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Fraca, mas explosiva

10 de agosto de 2009

Apesar de estar perdendo apoio entre a população basca, a organização separatista ETA não dá sinais de que pretenda recuar ou renunciar à violência.

Policial em praia de Maiorca, cenário de ataques da ETAFoto: AP

Durante meses ouviu-se do governo, da oposição e da imprensa na Espanha que a ETA estava no fim. Em 2008, investigadores levaram à cadeia, por quatro vezes consecutivas, líderes da organização. Comandos especiais foram descobertos antes mesmo de entrar em ação. Nem mesmo às constantes proibições de suas organizações políticas a ETA soube reagir com firmeza.

Era justamente por causa desse cenário que os investigadores temiam uma ofensiva para lembrar os 50 anos da fundação do grupo separatista. A organização vê a si mesma como o Exército do povo basco, o qual estaria em guerra contra uma suposta ocupação espanhola. Em 50 anos de existência, a ETA matou mais de 800 pessoas.

Mesmo antes dos recentes atentados em Maiorca, nada apontava para uma mudança de curso. Ao contrário: documentos internos deixavam antever um recrudescimento das ações.

Plano estratégico

Conforme documentos publicados pelo jornal espanhol El País, a ETA tem um novo plano quinquenal que deixa claro a falta de senso de realidade por parte de suas lideranças. De acordo com o texto, a ETA quer fazer uma aliança com outras forças separatistas no País Basco, incluindo partidos políticos e sindicatos. "A ETA coloca seu poder armado à disposição da nação", afirma o plano.

Quem não estiver disposto a colaborar pode se preparar para o pior. Mesmo atentados contra o Partido Nacionalista Basco (PNV), de centro-direita, não estariam mais descartados. Afinal, argumenta a ETA, o PNV também é culpado pela opressão do povo basco.

De acordo com a análise da estratégia feita pelo El País, a ETA quer estar em contato com as forças separatistas do PNV, com o intuito de intensificar as contradições internas do partido.

De fato, o PNV, maior partido basco, está em crise. Depois de 30 anos no poder, o partido está, pela primeira vez, na oposição. Seus membros se perguntam se deveriam seguir os separatistas dentro das próprias fileiras ou, em vez disso, apoiar uma espécie de patriotismo basco dentro da Espanha.

Violência perde apoio

Policial da Guarda Civil espanhola diante de uma inscrição da ETAFoto: AP

Mas até mesmo os mais acirrados defensores da independência basca estão rejeitando os métodos da ETA. Quando, nas mais recentes eleições, o Batasuna, braço político da ETA, conclamou os eleitores a anular o voto, apenas 9% seguiram o chamado. Isso é a metade do que o Batasuna costumava obter nas eleições regionais no País Basco.

O resultado da atual estratégia é claro: o projeto de independência defendido pela ETA não avançou um milímetro em 50 anos. Além disso, o Batasuna acabou sendo proibido e, pela primeira vez, está fora do Parlamento.

Perigosa e explosiva

O partido Aralar, dissidência pacifista do Batasuna, elevou o número de mandatos de um para quatro. E das fileiras do Aralar podem ser ouvidas frases que poderiam ter sido ditas pelo ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba. A juventude basca precisa saber que o caminho da ETA não leva à independência, mas à prisão e à morte, afirmou por exemplo a porta-voz do Aralar, Aintzane Ezenarro.

Mas, por mais ausente de perspectivas que seja a luta da ETA e mesmo que poucos ainda queiram seguir a organização: mesmo enfraquecida, ela ainda é perigosa e explosiva. Aos políticos espanhóis não resta outro caminho a não ser tornar a polícia mais eficiente e fortalecer as investigações. Na Espanha, ninguém iria entender se o governo se deixasse levar à mesa de negociações pelas bombas da ETA.

Autor: Hans Günter Kellner

Revisão: Simone Lopes

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