Estudo sugere que Anne Frank pode não ter sido traída
17 de dezembro de 2016
Museu levanta tese de que batida que levou à descoberta do esconderijo da menina e sua família na Holanda pode não ter sido fruto de uma denúncia anônima, mas do acaso.
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A detenção de Anne Frank, menina judia alemã que se tornou um dos maiores símbolos das atrocidades do Holocausto, pode não ter sido resultado de uma traição, como contam livros, museus e filmes sobre seu período escondida dos nazistas na Holanda.
Segundo um estudo divulgado nesta sexta-feira (16/12) pelo museu Casa de Anne Frank, em Amsterdã, o anexo onde ela se escondeu com sua família e outros quatro judeus durante a Segunda Guerra teria sido alvo de uma batida policial ligada a uma investigação de fraude.
Em quatro de agosto de 1944, um ano antes do fim da guerra, todas as oito pessoas escondidas no número 263 da rua Prinsengracht foram detidas e enviadas ao campo de extermínio de Auschwitz. Só Otto, pai de Anne, sobreviveu. A menina morreu no campo de Bergen-Belsen, em 1945, aos 15 anos.
A história mais propagada é de que os agentes nazistas foram levados ao prédio após uma denúncia de uma fonte anônima de que judeus estariam escondidos ali. Mas o estudo questiona se de fato sabia-se disso antes de a batida ser ordenada.
Uma das pistas, diz o estudo, está no próprio diário de Anne Frank: no dia 10 de março de 1944, a menina escreve sobre a detenção de dois homens, a quem se refere como B e D e que negociavam cupons ilegais de comida no mesmo prédio onde ficava o esconderijo.
"Uma empresa onde dois vendedores foram detidos por negociarem cupons de comida, obviamente, cria o risco de atrair a atenção das autoridades", argumenta o estudo.
O estudo diz ainda que o caso de Anne Frank parece diferente de "casos comuns" de traição de judeus escondidos. "Por exemplo, o fato de que muitos telefones foram cortados em 1944, e o número da SD [serviço primário de inteligência nazista, para quem a denúncia teria sido feita] sequer estava nos guias telefônicos."
Isso, continua o estudo, levanta a possibilidade de que a ligação, se realmente aconteceu, chegou a partir de outra agência governamental. O museu também coloca em questão o papel dos três homens que realizaram as detenções.
"Sempre se considerou que caçar e deter judeus escondidos eram as principais atividades deles, mas fontes sobre seu trabalho indicam algo diferente", afirma o estudo. "Aparentemente, eles se ocupavam sobretudo de uma variedade de outros crimes."
O estudo termina afirmando que a possibilidade de traição não está descartada, e que não há ainda qualquer prova concreta que ligue a investigação sobre os cupons de comida com a captura da família Frank.
RPR/dpa/ap
Quem foi Anne Frank?
Jovem alemã escondeu-se na Holanda durante 25 meses, até que a família foi descoberta e deportada para Auschwitz, em 4 de agosto de 1944. Graças a seu diário, ela ainda é conhecida mundo afora.
Foto: picture-alliance/dpa
Margot, a irmã mais velha
Anne (na frente, à esquerda) tinha uma irmã três anos e meio mais velha, Margot (no fundo, à direita). O pai Otto Frank tirou esta foto no aniversário de oito anos de Margot, em fevereiro de 1934, quando a família já estava na Holanda.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Escondidos em Amsterdã
Em Amsterdã, o pai de Anne assumiu a filial da empresa Opekta (foto). Quando a perseguição aos judeus começou, ele montou um esconderijo nos fundos da casa. De 1942 a 1944, os quatro membros da família viveram no local junto com outros quatro judeus. No esconderijo, Anne escreveu seu famoso diário. Desde 1960, a casa é um museu.
Foto: Daniel Kalker/picture alliance
O esconderijo
No museu em Amsterdã, os visitantes podem visitar hoje uma réplica do antigo esconderijo nos fundos da casa. Por meses, Anne dividiu um quarto apertado com o dentista judeu Fritz Pfeffer, que no diário ganha o nome "Albert Dussel". À direita, vê-se a escrivaninha sobre a qual ela escrevia quase todos os dias.
Foto: DW/H. Mund
Diário como confidente
O diário tornou-se uma espécie de amiga e confidente de Anne, que ela batizou de Kitty. A vida no esconderijo era totalmente diferente da que a jovem levava antes dele. "O melhor de tudo é que ao menos posso escrever o que penso e sinto, senão, ficaria completamente sufocada", diz um trecho do diário.
Foto: Ade Johnson/picture alliance/dpa
Morte no campo de concentração
Em 30 de outubro de 1944, Anne e a irmã Margot foram levadas de Auschwitz para Bergen-Belsen, onde mais de 70 mil pessoas morreram. Após a libertação do campo de concentração sob a supervisão de soldados britânicos, caminhões transportaram as vítimas para valas comuns. Anne, que tinha apenas 15 anos, e a irmã estavam entre os mortos, em decorrência do tifo.
Foto: picture alliance/dpa
Vida interrompida
Em Bergen-Belsen, há uma lápide com os nomes de Margot e Anne, que imaginava que a própria vida correria de maneira diferente. "Não quero ter vivido em vão como a maioria das pessoas. Quero ser útil e trazer alegria para as pessoas que vivem à minha volta e não me conhecem. Quero continuar viva, mesmo depois da morte", diz um trecho do diário do dia 5 de abril de 1944.
Foto: Julian Stratenschulte/picture alliance/dpa
Famosa pelo diário
O sonho de Anne era ser jornalista ou escritora. Graças ao pai, seu diário foi publicado pela primeira vez em 1947, com o título "Das Hinterhaus"("A casa dos fundos"). Depois, vieram diversas edições e traduções, e Anne tornou-se símbolo das vítimas do nazismo. "Todos vivemos com o objetivo de sermos felizes. Vivemos de maneira diferente e igual ao mesmo tempo", escreveu em 6 de julho de 1944.