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Estupro coletivo no Rio gera onda de indignação

Karina Gomes27 de maio de 2016

Imagens de adolescente nua e dopada postadas por agressores nas redes sociais desencadeiam manifestações de repúdio de políticos, ativistas, artistas e da ONU. "Eu luto pelo fim da cultura do estupro" vira lema.

Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Dana

"Estado do Rio de Janeiro inaugura o novo túnel para a passagem do trem bala". Foi com a frase sarcástica que um rapaz ousou postar no Twitter uma selfie com a adolescente estuprada por 33 homens na zona oeste do Rio de Janeiro. As imagens da jovem de 16 anos sangrando, nua e desacordada chocaram o país.

A bárbarie que ocorreu no último sábado é o assunto mais comentado nas redes sociais. A hashtag #EstuproNuncaMais está entre os principais tópicos do Twitter nesta sexta-feira (27/05). Um selo para foto de perfil foi criado no Facebook com a frase "Eu luto pelo fim da cultura do estupro".

Pelo Twitter, a presidente afastada Dilma Rousseff comentou o assunto: "Mais uma vez, reafirmo meu repúdio à violência contra as mulheres. Precisamos combater, denunciar e punir este crime", escreveu.

Em nota coletiva, a ONU Mulheres se solidarizou com a vítima do Rio de Janeiro e outra adolescente estuprada por cinco homens em Bom Jesus, no Piauí.

"Além de serem mulheres jovens, tais casos bárbaros se assemelham pelo fato de que as duas adolescentes teriam sido atraídas pelos algozes em tramas premeditadas e terem sido violentamente atacadas num contexto de uso de drogas ilícitas", escreveu Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.

O órgão das Nações Unidas alerta para a necessidade de aplicação da lei que garante o atendimento obrigatório e integral a vítimas de violência sexual, com a profilaxia de gravidez e o uso de antirretrovirais. "À sociedade brasileira, a ONU Mulheres pede tolerância zero a todas as formas de violência contra as mulheres e a sua banalização."

Diversos artistas também se manifestaram nas redes sociais. Ativistas marcaram para a próxima quarta-feira (01/06) uma manifestação no Rio de Janeiro com o mote "Por todas elas".

Investigações

Em depoimento à polícia, a adolescente disse que, no último sábado, foi à casa de um homem com quem se relacionava há três anos. Ela se lembra de estarem juntos na casa dele a sós. Depois, só se recorda de ter acordado no domingo em outra casa na mesma comunidade, cercada de 33 homens armados com fuzis e pistolas, e que estava dopada e nua.

Na terça-feira, ela soube que um vídeo em que os rapazes tocam suas partes íntimas e dizem que ela foi violentada por "mais de 30", em meio a risadas, estava circulando na internet.

A adolescente, que é um mãe de um menino de três anos, admitiu que já usou drogas como ecstasy e lança-perfume, mas que não consumia os entorpecentes há um mês. No fim do depoimento, ela relata que sente dores no útero e que está profundamente abalada. Ela passou por exames no Instituto Médico Legal (IML) do Rio e recebeu atendimento hospitalar voltado a vítimas de estupro nesta quinta.

O Ministério Público do Rio de Janeiro recebeu cerca de 800 denúncias anônimas. A Polícia Civil pediu a prisão de quatro suspeitos. Dois deles teriam postado imagens da adolescente nua nas redes sociais. Outros dois, incluindo o rapaz com quem ela se relacionava, teriam praticado as agressões. Eles têm entre 18 e 41 anos de idade e a maioria tem ligação com o tráfico de drogas na região.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro exigiu rapidez na identificação dos responsáveis.

Em 2014, o Brasil registrou 47.646 casos de estupro, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo estimativas internacionais, apenas 35% dos casos são notificados.

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