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ETA pede perdão por décadas de violência

20 de abril de 2018

Grupo separatista do País Basco, na fronteira entre Espanha e França, matou mais de 800 pessoas durante quase 40 anos de luta armada. Sua dissolução deverá ser anunciada oficialmente no início de maio.

Membros mascarados do ETA em entrevista coletiva em 2011
Membros mascarados do ETA em entrevista coletiva em 2011, quando anunciou um cessar-fogo permanenteFoto: picture-alliance/AP Photo

A organização separatista do País Basco ETA divulgou um comunicado nesta sexta-feira (20/04) pedindo desculpas pelos atos criminosos que cometeu e assumindo "responsabilidade direta" pelo "sofrimento excessivo causado à sociedade basca". O grupo promove quase quatro décadas de luta armada em nome da independência da região no norte da Espanha e sul da França.

O grupo, que deverá anunciar sua dissolução nos próximos dias, afirmou que "realmente sente" pelas vítimas. No comunicado divulgado através dos jornais bascos Gara e Berria, o ETA se diz arrependido pela dor causada a todas as pessoas inocentes afetadas por suas ações.

Leia também: Milhares exigem liberdade para separatistas na Catalunha

"Temos consciência de que neste longo período de luta armada provocamos muita dor, incluindo muitos prejuízos para os quais não há solução. Queremos mostrar respeito aos mortos, feridos e vítimas causadas pelas ações da ETA, na medida que foram atingidos pelo conflito. Nós realmente sentimos muito", afirmava o comunicado do grupo.

O ETA, que declarou um cessar-fogo permanente em 2011, disse que, "como resultado de erros ou decisões equivocadas", acabou fazendo vítimas que não tinham participação direta no conflito, tanto no País Basco como fora dele.

"Sabemos que nossa atuação prejudicou cidadãos sem responsabilidade alguma. Também causamos danos sérios, e não temos como voltar atrás", afirmouo grupo.

Os separatistas afirmam que a sociedade basca atravessou décadas de "sofrimento excessivo", com pessoas "mortas, feridas, torturadas, sequestradas ou obrigadas a ir para o exterior" e reconhece que teve "responsabilidade direta" sobre suas ações.

"Nada disso deveria ter ocorrido ou se prolongado por tanto tempo", lamentou o grupo. "O sofrimento reinou antes do ETA nascer e continua depois que o ETA abandonou a luta armada." 

Os separatista dizem compreender que muitos considerem sua atuação como "inaceitável e injusta", opinião que afirma respeitar, uma vez que "ninguém pode ser forçado a dizer o que não pensa ou sente".

Madrid diz que não fará concessões

O ETA surgiu entre 1958 e 1959, em meio à ditadura do general Francisco Franco, como uma organização socialista revolucionária de libertação nacional. Nos anos seguintes, prevaleceram o nacionalismo e a luta pela independência, muitas vezes com o uso sistemático da violência. Ao grupo são atribuídas as mortes de 856 pessoas, além de 79 sequestros.

O governo da Espanha considerou o pedido de desculpas do ETA uma consequência da força do Estado de direito, afirmado em comunicado que "o ETA deveria ter pedido perdão há muito tempo".

Maria del Mar Blanco, líder do grupo AVT, que representa as vítimas do ETA, disse que o pedido de perdão deveria ter sido estendido também aos que eram considerados alvos legítimos dos separatistas, como policiais e políticos.

"Acho vergonhoso e imoral que eles façam essa distinção entre pessoas que mereciam as balas na parte posterior da cabeça ou as bombas em seus carros e a vítimas acidentais"; afirmou.

Membros do ETA são mantidos em prisões distantes umas das outras para evitar a comunicação entre eles. O grupo espera que, após a dissolução, eles possam ser realocados para presídios mas próximos de suas famílias.

Os separatistas também esperam que seus membros detidos por ações não violentas possam receber liberdade condicional. O ministro espanhol do Interior, Juán Ignacio Zoido, alertou que nenhuma concessão será feita ao grupo, mesmo após o desmembramento.

O ETA deverá anunciar sua dissolução entre os dias 5 e 6 de maio na região basca francesa. "Ficará claro que um capítulo da história do País Basco e da Espanha será encerrado", afirmou o mediador internacional do grupo, Alberto Spektorowski.

RC/efe/lusa//afp

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