Estudo na Alemanha acha plástico em organismo de crianças
Wesley Rahn md
14 de setembro de 2019
Resíduos foram encontrados no corpo de quase todos os menores testados. Algumas das substâncias podem causar danos à saúde e ao desenvolvimento infantil. Uma delas será proibida na UE a partir do ano que vem.
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Componentes de material plástico foram encontrados em 97% das amostras de sangue e urina de 2.500 crianças entre três e 17 anos, testadas entre 2014 e 2017, de acordo com um estudo do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha e do Instituto Robert Koch, divulgado nesta sexta-feira (13/09) pela revista Der Spiegel.
Traços de 11 de 15 aditivos plásticos foram encontrados nas amostras. "Nosso estudo mostra claramente que os aditivos plásticos, que estão crescendo em produção, também estão aparecendo cada vez mais no organismo das pessoas", disse à revista Marike Kolossa-Gehring, membro da equipe que realizou o estudo.
Plásticos de produtos de limpeza, de roupas impermeáveis, de embalagens de alimentos e de utensílios de cozinha frequentemente entram em contato direto com o corpo.
Embora alguns dos produtos químicos encontrados não apresentem riscos conhecidos à saúde, os pesquisadores disseram estar particularmente preocupados com os altos níveis de ácido perfluorooctanóico (PFOA) encontrados no estudo. O PFOA é frequentemente usado em panelas antiaderentes e em roupas impermeáveis.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente alemão, a substância é perigosa para o sistema reprodutivo e é tóxico para o fígado. A UE proibirá a substância a partir de 2020.
Os subprodutos plásticos também podem interromper funções hormonais, o que pode levar à obesidade, distúrbios reprodutivos, câncer e atrasos no desenvolvimento de crianças.
Crianças menores são mais vulneráveis
Segundo a pesquisa, as crianças mais jovens foram as mais afetadas pela ingestão de plástico. O estudo também mostrou que crianças de famílias mais pobres tinham mais resíduos de plástico em seus corpos do que crianças de famílias de alta renda.
"É muito preocupante que as crianças mais novas, como o grupo mais sensível, também sejam as mais afetadas", disse Kolossa-Gehring.
"Não é possível que cada quarta criança entre três e cinco anos esteja tão sobrecarregada com produtos químicos que danos a longo prazo não possam ser descartados com segurança", disse à Der Spiegel a especialista em saúde ambiental do Partido Verde Bettina Hoffmann.
Segundo a revista, o estudo ainda não foi publicado, e os resultados foram disponibilizados pelo governo mediante solicitação de um questionamento feito pelo Partido Verde sobre os efeitos de produtos químicos na saúde pública.
Hoffmann disse que não há pesquisas suficientes sobre como substâncias químicas de plásticos afetam o organismo humano e como eles são ingeridos.
O plástico conquistou o mundo: cada vez mais embalagens, brinquedos e objetos do cotidiano são feitos com esse material, com grandes consequências para o meio ambiente e também para a saúde humana.
Foto: picture alliance/JOKER/A. Stein
Pequeno como um grão de areia
Microplásticos são pequenas partículas de plástico. Elas têm menos de cinco milímetros e são adicionadas a diversos produtos. O microplástico também é produzido pela decomposição de resíduos plásticos ou pela abrasão de pneus e de tecidos sintéticos durante a lavagem de roupas.
Foto: picture alliance/JOKER/A. Stein
Pasta de dentes com microplástico
Vários fabricantes não se importam, e muitas pessoas não sabem: os pequenos pontos azuis na pasta de dentes são bolinhas de plástico. Elas auxiliam na escovação e na limpeza. Mais tarde essas bolinhas provavelmente vão parar no mar. Os tratamentos de esgoto não conseguem filtrar o microplástico.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Sauer
Cosméticos com muito plástico
Bolinhas de plástico também estão presentes em esfoliantes ou em sabonetes líquidos. O consumidor não é informado adequadamente pelos fabricantes sobre a presença de plástico em seus cosméticos, e ambientalistas e também autoridades sanitárias reivindicam a proibição do microplástico.
Foto: picture-alliance/empics/Y. Mok
Fibras sintéticas viram microplástico
A maior parte do microplástico espalhado pelo planeta é liberado por fibras sintéticas. Cerca de 60% das roupas contêm fibras sintéticas, e a tendência ao uso desse fio barato está aumentando rapidamente. Durante a lavagem de uma jaqueta de fleece são liberados até 1 milhão de fibras. Na Europa, cerca de 30 mil toneladas de fibras sintéticas vão para o esgoto todos os anos.
Foto: Imago/Mint Images
Plástico na água potável
O microplástico não polui apenas rios e oceanos – milhões de pessoas ingerem fibras de plástico invisíveis com a água da torneira diariamente. Pesquisadores americanos investigaram mais de 150 amostras de água da torneira em países dos cinco continentes e encontraram fibras de plástico microscópicas em 83% delas.
Foto: Colourbox
Microplástico no mar
Microplásticos são lcriados a partir da abrasão de plástico. Uma parte deles vai parar no mar. A principal origem são fibras sintéticas, seguidas de pneus, poluição urbana e marcação rodoviária. A parcela de microplástico proveniente de produtos de higiene pessoal é comparativamente pequena.
Uma bomba-relógio
O lixo plástico também se transforma em microplástico: uma sacola precisa de até 20 anos, uma garrafa plástica de até 450 para se decompor. Cada habitante do planeta "precisa", em média, de 60 quilos de plástico por ano. Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental esse número ultrapassa 100 quilos. Cerca de 2% de todo o plástico produzido no mundo acaba no mar.
Foto: Getty Images/M.Clarke
Preso no plástico
A maré de plástico atinge animais e pessoas, mas ainda não se sabe exatamente como. As pesquisas ainda estão no começo. O que está claro, no entanto, é que plástico e microplástico vão parar em todos os estômagos, causando a morte por inanição de animais aquáticos. Os riscos para a saúde humana ainda são desconhecidos.
Foto: Reuters/Francis Perez/Courtesy of World Press Photo Foundation
Menos plástico?
Plástico é barato e prático para o dia a dia. Apesar disso, é crescente a discussão em todo o mundo sobre o que os políticos podem fazer: proibir sacolinhas, copos descartáveis e microplásticos em cosméticos, instituir a obrigação de reciclar ou criar um imposto sobre o plástico? Mas o melhor é cada pessoa adotar suas próprias atitudes para reduzir o consumo de plástico.