Só 8% das fotos mais difundidas no Whatsapp são verdadeiras
18 de outubro de 2018
Em meio à batalha eleitoral, levantamento analisa 50 imagens em 347 grupos do aplicativo de mensagens e considera apenas quatro como verdadeiras. Pesquisadores sugerem à empresa a redução de encaminhamento de mensagens.
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Um levantamento realizado por duas universidades brasileiras, em parceria com uma agência de checagem, em 347 grupos de Whatsapp encontrou entre as imagens mais compartilhadas apenas 8% podendo ser classificadas como verdadeiras.
O estudo dos professores Pablo Ortellado (USP), Fabrício Benvenuto (UFMG) e da agência Lupa analisou conteúdos enviados entre 16 de setembro e 7 de outubro. A amostra trouxe 347 grupos monitorados pelo projeto "Eleições sem Fake", conduzido pela UFMG.
Os resultados não podem ser generalizados, mas, segundo os pesquisadores, trazem indícios significativos para a compreensão do fenômeno das notícias falsas.
No período analisado, 18.088 usuários postaram 846.905 mensagens. Foram 107.256 imagens, 71.931 vídeos, 13.890 áudios, 562.866 mensagens de texto e 90.962 links externos.
Os pesquisadores e a agência analisaram as 50 imagens mais compartilhadas nos grupos. Em números totais, quatro foram consideradas verdadeiras (8%), entre elas uma do candidato presidencial Jair Bolsonaro (PSL) numa maca e outra do autor do atentado contra ele, Adélio Bispo de Oliveira.
Por outro lado, dez imagens eram falsas, como a montagem que mostra a ex-presidente Dilma Rousseff com Che Guevara ou a imagem que sugere que o BNDES financiou um gasoduto em Montevidéu.
Das imagens restantes, outras 16 foram consideradas verdadeiras, mas estavam acompanhadas de mensagens que aludiam a teorias da conspiração ou fora de contexto, como, por exemplo, fotografias dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, com a acusação de que ambos planejaram golpes aos bancos, e do ex-líder cubano Fidel Castro com Aécio Neves, que teria se convertido ao comunismo.
Além disso, quatro imagens foram classificadas pela agência Lupa como insustentáveis, ou seja, quando não há dados públicos que comprovam ou refutam o texto que acompanha a fotografia. Três foram consideradas sátiras e outras seis estavam associadas a textos opinativos. Quatro conteúdos não puderam ser classificados pelos pesquisadores.
Por fim, três foram consideradas exageradas: as imagens diziam respeito às hidrelétricas em Angola e Nicarágua e um aeroporto em Moçambique financiados pelo BNDES, mas os valores citados estavam acima do oficialmente divulgado pelas autoridades. Ou seja, segundo os pesquisadores, 56% das imagens compartilhadas eram enganosas.
Os autores da pesquisa divulgaram propostas em artigos e num documento enviado ao Whatsapp, aplicativo de propriedade do Facebook, no qual sugerem a redução da possibilidade de encaminhamento de mensagens para, no máximo, cinco destinatários. Atualmente, este limite é de até 20 pessoas ou grupos. Segundo Ortellado, o Whatsapp respondeu que tal medida seria inviável.
"Nós discordamos. Na Índia, após uma série de linchamentos causados por boatos difundidos no aplicativo, o Whatsapp conseguiu implementar mudanças em poucos dias. Nossa situação é bastante grave. Estamos conclamando também o Tribunal Superior Eleitoral e outras instituições com poder regulatório a agir", afirmou Ortellado.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.