provavelmente tenha morrido durante um ataque, pelo menos não morreu com fome.

Uma análise preliminar sobre o conteúdo do estômago de Ötzi indica que ele desfrutou de uma apetitosa última refeição, constituída de carne de íbex, uma espécie de cabra que aparentemente já habitava os Alpes tiroleses na época do homem do gelo, há mais de 5 mil anos.

O estudo foi apresentado no início deste mês durante o 7º Congresso Mundial de Estudos de Múmias, em San Diego, Estados Unidos. Na ocasião, pesquisadores também discutiram descobertas recentes sobre a saúde bucal e o DNA de Ötzi.

Ötzi fornece aos cientistas pistas sobre a vida há 5 mil anosFoto: South Tyrol Museum of Archaeology

Os dados disponíveis anteriormente sobre a refeição final do homem do gelo eram baseados em seu material fecal. Os cientistas acreditavam que o estômago estava faltando ou vazio, mas exames mais detalhados provaram o contrário. "O estômago estava completamente cheio, o que foi uma grande surpresa", declarou à Deutsche Welle Albert Zink, diretor do Instituto de Múmias e do Homem do Gelo, em Bolzano, Itália.

Zink disse que o estômago de Ötzi foi localizado numa posição inusitada, um pouco mais acima no tronco, provavelmente porque o próprio homem do gelo estava numa posição estranha: deitado de bruços sobre uma rocha.

Exames de DNA mostraram que Ötzi não comeu carne de veado antes de morrer, como antes se supunha, de acordo com uma reportagem do site da revista Science. Os restos animais encontrados em seu estômago indicaram que o homem do gelo deve ter caçado sua última refeição com mais facilidade. Segundo Zink, o íbex é menos desconfiado e se assusta menos que os veados.

Contagem regressiva

O tamanho do jantar de Ötzi pode ajudar os cientistas a determinar como foram os últimos minutos de sua vida. Uma análise dos restos encontrados no estômago sugere que o homem do gelo havia consumido a sua refeição à base de carne de íbex meia hora antes de morrer. "Ele realmente fez uma refeição farta, e isso também foi surpreendente", disse Zink à Deutsche Welle.

A amostra também revelou que Ötzi não estava com pressa, sugerindo que ele não suspeitava estar em perigo ou sendo seguido. "De alguma maneira ele se sentia seguro, uma informação importante para reconstruir seus últimos momentos", afirmou Zink.

Os resultados da amostra também podem ajudar os pesquisadores a saber como era a dieta de Ötzi. Descobertas anteriores haviam sugerido que os seres humanos daquela época comiam mais vegetais, mas as análises mais recentes mostram que Ötzi havia ingerido uma refeição mais balanceada, incluindo uma quantidade considerável de carne.

Zink afirma que pesquisas mais detalhadas podem revelar que o íbex não era o único tipo de carne consumido pelo homem do gelo, devido aos altos níveis de gordura encontrados no estômago de Ötzi. "Talvez não fosse tão diferente das nossas refeições atuais", disse.

Foto: AP

Higiene bucal precária

De acordo com os padrões atuais de higiene bucal, os dentes de Ötzi estavam longe de serem perfeitos. Especialistas descobriram que o homem do gelo tinha muitas cáries. "No geral, ficamos surpresos em ver quão ruim era a dentição", disse o Dr. Frank Rühli, do Centro de Medicina Evolutiva da Universidade de Zurique.

Imagens anteriores dos dentes não haviam dado motivos para os pesquisadores acreditarem que Ötzi tivesse um sorriso ruim. Mas os modelos 3D criados pela equipe de Rühli sugeriram que o homem do gelo poderia até mesmo ter sido atingido na boca, de acordo com a Science.

Rühli reconhece que o estado dos dentes de Ötzi é ruim, mas lembra que tudo é relativo. "Se levarmos em conta a sua idade a o período em que viveu, provavelmente seja uma dentição normal", disse à Deutsche Welle.

Exames dentários também ajudaram os pesquisadores a descobrir o que o homem do gelo comia. Rühli disse que a presença de cáries na boca de Ötzi indica uma dieta rica em carboidratos. "Se você come apenas vegetais, é outra história", observou. No entanto, os tipos de açúcares existentes no período Neolítico não eram os mesmos dos de hoje – como os contidos nos refrigerantes, por exemplo.

Questões pendentes

Rühli disse que sua equipe apresentará em breve novos dados sobre a dentição de Ötzi, afirmando haver mais para aprender a partir das condições bucais do homem do gelo. "Queremos ter evidências claras de doenças no passado, para podermos aprender mais sobre elas."

Zink, que supervisiona todas as pesquisas sobre Ötzi no Instituto de Múmias e do Homem do Gelo em Bolzano, admitiu que os estudos preliminares apresentados no congresso mundial em San Diego são apenas a ponta do iceberg. Nos próximos meses, cientistas pretendem revelar dados mais detalhados e a equipe de Zink está se preparando para uma apresentação na 2ª Conferência de Múmias de Bolzano, em outubro.

Além da vida do homem do gelo, as investigações sobre os momentos finais de Ötzi podem fornecer mais detalhes sobre seus contemporâneos. "Queremos entender o que ele comia e do que a refeição era composta para termos uma ideia geral das condições de vida dessas pessoas."

Autora: Amanda Price (lf)
Revisão: Alexandre Schossler

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